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O líder do PSD na Câmara dos Deputados, Antônio Brito, da Bahia, é tido como um dos candidatos com maior simpatia do Planalto à sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados. De quebra, ele conseguiu um gesto de boa vontade vindo do ex-presidente Bolsonaro, que lidera a ala direitista na Casa (o Partido Liberal conta com 93 deputados) e de quem ganhou medalha num encontro recente.
A aproximação de Antônio Brito com o PL teve início em abril, quando o ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara, Major Vitor Hugo (PL-GO) promoveu um encontro entre ele e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, durante um evento da legenda na cidade de Mogi das Cruzes, no interior paulista.
Costa Neto publicou uma foto nas redes sociais com o deputado e disse ao jornal Folha de São Paulo que Brito seria "um bom candidato". “Hoje, em Mogi das Cruzes, tive a honra de receber a visita do deputado federal Antonio Brito, candidato à Presidência da Câmara dos Deputados”, escreveu Valdemar em publicação nas redes sociais.
Antônio Brito aproveitou o encontro para reforçar que apesar de ser tido como alinhado ao Palácio do Planalto, tem bom trânsito em todas as alas na Câmara dos Deputados. Brito tem aparecido como forte candidato à sucessão de Arthur Lira, desbancando candidatos que já no início do ano anunciavam a pretensão de disputar a presidência, como Elmar Nascimento (União-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).
No último dia 4, Brito se encontrou com Bolsonaro, quando recebeu a medalha de "imbrochável". A "condecoração", em tom de brincadeira, faz referência à fala em que Bolsonaro se classificou como "imbrochável, imorrível e incomível". O ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PL-GO) e o deputado Reinold Stephane (PSD-PR) também participaram do encontro.
Brito disse ao ex-presidente que, como líder do PSD, deu apoio a seu governo na Câmara e procurou afastar a imagem de aliado do Planalto. À Gazeta do Povo, Antônio Brito afirmou que tem conversado com partidos em busca de apoio e já esteve com Altineu Côrtes, do Rio de Janeiro, que pode ser o nome do vice na chapa de Brito.
O PL ainda não se decidiu se lança uma candidatura própria para a presidência da Câmara. O líder da oposição na Câmara, Filipe Barros, do Paraná, disse em entrevista à Gazeta do Povo que o partido ainda irá decidir no momento oportuno. Ele também disse que a oposição levaria em conta o alinhamento do nome com pautas caras para a direita, como por exemplo, a questão da liberdade de expressão e o aborto.
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Correndo por fora, Brito começou a trabalhar em sua candidatura de forma silenciosa nos bastidores na Câmara. Ele não fez um anúncio formar de sua candidatura. Veio aos poucos revelando a parlamentares e jornalistas sua intenção de comandar a casa. Só recentemente passou a dizer publicamente que é candidato e justificou a cautela afirmando que não queria se antecipar demais e "queimar a largada" [a eleição para a troca do presidente da Câmara será em fevereiro de 2025].
Antônio Brito tem 55 anos, nasceu em Salvador, na Bahia, e ingressou na vida política em 2009, quando assumiu a Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Direitos do Cidadão na capital soteropolitana. Foi eleito deputado federal pelo PTB no ano seguinte, e reeleito nos anos de 2014, 2018 e 2022.
Com quatro mandatos na bagagem, Brito atua na defesa das Santas Casas e instituições filantrópicas no Brasil, já presidiu grandes comissões da Câmara dos Deputados, como a de Seguridade Social e Família, uma das maiores em número de deputados na Câmara. Também articulou a criação da bancada negra na Casa, em 2023. Ele é um dos 27 parlamentares que se autodeclararam pretos nesta legislatura.
Brito concorre com Elmar Nascimento pelo apoio de Lira
Questionado sobre um eventual apoio de Arthur Lira, que promete dizer quem será o seu candidato em agosto, Brito afirmou à reportagem que não descarta a possibilidade, apesar de Lira ser amigo pessoal de outro baiano, Elmar Nascimento, apontado por muitos como preferido.
