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De acordo com o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o almirante da Marinha, Antônio Barra Torres, a agência corre o risco de colapsar em 2025 por falta de funcionários.
Segundo Torres, a situação vem sendo informada ao governo desde o início do mandato do presidente Lula (PT).
“Tem que ter gente para trabalhar. A FDA [Food and Drug Administration] nos Estados Unidos, tem 18 mil servidores. Lá tem 315 milhões de habitantes. A Anvisa não precisa ter 18 mil, mas 1,4 mil não dá. Desses 1,4 mil, 458 podem se aposentar hoje. Isso (falta de atenção) acontecia no governo passado porque era negacionista. E o governo atual?”, afirmou Torres em entrevista concedida ao jornal O Globo, nesta sexta-feira (6).
Indicado para o cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no governo passado, Torres divergiu do ex-presidente sobre a gestão da crise sanitária causada pelo Covid-19.
Segundo o diretor da Anvisa, as expectativas sobre uma eventual melhora na relação entre a agência e o novo chefe do Executivo foram frustradas.
“O presidente [Lula] se vacinou na primeira semana que sentou na cadeira. A gente falou: ‘Agora vai’. Não foi. Em dois anos, tivemos 120 vagas autorizadas, mas ele nos deu apenas 50. Então, o colapso vai ocorrer. Quando? Ano que vem, possivelmente”, disse Torres.
Rusgas com o governo Lula
O diretor também lembrou do episódio em que Lula disse que “tinha de morrer gente para acelerar o processo de análise” para liberação de medicamentos.
“O processo aqui não anda mais rápido porque é pessoa-dependente. Uma análise de uma documentação técnico-científica requer que pessoas de alta capacitação leiam, analisem, comparem, questionem. Ou seja, se eu tenho um dossiê de 15 mil páginas, que é normalmente o que acontece para uma vacina, eu tenho 10 pessoas, isso vai levar X horas. Se eu tenho 20 pessoas, vai levar X sobre 2. É cartesiano. E a Anvisa não tem gente”, afirmou Torres.
De acordo com o diretor, já foram enviados 27 ofícios para o governo sobre a situação da agência. Também foram realizadas reuniões e conversas.
“A Anvisa foi a única agência convidada a conversar com o gabinete de transição de governo federal ainda no final de 2022, quando o atual governo já estava eleito. E naquela época nós já levamos a questão de pessoal. Então, não há mais nada que a agência possa fazer”, afirmou Torres.
Questionado se a necessidade de ampliar o quadro de funcionários da Anvisa não vai contra os esforços atuais do governo para cortar gastos, Torres disse que não teve acesso ao detalhamento do pacote de cortes.