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Análise no Senado

Alta de impostos ameaça plano do governo de regulamentar reforma tributária em 2024

Defesa de Eduardo Braga contesta acusações de propina em caso de farmacêutica
Senador Eduardo Braga (MDB-AM), relator da regulamentação da reforma tributária, terá de analisar quase 1,4 mil emendas ao texto. (Foto: Pedro França/Agência Senado)

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O plano do governo e seus aliados para o Senado votar, ainda em 2024, o projeto de lei complementar (PLP) que regulamenta a reforma tributária enfrenta obstáculos, sobretudo com a perspectiva de elevação significativa da carga tributária no texto aprovado pela Câmara. Isso dificulta tanto o consenso entre senadores quanto a devolução do texto com mudanças aos deputados.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e líderes do Palácio do Planalto mantêm a aposta de aprovação do PLP 68/2024 até dezembro. Isso é fundamental para a reforma iniciar seus efeitos no ano seguinte. No entanto, parlamentares da oposição defendem o seu adiamento para 2025. O relator Eduardo Braga (MDB-AM) já tem 1.350 sugestões de alterações feitas pelos senadores para analisar.

O prazo para levar a proposta ao plenário em um mês e meio é tido pelos críticos como muito curto, além de sinalizar dificuldade em conciliar interesses.

“O tema é complexo e diz respeito à vida de todos os cidadãos. Há muitos ajustes a serem feitos e, sem eles, fica difícil aprovar. Não podemos votar qualquer coisa e sacrificar setores econômicos”, disse o senador Izalci Lucas (PL-DF), coordenador do grupo de trabalho da reforma tributária na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Ele defende que o texto tramite não só na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas passe também na CAE. Além da necessidade de analisar melhor as muitas emendas propostas, ele justifica o seu requerimento apresentado nesta terça-feira (15) com o fato de o regime de urgência para votar o texto ter sido suspenso na semana passada. O senador prevê concluir seu parecer com recomendações ao relator na terça-feira (22).

Senadores defendem mais tempo de tramitação para a reforma tributária e acordo com a Câmara

O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) diz torcer para que a votação da regulamentação da reforma tributária no Senado fique para 2025.

“É uma proposta muito complicada e com muitos problemas. Há muito o que ser discutido e negociado com a Câmara, porque qualquer mudança feita pelos senadores, os deputados poderão derrubar, caso um acordo não venha a ser construído entre as duas Casas”, observa.

Nesta quarta-feira (16), a CAE e seu grupo de trabalho realizam o último debate público previsto em torno do projeto, envolvendo os impactos da transição de nove anos para novos tributos sobre preços de produtos e serviços.  O colegiado debateu impactos da reforma no Simples Nacional, na Zona Franca de Manaus e nas Áreas de Livre Comércio. Ainda serão avaliados os efeitos nas empresas intensivas em mão de obra.

Eduardo Braga se recupera de uma cirurgia e só deve apresentar na quarta-feira (23) o seu plano de trabalho e de votação da proposta. O relator só foi oficializado na semana passada. No ano passado, ele relatou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que instituiu a reforma.

Projeto para regulamentar o comitê gestor do IBS está parado na Câmara

Para Juan Gonçalves, diretor-geral do Ranking dos Políticos, dificilmente o projeto para regulamentar a reforma tributária do consumo será votado este ano. “Prova disso é que até mesmo a proposta para o comitê gestor está empacada na Câmara”, frisou.

O PLP 108/2024 é o segundo projeto de regulamentação, instituindo o Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a ser gerido por estados, Distrito Federal e municípios.

O Senado passou a analisar a regulamentação da reforma tributária em 7 de agosto sob regime de urgência e, por isso, o primeiro projeto precisaria ser votado até 22 de setembro para não travar a pauta. O governo tirou a urgência para a tramitação, atendendo à solicitação de Pacheco e diante do prazo expirado para a votação do PLP 68/2024.

A medida também foi um pleito dos líderes partidários, que pediram mais tempo para debater o projeto. Além disso, sem o fim da urgência, a sabatina de Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do Banco Central (BC), não poderia ter ocorrido na semana passada.

Texto da Câmara onera setores geradores de empregos como serviços e construção

A reforma tributária é a principal prioridade legislativa de Lula desde a sua posse. No entanto, a aprovação da regulamentação na Câmara no primeiro semestre ocorreu sem transparência e trouxe consigo a perspectiva de o país ter uma das maiores alíquotas de impostos sobre o consumo do mundo: 27%, segundo cálculos do Ministério da Fazenda.

A longa transição da tributação da origem para o destino até 2033 já começaria a produzir efeitos sobre a carga tributária e ainda deixaria em aberto o risco de alterações futuras.

Outro ponto polêmico é o imposto seletivo sobre bens nocivos à saúde, inicialmente de função regulatória, mas que serve para aumentar a receita.

Setores como serviços e construção civil, áreas com grande geração de empregos, podem ser fortemente afetados. Apesar de vista como positiva, a desoneração da cesta básica também foi muito ampla, puxando a alíquota geral para cima.

Governo e aliados se esforçam para iniciar a transição da reforma tributária a partir de 2025

Marcus Deois, diretor da consultoria política Ética, acredita que o empenho de líderes partidários e do governo conseguirá fazer a regulamentação da reforma avançar no Senado.

“Passadas as eleições, Câmara e Senado devem impor um ritmo intenso de votações em novembro e dezembro. Embora haja muita coisa para ajustar entre governo e Congresso, o esforço será para viabilizar a aprovação da matéria até dezembro”, disse.

Em entrevista coletiva em Roma, no último sábado (12), Pacheco admitiu que a regulamentação da reforma tributária ainda encontra divergências no setor público e no privado, mas assegurou a aprovação em 2024.

“Vamos nos debruçar sobre o tema no decorrer de outubro e ao longo de novembro, e estamos otimistas de termos essa aprovação até o fim do ano, para que viremos a página e iniciemos a transição”, disse.

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