Elmar, que desde o Carnaval já está em pré-campanha para a sucessão, levou um grupo de parlamentares, incluindo Arthur Lira, para a "Elmar Folia", como foi batizado o evento em que o deputado, líder do União Brasil na Câmara, reuniu amigos e aliados no balado Carnaval de Salvador.
Mais discreto, Brito também estava em Salvador no Carnaval e participou com Lira e Elmar de um almoço na residência oficial do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), de quem é aliado. O líder do PSD também acompanhou uma comitiva de parlamentares que se juntaram a Arthur Lira no Desfile das Campeãs, no Rio de Janeiro.
Questionado sobre a possibilidade de Lira apoiar sua candidatura, Brito afirmou que não vê motivos para que isso não aconteça. O deputado disse que apoia Lira desde 2021 e é chamado por ele de "líder dos líderes", já que Brito comanda a bancada do PSD pela terceira vez consecutiva desde 2016.
Conquistas serão mantidas, diz Brito, sobre avanços na Câmara
Atento aos anseios dos parlamentares, Antônio Brito disse que as conquistas da Câmara e os avanços com relação à maior autonomia dos parlamentares sobre as emendas parlamentares "serão mantidas".
Antônio Brito defende que a Câmara tenha um presidente que possa lutar por avanços e defender o Parlamento, de uma forma mais "conciliadora". E este é um dos adjetivos que alguns colegas usam para descrever o líder do PSD, tido como "discreto e conciliador" por muitos.
Brito também é próximo do ministro da Casa Civil, o também baiano Rui Costa, que tem atuado diretamente nas relações institucionais com o Congresso, e em especial com a Câmara, depois de desentendimentos público entre Arthur Lira e Alexandre Padilha, Secretário de Relações Institucionais.
Sobre ser o preferido do governo, Brito afirma que o Planalto já disse que não vai interferir na disputa pela presidência da Casa. Brito também conta com amplo apoio de Gilberto Kassab, presidente do PSB e grande articulador político, que trabalha pela candidatura.
Levantamento aponta Brito como favorito para suceder Lira
Um levantamento divulgado no final de maio pelo Instituto Genial/Quaest para mostrar a popularidade de Arthur Lira apontou que o líder do PSD aparece em primeiro lugar na preferência dos parlamentares para ocupar a cadeira do atual presidente em fevereiro de 2025.
O instituto ouviu 183 parlamentares de todos os estados e partidos políticos, entre os dias 9 de abril a 21 de maio. Questionados sobre em quem votariam, 23% afirmaram ter como candidato Antonio Brito. Nascimento aparece em segundo lugar, com 15% das intenções de voto.
Na lista de cotados, o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) aparece em terceiro lugar, com 13%, seguido de Isnaldo Bulhões (MDB-AL), com 10%, e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), com 3%. A maioria dos entrevistados, entretanto, não soube ou não respondeu à pergunta (30%). A margem de erro da pesquisa é de 4,8 pontos para mais ou para menos.
Em um recorte da pesquisa, o nome de Brito é favorito tanto entre governistas (34%) quanto na oposição (18%). Entre os independentes, geralmente membros do centrão, Brito é preferido por 12% e Elmar Nascimento por 30% dos parlamentares.
Às vésperas do recesso, candidatos à sucessão promovem encontros para ampliar apoio
Faltando poucos dias para o início do recesso parlamentar, que começa no dia 18, os baianos Antônio Brito e Elmar Nascimento aproveitam a presença dos parlamentares em Brasilia para promover eventos e ampliar apoio político.
Nesta terça-feira (09) o líder do PSD reuniu parlamentares num restaurante famoso do Lago Sul, área nobre da capital federal, para comemorar os aniversariantes do mês do partido. Todos os concorrentes foram convidados, segundo disse Antônio Brito à Gazeta do Povo. O evento foi prestigiado por ministros do governo Lula, como o da Justiça, Ricardo Lewandowsky; da Defesa, José Múcio; e reuniu diversos deputados do PL, além do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e o líder Altineu Côrtes.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães, do Ceará, também participou da comemoração. Questionado sobre o apoio a Brito, Guimarães disse: "estamos firmes e fortes". O presidente da Câmara, Arthur Lira, também apareceu na festa, e num dado momento se reuniu com Costa Neto e Côrtes numa conversa mais reservada, que despertou a atenção de muitos presentes, mas não fez declarações.
