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Decisões contra redes sociais

Antes de ameaçar X, Moraes já havia determinado o bloqueio do Telegram em 2022 e 2023

O ministro do STF Alexandre de Moraes
O ministro do STF Alexandre de Moraes (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Antes da ameaça de tirar a rede social X do ar, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também havia dado decisões contra o Telegram em que bloqueou e/ou mencionou a possibilidade de suspensão da plataforma no Brasil. No caso mais recente, que o envolve o X, antigo Twitter, Moraes intimou o empresário Elon Musk, dono da rede social, a indicar o novo representante legal da empresa no Brasil em 24 horas. A intimação foi feita por uma postagem no perfil oficial do STF no próprio X na noite desta quarta-feira (28).

Com relação ao Telegram, o ministro Alexandre de Moraes determinou, de forma sigilosa, o bloqueio do Telegram no Brasil em 18 de março de 2022. A decisão de Moraes foi enviada ao então presidente da Anatel, Wilson Diniz Wellisch, para que provedores e plataformas adotassem mecanismos para inviabilizar o funcionamento do Telegram no prazo de até cinco dias. A informação, porém, vazou nas redes sociais e o ministro acabou tornando pública a decisão e abriu outro inquérito para investigar o perfil que teria divulgado o documento enviado à Anatel. Moraes estabeleceu ainda que quem não obedecesse à decisão ficaria sujeito a multa diária de R$ 100 mil.

Naquele episódio, Moraes atendeu a um pedido da Polícia Federal (PF) e afirmou que ele se deu em decorrência da postura do Telegram de não cooperar com as autoridades policiais e judiciais no combate a diversos crimes. A decisão mencionou ainda a demora em bloquear perfis ligados ao jornalista Allan dos Santos, do Terça Livre.

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No mesmo dia, o russo Pavel Durov, um dos fundadores do Telegram e CEO da plataforma, divulgou um comunicado em seu canal na rede social e pediu desculpas ao STF pelo descumprimento de decisões judiciais no Brasil.

Durov pediu que o STF considerasse a possibilidade de adiar o cumprimento do bloqueio da rede social por alguns dias, para que o Telegram pudesse "remediar" a situação e tivesse tempo de nomear um representante no Brasil - a falta dessa representação no país foi outro ponto citado por Moraes na decisão que determinou a suspensão do aplicativo. Além disso, o CEO da rede social prometeu criar uma estrutura para responder mais rápido a questões como essa. O Telegram não tem sede no Brasil e passou a ter representantes legais somente após decisões de bloqueio emitidos pelo Judiciário.

Após o Telegram cumprir uma série de exigências de Moraes - incluindo a exclusão de links no canal oficial do então presidente Jair Bolsonaro, que permitem baixar documentos de um inquérito sigiloso e não concluído da Polícia Federal -, o ministro determinou o fim do bloqueio da plataforma em 20 de março de 2022.

Matéria publicada no site do STF à época informava que o Telegram havia indicado um representante legal no Brasil e que "o aplicativo afirmou ainda que, como medidas para combate à desinformação no Brasil, tem feito monitoramento dos 100 canais mais populares no país; tem acompanhado a mídia brasileira; estabelecerá relações de trabalho com agências de checagem; restringirá postagem pública para usuários banidos por espalhar desinformação; além de atualizar termos de serviços e promover informações verificadas. Entre as medidas de combate à desinformação enviadas pelo Telegram está uma análise das leis brasileiras e previsão de cooperação com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)".

Além disso, em maio de 2023, o ministro Alexandre de Moraes também ameaçou tirar o Telegram do ar por 72h, caso a plataforma não excluísse em uma hora uma mensagem publicada contra o PL das fake news. A mensagem do Telegram afirmava que “a democracia estava sob ataque no Brasil” por causa do projeto. Publicada no canal oficial da plataforma, a mensagem dizia que o projeto “matará a internet moderna” se aprovado conforme a atual redação. 

