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A Associação Nacional de Jornais (ANJ) expressou “repúdio e preocupação” diante dos ataques que o jornal O Estado de São Paulo e seus profissionais vêm sofrendo após iniciarem a série de reportagens que revelou a visita da “dama do tráfico amazonense” a assessores e representantes dos ministérios da Justiça, dos Direitos Humanos e ao Congresso Nacional.
Luciane Barbosa Dias é esposa de Clemilson dos Santos Farias, conhecido como Tio Patinhas, um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas. Ela e o marido são condenados por associação criminosa e lavagem de dinheiro, entre outros, mas apenas Luciane responde ao processo em liberdade.
Segundo a ANJ, postagens de aliados do governo, como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e do ministro Flávio Dino, da Justiça, evidenciam “métodos de intimidação”, “desrespeito à liberdade de imprensa” e “prática característica de regimes autocráticos”.
“O uso de métodos de intimidação contra veículos e jornalistas não se coaduna com valores democráticos e demonstra um flagrante desrespeito à liberdade de imprensa. Também evidencia uma prática característica de regimes autocráticos de, com o apoio de dirigentes políticos, sites e influenciadores governistas, tentar desviar o foco de reportagens incômodas por meio de ataques contra quem as apura e divulga”, disse em uma nota publicada nesta segunda (20).
A entidade afirma que “espera que tais métodos de intimidação, sobretudo contra jornalistas mulheres já empregados no passado recente, cessem imediatamente, em nome do respeito à liberdade de imprensa e à livre atuação do jornalismo e dos veículos de comunicação” (veja na íntegra). A ANJ faz referência aos ataques contra a editora de Política do jornal, a jornalista Andreza Matais.
Após a revelação de que Luciane teve livre acesso a assessores de Flávio Dino, o secretário assuntos legislativos, Elias Vaz, assumiu a responsabilidade e destacou a impossibilidade de antecipar a presença dela através do setor de inteligência.
A advogada Janira Rocha, responsável por solicitar as reuniões, recebeu depósitos do “contador” do Comando Vermelho, de acordo com a Polícia Civil do Amazonas. O ministério alterou as regras de acesso após a repercussão do caso.
Além do Ministério da Justiça, Luciane esteve na Câmara dos Deputados e no Conselho Nacional de Justiça, levantando questões sobre a segurança em outros órgãos. O jornal também revelou que a ONG presidida por Luciane, o Instituto Liberdade do Amazonas, teve despesas pagas pelo Comando Vermelho antes da primeira visita ao Ministério da Justiça.