| Foto: Marcos Corrêa/PR
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O presidente Jair Bolsonaro elevou o tom na Organização das Nações Unidas (ONU). Com um discurso focado no meio ambiente mais duro do que o feito na Assembleia-Geral, na última semana, ele defendeu, nesta quarta-feira (30), a soberania do Brasil sobre a Amazônia e os recursos naturais em pronunciamento na Cúpula da Biodiversidade das Nações Unidas.

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Enquanto na Assembleia-Geral o presidente disse que o Brasil sofre “brutais campanhas de desinformação”, hoje, sugeriu que, “associadas a algumas ONGs [organizações não-governamentais]”, algumas “organizações” comandam os “crimes ambientais no Brasil e no exterior". A narrativa é muito semelhante ao dito a jornalistas, em 2019, quando insinuou que ONGs poderiam estar por trás de queimadas na Amazônia.

O trecho foi dito em referência aos esforços feitos pelo governo para preservar a Amazônia. Bolsonaro citou o lançamento da Operação Verde Brasil 2, que, segundo ele, conseguiu reverter, até agora, a “tendência de aumento da área desmatada observada nos anos anteriores”. O presidente disse que o governo dará continuidade à operação. “Para intensificar ainda mais o combate a esses problemas [aumento da área desmatada] que favorecem as organizações que, associadas a algumas ONGs, comandam os crimes ambientais no Brasil e no exterior”, disse.

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O presidente ainda subiu o tom ao mundo quando defendeu o Brasil citando o interesse mundial sobre a região amazônica. “Rechaço, de forma veemente, a cobiça internacional sobre a nossa Amazônia. E vamos defendê-la de ações e narrativas que agridam os interesses nacionais”, disse. O discurso foi sucedido por alfinetadas à imprensa, a exemplo do discurso na Assembleia-Geral. “Não podemos aceitar, portanto, que informações falsas e irresponsáveis sirvam de pretexto para a imposição de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcançamos em benefício do Brasil e do mundo”, destacou.

Defesa da Amazônia é prioridade do governo

Por três vezes, Bolsonaro fez referência à defesa da soberania brasileira sobre seus biomas e recursos naturais. Na primeira, afirmou ter sempre deixado claro, desde quando era deputado federal, que uma das prioridades do Estado deveria ser a “proteção e a gestão soberana de nossos recursos naturais”. Após isso, reiterou que a Convenção sobre Diversidade Biológica consagra o “direito soberano” dos Estados membros de explorar seus recursos naturais “em conformidade com suas políticas ambientais”. “E é exatamente isso o que pretendemos fazer com a enorme riqueza que existe no território brasileiro”, avisou.

Na terceira oportunidade, disse que seu governo mantém “firme” o compromisso com o “desenvolvimento sustentável e com a gestão soberana dos recursos brasileiros”. Ao longo do discurso, Bolsonaro lembrou mais o tom usado em 2019 ao se referir sobre a Amazônia na Assembleia-Geral da ONU e a jornalistas e populares do que a narrativa adotada mais recentemente. Em 2020, ele fez algumas críticas veladas ao mundo, mas evitou tensões nominais e acusou a imprensa como bode expiatório.

Similaridades com discurso na ONU e defesa do desenvolvimento sustentável

O discurso na Cúpula da Biodiversidade não teve só momentos de engrossar o tom. Alguns trechos lembraram o do discurso na Assembleia-Geral da ONU. A exemplo de quando disse que, desde 2019, o governo adota políticas de proteção ao meio ambiente de “forma consciente”, sabendo do “duplo desafio” que enfrenta. “Temos a obrigação de preservar nossos biomas e, ao mesmo tempo, precisamos enfrentar adversidades sociais complexas, como o desemprego e a pobreza, além de buscar garantir a segurança alimentar do nosso povo”, declarou.

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Em 2020, prosseguiu Bolsonaro, disse que o governo avança “nessa direção”. E que, “mesmo enfrentando uma situação difícil e atípica” devido ao coronavírus, vem reforçando “ações de vigilância sobre nossos biomas” e fortalecendo “meios para combater a degradação dos ecossistemas, a sabotagem externa e a biopirataria”. “No Pantanal, fortalecemos a integração entre as agências governamentais, com o apoio das Forças Armadas, para atuar de maneira coordenada e, assim, combater os focos de incêndio no entorno dessa região”, sustentou.

O presidente também enfatizou em algumas ocasiões a defesa pelo desenvolvimento sustentável, de uma “agricultura baseada na biotecnologia de comprovada eficiência” com a “preservação do nosso patrimônio ambiental”. Nas últimas décadas, citou Bolsonaro, o setor agropecuário obteve “aumentos expressivos” de produtividade e “comprovou sua capacidade de ampliar sua produção e alimentar o mundo”. “Ao mesmo tempo em que reduz seu já irrisório impacto sobre o meio ambiente”, disse.

A narrativa do desenvolvimento sustentável, por sinal, abriu e fechou seu discurso. No início, disse que a exploração “racional e sustentável” dos “incomensuráveis” recursos presentes no território brasileiro é uma prioridade do governo. Enalteceu, portanto, que espera que a Cúpula da Biodiversidade possa determinar o “futuro desses recursos” e “definir os novos contornos da economia”.

Ao fim, declarou estar “sempre aberto” a contribuir para um debate fundamentado no respeito aos pilares da Convenção de Diversidade Biológica. “A conservação, o uso sustentável e a repartição de benefícios. Espero o mesmo compromisso por parte dos senhores.”