Na época, o Google chegou a se manifestar de forma semelhante ao Telegram sobre o PL. No entanto, após uma determinação da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, a mensagem foi retirada do ar pela big tech.

Naquela circunstância, o aplicativo de mensagens Telegram acatou a decisão de Moraes, apagou a mensagem e compartilhou outra, determinada pelo ministro, em que
reconhecia que disseminou "desinformação". Diante disso, a plataforma não chegou a ser suspensa em maio do ano passado.

De acordo com o ministro, a ação de divulgar a mensagem configurava abuso de poder econômico por parte do Telegram, às vésperas da votação do projeto - que acabou não ocorrendo por falta de apoio ao texto no Congresso - por "tentar impactar de maneira ilegal e imoral a opinião pública e o voto dos parlamentares".

Moraes havia determinado que a big tech excluísse as mensagens enviadas aos seus usuários no prazo de uma hora, sob pena de suspensão do serviço por 72 horas e multa de R$ 500 mil por hora em caso de descumprimento.

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Dias antes, no fim de abril de 2023, a 1ª Vara Federal de Linhares, da Justiça Federal do Espírito Santo, também havia determinado a suspensão do Telegram. A decisão se deu pelo cumprimento “precário” por parte do aplicativo de mensagens da determinação judicial que obrigou plataformas a entregar à Polícia Federal (PF) informações de grupos nazistas e neonazistas nas redes sociais.

O Telegram acatou uma ordem judicial e forneceu informações sobre grupos neonazistas envolvidos em casos de violência em escolas. Porém, as informações não foram consideradas suficientes pela Polícia Federal.

Três dias depois, o juízo da 2ª Turma Especializada do Tribunal Regional da 2ª Região (TRF-2) suspendeu parcialmente a liminar da Justiça Federal do Espírito Santo que determinava a suspensão do aplicativo Telegram no Brasil. O desembargador que atuou no caso considerou que a suspensão completa do aplicativo em todo o país não era razóavel.

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Compra do Twitter por Musk marcou mudança de posicionamento da rede social

Diferente da postura "colaborativa" adotada pelo Telegram, Elon Musk tem adotado um perfil combativo às ordens de Moraes e também contra a censura na rede social. Diante de uma série de casos envolvendo restrições na plataforma, Musk protagonizou diversas mudanças no X, enfatizando seu posicionamento a favor da liberdade de expressão

Antes de Musk assumir o controle, o Twitter registrou casos como a expulsão do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump da plataforma. A aquisição e as mudanças são apontadas como parte do esforço de Musk de tornar a plataforma livre de censura. 

No Brasil, as mudanças promovidas por Musk ganharam destaque pela exposição de uma série de determinações judiciais de bloqueio de contas de usuários até a mais recente ameaça de retirada do ar da plataforma como um todo.  

Após assumir o controle do X, Musk se manifestou sobre as exigências feitas pela justiça brasileira, e em especial pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, consideradas absurdas pelo bilionário. Em abril, Musk ameaçou não cumprir as determinações de Moraes para o bloqueio de contas na rede social e questionou Moraes sobre seu posicionamento sobre a censura. “Por que vocês exigem tanta censura no Brasil?", perguntou o bilionário ao ministro do STF.

Embora não fosse muito constante nas publicações na plataforma, após o questionamento, Moraes não usou mais a rede de Musk, mas seu perfil segue ativo. 

Nesta quinta-feira, 29 de agosto de 2024, a rede social X reafirmou que não cumprirá as ordens de Moraes. Em nota, a equipe de Assuntos Governamentais Globais da plataforma disse esperar "em breve" a ordem de bloqueio do X no Brasil.

Moraes mira bloqueios de perfis nas redes desde 2020 

Desde 2020, Moraes mirou perfis no antigo Twitter e em outras redes com a alegação de combate a informações falsas e a apologia a suposto golpe de Estado. Várias medidas foram tomadas por Moraes frente a perfis de redes sociais, tanto por meio do STF quanto via Tribunal Superior Eleitoral (TSE), corte que presidida por ele em 2022. 