No jantar foram oferecidas iguarias como camarão e filet mignon, além de vinhos e uísque. Ministros, deputados e senadores conversaram ao som de sambas enredo entoados por Dudu Nobre, e também puderam ouvir músicas do tradicional axé baiano e sertanejo.
Luciano Bivar, que comandava o União Brasil até pouco tempo e está envolvido em polêmicas com o novo presidente da legenda, Antônio Rueda, esteve no evento.
Parlamentares opinaram que o evento de Brito teria sido planejado para concorrer com a comemoração dos 54 anos de Elmar, festa marcada para esta quarta-feira (10). Brito negou essa intenção.
Elmar Nascimento comemorará a nova idade em um evento privado que já tem a presença confirmada de parlamentares, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e figuras do primeiro escalão do governo, com direito a show de música sertaneja. No início do ano, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, também reuniu figuras importantes num jantar em Brasília.
Cientistas políticos avaliam cenários pré-sucessão na Câmara
Analistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo acreditam que a sucessão de Arthur Lira vai se acirrar ainda mais a partir da declaração do apoio do próprio Lira, em agosto, quando os parlamentares voltarão a Brasília após o recesso parlamentar. Em meio ao Congresso esvaziado pelas eleições municipais de outubro, os candidatos deverão aproveitar o tempo hábil para iniciar as articulações formais para a disputa.
Na avaliação de Juan Carlos Gonçalves, do Ranking dos Políticos, é preciso considerar o cenário no Senado Federal para se falar da sucessão na Câmara. É que a candidatura praticamente única na Casa Alta de Davi Alcolumbre (União-AP) acaba complicando a vida de Elmar Nascimento na Câmara.
"Desde a era do MDB, há dez anos, não tivemos o mesmo partido comandando ambas as casas do Congresso Nacional. Em contrapartida, Antônio Brito (PSD-BA) se aproxima de diversos espectros partidários. Ele é próximo de Lula e esteve com Bolsonaro na semana passada, mostrando ser um deputado que agrada de A a Z", destaca o cientista do Ranking dos Políticos.
Jorge Mizael, da Metapolitica Consultoria, também destaca que Brito e Nascimento, apesar de terem perfis completamente opostos, disputam a preferência dos parlamentares. Para ele, Brito é um parlamentar silencioso, que consegue "circular bem" em diferentes plataformas partidárias. Já Elmar Nascimento tem a preferência do atual presidente da Câmara, Arthur Lira.
Para o doutor em Ciência Política e professor aposentado da Universidade de Brasilia (UnB), Paulo Kramer, é preciso levar em conta que tanto Brito quanto Nascimento pertencem ao centrão, que é um grupo multipartidário conhecido pelo seu extremo pragmatismo. "O que desperta maior interesse nessa disputa é que ela oporá, de um lado, o presidente da Câmara dos Deputados e, de outro, o presidente da República", destaca Kramer.
"Lira opera com firmeza e habilidade o novo ambiente político (pós-presidencialismo de coalizão), no qual o avanço inédito das emendas orçamentárias dos parlamentares deixa o Executivo praticamente à míngua de margem discricionária. Lula parece funcionar com software ‘vencido’, ainda do tempo em que o presidencialismo de coalizão reinava soberano", pontua o cientista político.
Já o analista e CEO da I3P Risco Político, Leonardo Barreto, diz que Arthur Lira precisa fazer um sucessor que siga a "sua cartilha", e só se eleja por sua causa, o que pode acabar dificultando a trajetória de Antônio Brito por ter um perfil mais "independente". Para ele, pelo menos num primeiro momento, Lira não o apoiaria. Mas como o próprio Lira já sinalizou a interlocutores próximos, seu apoio será dado a quem tiver mais chances de vencer a disputa.
Veja como votou Antônio Brito em temas recentes
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Marco temporal: não votou
Vetos de Lula ao Marco temporal: pela derrubada dos vetos
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