O novo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a solenidade de posse no Palácio do Planalto.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Ministro que ocupa o lugar deixado por Sergio Moro no comando da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça tem ganhado a confiança do presidente Jair Bolsonaro. Mendonça tomou posse no fim de fevereiro, com direito a continência ao presidente, chamando Bolsonaro de "profeta". Ex-advogado-geral da União, o novo ministro da Justiça não se desvencilhou do papel de “advogado do governo”.

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Ao contrário de seu antecessor, que raramente aparecia no Palácio do Planalto, Mendonça já ganhou status de “ministro palaciano” e tem sido uma figura central no governo. Levantamento do jornal Valor Econômico mostrou que o ministro da Justiça se reuniu com Bolsonaro pelo menos 29 vezes nos primeiros 35 dias úteis desde que assumiu o cargo. Moro esteve no Planalto só 11 vezes nos últimos 35 dias úteis em que esteve à frente da Justiça e Segurança Pública.

Mendonça forma uma trinca com os ministros Jorge Oliveira (Secretaria de Governo) e José Levi do Amaral (Advocacia-Geral da União) na defesa do governo. Os três têm tentado atuar para diminuir a temperatura da crise institucional entre o presidente e os demais poderes.

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Mendonça estava entre os ministros que foram chamados às pressas para uma reunião com o presidente na manhã do dia 18 de junho, quando a Polícia Civil prendeu Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e amigo da família Bolsonaro, que estava escondido na casa do advogado Frederick Wassef – que até então atuava como advogado do presidente.

No dia seguinte, Mendonça, Oliveira e Levi embarcaram para São Paulo para um encontro com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que é relator dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos no Supremo. Na pauta oficial do encontro estavam temas como processos sobre Terra Indígena Raposa Serra do Sol (em Roraima), prejuízos do setor sucroalcooleiro, TCU e indisponibilidade de bens, controle de armas e munições do Exército. Mas, segundo o Jornal Nacional, da Rede Globo, os ministros foram ao encontro de Moraes com o objetivo de tentar restabelecer o diálogo com o STF.

André Mendonça se destaca pela defesa de Bolsonaro

Mesmo que essa não seja uma atribuição do ministro da Justiça, Mendonça tem tomado a dianteira em algumas frentes judiciais para proteger Bolsonaro e seu grupo político. Coube ao ministro, por exemplo, entrar com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 28 de maio para que o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, não fosse investigado no inquérito das fake news. O movimento de Mendonça foi criticado por juristas, ex-ministros da Justiça e políticos.

Weintraub foi convocado a depor no inquérito depois que a reunião ministerial do dia 22 de abril veio a público. No encontro, o ex-ministro da Educação chama ministros do Supremo de “vagabundos” e diz que eles deveriam ser colocados na cadeia.

O inquérito no STF apura a responsabilidade pela criação e disseminação de notícias falsas e ameaças a ministros da Corte. As investigações já atingem aliados de Bolsonaro e há suspeitas sobre um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

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Mendonça também passou a criticar o inquérito, cuja legalidade defendeu como advogado-geral da União, em setembro do ano passado. O pedido de habeas corpus de Mendonça foi rejeitado no plenário virtual do STF, e Weintraub continua entre os investigados.

Mendonça também determinou recentemente a abertura de um inquérito pela Polícia Federal (PF) para apurar o vazamento de dados pessoais do presidente Bolsonaro e de seus familiares pelo grupo hacker Anonymous.

O ministro da Justiça também determinou à PF a abertura de uma investigação sobre a publicação, pelo jornalista Ricardo Noblat, de uma charge que relacionava Bolsonaro com uma suástica, símbolo do nazismo. O chargista Aroeira, autor da charge, está entre os investigados.

Mendonça se baseou na Lei de Segurança Nacional para pedir a abertura de investigação. A lei, da Ditadura Militar (1964-1985), prevê punição a quem  "caluniar ou difamar" o presidente da República.

O episódio gerou repercussão e diversos cartunistas passaram a reproduzir a charge em questão. Um grupo de artistas, escritores, jornalistas, cientistas e professores lançou um manifesto em defesa de Noblat e Aroeira.

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Ministro é cotado para o STF

A atuação de Mendonça na defesa de Bolsonaro, muito mais proativa que a postura de Moro no governo, tem sido vista nos bastidores em Brasília como uma tentativa de mostrar “fidelidade” ao governo e conseguir, assim, uma indicação para o STF. Por ser pastor, o ministro da Justiça se enquadra no critério de ser “terrivelmente evangélico”, característica que Bolsonaro disse procurar para o próximo indicado ao Supremo.

A próxima vaga que abre no STF é para substituição do ministro Celso de Mello, que se aposenta em novembro desse ano. Também caberá a Bolsonaro nomear, ainda durante seu mandato, o substituto de Marco Aurélio, que também se aposenta até 2022.

Além de Mendonça, também é cotado para o STF o ministro da Secretaria de Governo, Jorge Oliveira, que é próximo da família Bolsonaro.

Quem é André Mendonça

André Mendonça, de 46 anos, é advogado, tem uma longa carreira como servidor público e bom trânsito no STF. Antes de assumir o lugar deixado por Moro, Mendonça era o advogado-geral da União – cargo com status de ministro que ele ocupava desde o início do governo Jair Bolsonaro. Ele assumiu o posto máximo da Advocacia-Geral da União (AGU) após 20 anos de carreira no próprio órgão. Como advogado-geral, foi defensor do governo nas principais ações em que a União é parte no STF no ano passado. Fez dez sustentações orais na Corte entre janeiro de 2019 e março de 2020.

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No comando da AGU, foi responsável por alterar o entendimento da instituição para defender, no STF, a constitucionalidade da prisão a partir de condenação em segunda instância. Foi também sob sua gestão que a AGU assegurou, em 2019, a recuperação de R$ 7,5 bilhões para os cofres públicos por meio de acordos de leniência com empresas envolvidas em irregularidades.

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