A mobilização a favor do presidente Jair Bolsonaro (PSL) no WhatsApp começou na esteira dos protestos pela educação, realizados em 15 de maio. Já no dia seguinte começaram a circular imagens convocando manifestações favoráveis ao governo para se contrapor aos atos das universidades.
Apoiadores de Bolsonaro passaram então a se mobilizar para ir às ruas no próximo domingo (26) para defender a reforma da Previdência, o pacote anticrime e a operação Lava Jato, mas o teor das mensagens enveredou para ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF), causando um racha no campo conservador.
O Monitor de WhatsApp, ferramenta de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que foi no dia 16 de maio que a primeira imagem sobre a mobilização a favor de Bolsonaro começou a ficar entre as mais compartilhadas – circulou em cinco grupos diferentes.
A imagem tem o logo do movimento Nas Ruas e faz o chamamento para o ato do próximo domingo, destacando o apoio ao projeto da Nova Previdência, ao pacote anticrime e à Lava Jato, assim como pede o impeachment de dois ministros do STF: o presidente da Corte, Dias Toffoli, e Gilmar Mendes.
No dia seguinte, 17 de maio, a imagem já era a terceira mais compartilhada a aparecer no monitor – circulou em mais cinco grupos diferentes. Neste dia, também apareceu uma montagem do grupo Avança Brasil, que esclarecia a pauta da mobilização: apoio à reforma da Previdência, ao pacote anticrime e Lava Jato e repúdio ao Centrão. Essa imagem circulou por outros três grupos distintos.
Foi também a primeira vez em que apareceu uma montagem com a imagem dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), e de Toffoli, do STF. A peça alega que os ministros do STF, deputados e senadores estariam escravizando “209 milhões de brasileiros”.
Mais volume e mais mensagens
Mas foi no sábado passado (18), porém, que as imagens com convocatórias para a mobilização dominaram de vez os grupos públicos. Àquela altura, além de conter detalhes dos atos em cada cidade, as imagens passaram a atacar abertamente o Congresso e o Supremo. Uma delas chega a afirmar que “Bolsonaro vai acabar fechando Congresso e Supremo”, enquanto outras buscam desmoralizá-los.
A ideia de um Bolsonaro messiânico, capaz de enfrentar o "establishment" com o apoio das ruas, passou a dominar as discussões. Nessas mensagens, imprensa, reitores de universidades e classe artística se juntam ao Legislativo e ao Judiciário para formar o que os apoiadores do presidente classificam como "sistema". Nesse dia, cada imagem era compartilhada em mais de dez grupos diferentes.
No domingo (19), a peça que trazia as fotos de Toffoli, Alcolumbre e Maia foi compartilhada em 30 grupos distintos. A chamada convocando as pessoas para irem às ruas foi compartilhada 46 vezes, em 32 grupos. Já a imagem que pede o fechamento do Congresso e Supremo circulou em 30 grupos, fruto de 39 compartilhamentos diferentes.
A Gazeta do Povo identificou ao menos 59 grupos diferentes que fizeram essas peças circularem entre os dias 16 e 20 de maio. Na terça-feira (21), o conteúdo convocando para a mobilização perdeu um pouco o fôlego.
“Brasil ingovernável”
Na sexta-feira passada, Bolsonaro havia compartilhado um texto que versava sobre as dificuldades de se governar de acordo com as regras do jogo político. A mensagem dizia que, "fora desses conchavos, o Brasil é ingovernável". É por isso, segundo a corrente, que o País está "disfuncional", o que isentaria o presidente de culpa. "Até agora (o presidente) não aprovou nada" diz o texto.
De lá para cá, o bolsonarismo mais institucional ficou dividido. Apoiadores do presidente se posicionaram contra a ideia de buscar nas ruas o aval para um governo avesso à articulação – nomes como a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL) e o presidente do partido de Bolsonaro, deputado Luciano Bivar (PSL-PE). A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), chegou a ter um embate no Twitter com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), ex-líder do NasRuas, depois de ser acusada por ela de omissão por não postar nas redes sociais um apoio explícito às manifestações.
O monitor da UFMG acompanha 350 grupos públicos do WhatsApp – ou seja, aqueles nos quais é possível entrar apenas com um link – e enumera as imagens, áudios, mensagens e links que mais circulam dia a dia. Como o aplicativo tem criptografia de ponta a ponta, não é possível monitorar o que é compartilhado entre usuários fora desses grupos.
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