No ano de eleições presidenciais, o ministro chegou a determinar a suspensão de uma série de contas de alvos de investigações, inclusive de parlamentares e perfis bolsonaristas que questionavam o resultado das eleições. Dentre os alvos das suspensões de perfis estavam o empresário Luciano Hang e dos jornalista Oswaldo Eustáquio e Allan dos Santos. 

As ações de Moraes no bloqueio de contas nas redes sociais sempre foram intensamente criticadas no Brasil, mas ganharam ainda mais força após o X divulgar uma série de documentos internos em abril de 2024 – os chamados Twitter Files Brasil. O caso veio à tona por meio de arquivos obtidos pelo jornalista americano Michael Shellenberger, em colaboração com o jornalista Eli Vieira, da Gazeta do Povo. 

As matérias com a nova série de documentos internos do Twitter envolveram as tratativas da rede social com autoridades e personalidades brasileiras que revelaram que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de parlamentares e o Ministério Público, buscaram violar o Marco Civil e “direitos constitucionais” dos cidadãos brasileiros, segundo os próprios consultores jurídicos da empresa, para fazer pesca probatória e coletar dados em massa de usuários que postaram determinadas hashtags (marcações com links que identificam assuntos, como #VotoDemocráticoAuditável).

Os documentos eram e-mails internos do Twitter enviados entre 2020 e as eleições presidenciais de 2022. Os arquivos foram divulgados pelo empresário Elon Musk após sua compra da rede social, cujo nome mudou para X.

Sem escritório no Brasil, Moraes intima Musk e pede nomeação de representante 

Após as ameaças de descumprimento de ordens de Moraes, Elon Musk passou a ser investigado pelo suposto cometimento dos crimes de obstrução à Justiça (inclusive em organização criminosa) e incitação ao crime. Um inquérito foi movido pelo próprio ministro Alexandre de Moraes.

Em 17 de agosto, Musk anunciou a retirada do escritório do X Brasil, deixando a plataforma sem representante legal no país.

A mais recente intimação foi feita na noite da quarta-feira (28), por meio de uma postagem no perfil oficial do STF na própria rede social. Em caso de descumprimento da determinação, a decisão prevê a suspensão das atividades da rede social no Brasil.

Nesta quinta-feira (29), o X ressaltou que não vai cumprir a decisão de Moraes e que espera que a plataforma seja bloqueada em breve.

"Ao contrário de outras plataformas de mídia social e tecnologia, não cumpriremos ordens ilegais em segredo", diz uma nota divulgada no perfil Global Government Affairs. O X considera o bloqueio de perfis de investigados pelo STF, ordenado por Moraes, como "ilegais" e destinados a "censurar opositores políticos" do magistrado.

"Em breve, esperamos que o Ministro Alexandre de Moraes ordene o bloqueio do X no Brasil – simplesmente porque não cumprimos suas ordens ilegais para censurar seus opositores políticos", afirmou a rede social.

Bloqueio das contas da Starlink no Brasil

Em outra decisão nesta quinta-feira (29), Moraes determinou o bloqueio das contas da empresa Starlink no Brasil, que pertence ao bilionário Elon Musk. A fornecedora de serviços de internet reagiu e disse estar sendo responsabilizada pelas multas aplicadas contra o X, também de propriedade de Musk.

A companhia enviou uma nota aos usuários brasileiros e se comprometeu a manter os serviços gratuitamente, se necessário, enquanto recorre da ordem do ministro. A Starlink vende serviços de internet por satélite no país, principalmente na região Norte.

Para a Starlink, a decisão de Moraes é “ilegal” e não tem fundamento. “Embora este pedido ilegal possa afetar afetar a nossa capacidade de receber o seu pagamento mensal, você não precisa tomar nenhuma medida nesse momento", diz o comunicado encaminhado aos clientes brasileiros.

Já Musk disse que a empresa vai recorrer da decisão do ministro do STF e voltou a chamar Moraes de ditador.

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