Após a notícia de que um grupo de brasileiros entrou na lista do governo israelense para retirada da faixa de Gaza, petistas e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) travaram uma disputa sobre a influência ou não do ex-presidente em relação ao resgate dos brasileiros.
De um lado, parlamentares citam uma possível contribuição de Bolsonaro no encontro com o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, na terça-feira (7), que aconteceu na Câmara dos Deputados, e destacam que o ex-presidente já vinha mantendo contato com o governo israelense para tratar da situação dos brasileiros em Gaza.
Ao conversar com a CNN Brasil, nesta quinta-feira (9), Bolsonaro disse que pediu pela liberação dos brasileiros ao assessor do primeiro-ministro israelense, Yossi Shelley. O pedido teria sido feito no início da semana.
Por outro lado, governistas acusam Bolsonaro de se aproveitar politicamente da situação e garantem que o resgate dos brasileiros é resultado das tratativas capitaneadas pelo presidente Lula (PT).
Procurado pela Gazeta do Povo, o deputado Junio Amaral (PL-MG) disse que, na sua avaliação, a atuação de Bolsonaro junto ao governo de Israel foi “fundamental” para a repatriação dos brasileiros.
“Era uma tratativa que estava acontecendo por parte do governo brasileiro há vários dias sem sucesso, e todos sabem que o presidente Bolsonaro manteve uma excelente relação diplomática com Israel”, disse o deputado.
O senador Magno Malta (PL-ES) disse à reportagem que a influência do ex-presidente é “clara”.
“O relacionamento do presidente Bolsonaro com o primeiro-ministro Netanyahu e todo o entorno do primeiro escalão do premiê de Israel ficou muito claro para o povo. Ele (Bolsonaro) nunca negou que o Hamas é um grupo terrorista e certamente fez (o pedido) com a melhor das intenções, não foi para dar mídia. Ele tem prestígio de fato”, afirmou o senador.
Pelas redes sociais, o senador Jorge Seif (PL-SC) disse que Lula falhou na relação com Israel e creditou o resgate dos brasileiros à intermediação de Bolsonaro.
“Enquanto Lula ataca Israel, dizendo que não aceitará ocupação permanente em Gaza, que romperá relações e nada faz pelos brasileiros que estão lá, Bolsonaro intercedeu junto ao embaixador e resolveu o problema”, escreveu o senador na rede social X, nesta sexta-feira (10).
Ao endossar as hashtags #ObrigadoBolsonaro e #BolsonaroNobelDaPaz em uma publicação na rede social X, o vereador de São Paulo, Fernando Holiday (PL), disse que Lula receberá os louros pela atuação do ex-presidente.
“Bolsonaro intermedia a liberação dos brasileiros em Gaza após semanas de absoluta incompetência do governo atual. E quem mesmo assim vai com a maior cara de pau recebê-los no aeroporto para fotos? Ele mesmo. O Looola”, ironizou o vereador.
“Bastou um pedido do presidente Jair Bolsonaro para os brasileiros que estavam naquele inferno voltarem seguros para as suas casas. Enquanto isso, tudo o que Lula conseguiu foi prejudicar as relações diplomáticas entre Israel e Brasil”, disse o deputado Douglas Garcia (Republicanos-SP) também em uma publicação nas redes sociais.
Como noticiou a Gazeta do Povo, os brasileiros ainda não puderam sair da zona de guerra porque a fronteira da Faixa de Gaza com o Egito foi fechada, prejudicando a travessia que estava prevista para esta sexta. O governo egípcio não informou o motivo do fechamento.
O presidente do Partido Progressistas (PP), o senador Ciro Nogueira, também relacionou a missão de repatriação à atuação de Bolsonaro junto ao governo israelense.
"Os fatos não mentem. Após semanas de bate-cabeça da 'diplomacia' do PT que atacou Israel e relativizou os atos do Hamas, apenas alguns dias depois do diálogo com o presidente Bolsonaro, os brasileiros de Gaza irão voltar para casa. O Brasil voltar é isso! Parabéns presidente", escreveu o senador nas redes sociais.
Em reação, governistas dizem que oposição propaga “fake news”
A presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, disse que Lula e a diplomacia petista atuaram “bravamente” para garantir o resgate dos brasileiros e acusou os aliados do ex-presidente de se aproveitarem da guerra para espalhar “fake news”.
“O presidente Lula com a diplomacia brasileira atuaram bravamente pro resgate dos (as) brasileiros (as) de Israel e da Faixa de Gaza. Hoje, o governo israelense assegurou ao Itamaraty que as famílias que faltam poderão estar na lista desta sexta-feira. Como não poderia deixar de ser, o bolsonarismo está aproveitando a guerra pra espalhar fake news de que o inelegível que conseguiu só porque teve aquele encontro absurdo e oportunista de ontem. Essa gente não presta”, disse Gleisi pela rede social X.
Segundo o jornal O Globo, a presidente do PT foi convidada pelo embaixador para a reunião na Câmara, mas teria ignorado o convite.
Um dia depois do encontro do embaixador com os parlamentares, Gleisi acusou Daniel Zonshine de intromissão na política interna brasileira.
A embaixada de Israel informou que Bolsonaro não foi oficialmente convidado para a reunião.
Já o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) pediu ao Itamaraty que seja avaliada e requisitada a expulsão do embaixador de Israel no Brasil por ele ter participado da reunião com Bolsonaro.
“É mentira que Bolsonaro foi o responsável pela liberação dos brasileiros em Gaza. Os responsáveis pela repatriação são o governo do presidente Lula e o esforço incansável da nossa diplomacia, sobretudo, do chanceler brasileiro, Mauro Vieira. O genocida não sabe o que é paz nem o que é salvar vidas! Não caia em fake news”, escreveu o deputado nas redes sociais.
Conhecido por admitir o uso de fake news para atacar Bolsonaro nas redes sociais, o deputado André Janones (Avante-MG) disse que o ex-presidente pode ter atrapalhado as tratativas para a libertação dos “500 brasileiros” presos em Gaza. Na verdade, o grupo que aguarda o resgate é formado por 34 brasileiros.
Ao defender a atuação de Lula no processo de repatriação, Janones também escreveu o nome do presidente errado.
“Infelizmente, a politicagem de alguém que não soube perder e segue atrapalhando o país pode ter nos atrapalhando hoje (vamos aguardar a posição oficial do estado de Israel), mas o governo brasileiro não irá medir esforços para que tudo ocorra da maneira mais célere possível. Pra não esquecermos, nosso presidente é Luís Inácio Lula da Silva”, disse o deputado na rede social X.
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