O presidente Jair Bolsonaro disse no sábado (31) que o advogado-geral da União, André Mendonça, é "terrivelmente supremável" – em uma brincadeira com outra declaração sua, de que indicaria um ministro "terrivelmente evangélico" para o Supremo Tribunal Federal (STF). A declaração de Bolsonaro colocou Mendonça à frente de Sergio Moro na condição de favorito para a próxima vaga no STF, que vai ser aberta em 2020 com a aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello.
Além de integrar o governo, Mendonça cumpre um dos requisitos de Bolsonaro para o cargo: é evangélico; atua como pastor na Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília. Além disso tem um vasto histórico de combate à corrupção, uma das pautas de campanha de Bolsonaro.
Contudo, o advogado-geral da União já demonstrou simpatia pela ex-senadora e ex-ministra Marina Silva e enalteceu a primeira eleição de Lula à Presidência, em 2002.
Veja algumas características do favorito para a próxima vaga do STF:
Pastor evangélico
André Mendonça tem formação em teologia e é pastor na Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, que tem dois anos de existência. Ele frequenta os cultos semanalmente. Em junho deste ano, fez uma palestra sobre a "integridade" na residência de um casal que frequenta a igreja. Além de pregar e dar palestras, coordena a formação espiritual de crianças. À Globo News, afirmou que "o desejo de pregar sobre Jesus vem desde a infância".
Nas publicações de Facebook da página da igreja, não há referências à política brasileira. A secretária que atende o telefone da instituição está orientada a não falar com a imprensa sobre André Mendonça.
Foco no combate à corrupção
André Mendonça é advogado da União desde 2000. Foi anunciado para o cargo de advogado-geral em novembro de 2018, depois da eleição de Jair Bolsonaro, e assumiu o posto em janeiro de 2019. Em 2011, um grupo de combate à corrupção liderado por ele foi premiado pelo Instituto Innovare depois de ter recuperado R$ 491 milhões aos cofres públicos no ano de 2010.
Nessa época, Mendonça era diretor do departamento de patrimônio e probidade da AGU, cargo para o qual foi nomeado por Dias Toffoli – o atual presidente do STF na época era advogado-geral da União do governo Lula.
O foco no combate à corrupção também marcou a vida acadêmica de André Mendinça. Ele é doutor em Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha, onde recebeu a nota máxima pela tese "Sistema de Princípios para a Recuperação de Ativos Procedentes da Corrupção". Sua tese de mestrado também teve como foco políticas anticorrupção.
Em entrevista recente à Globo News, afirmou que justamente pelo histórico de atuação contra a corrupção não acreditava que, um dia, seria advogado-geral da União.
Alinhado a Bolsonaro, mas com histórico de simpatia por Marina e elogio a Lula
André Mendonça se mostra, em geral, alinhado com o governo Bolsonaro quando é questionado pela imprensa sobre assuntos polêmicos de interesse público. É favorável, por exemplo, aos recentes decretos sobre porte de armas do presidente da República e ao projeto Escola Sem Partido.
Mas, no ano passado, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, um perfil de Mendonça nas redes sociais revelou entusiasmo em relação a uma possível eleição de Marina Silva, então candidata a presidente pela Rede. De acordo com a mesma reportagem, a assessoria de Mendonça não comentou esse fato, mas disse que os dois já se encontraram duas vezes em eventos religiosos, por serem evangélicos. E, em uma conversa, concordaram sobre o fato de que não se deve misturar política com religião. Marina já foi do PT e é de esquerda ou centro-esquerda – corrente ideológica criticada por Bolsonaro.
Em 2002, quando Lula foi eleito presidente, Mendonça escreveu um artigo para o jornal Folha de Londrina em que enaltecia a eleição do petista. No texto, afirmava que "temos o primeiro presidente eleito do povo e pelo povo" e que "o coração do povo se enche de esperança".
Vida pessoal
André Mendonça nasceu em Santos (SP). Quando era criança e adolescente, morou em diversas cidades do estado de São Paulo. O pai, um funcionário do banco Banespa, periodicamente era transferido de município.
Mendonça tem atualmente 46 anos. É casado e tem um casal de filhos. Antes de chegar à Advocacia-Geral da União, trabalhou como advogado da Petrobras entre 1997 e 2000.
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