Em meio a críticas e desconfianças, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realiza nesta sexta-feira (20) uma reunião de aproximação com os militares da Forças Armadas no Palácio do Planalto. Além do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, o encontro vai contar com a presença dos comandantes general Júlio Cesar de Arruda (Exército), almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha), brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica) e o almirante Renato Rodrigues de Aguiar Freire, representante do Estado-Maior das Forças Armadas.
Apesar do tom das críticas de Lula aos militares depois do episódio de vandalismo aos prédios dos Três Poderes, integrantes do PT afirmam que essa reunião tem como objetivo o governo ouvir as demandas estruturais das Forças Armadas. Neste caso, esse encontro será uma forma de os militares apresentarem os levantamentos solicitados por Lula ainda em dezembro, quando o então presidente eleito se reuniu pela primeira vez com os integrantes das Forças Armadas.
A avaliação de integrantes do governo é de que o movimento de Lula é uma forma de mostrar diálogo e fortalecimento das instituições de defesa. Para os interlocutores do Planalto, um afastamento do governo dos integrantes das Forças Armadas poderia favorecer o crescimento de um movimento "golpista" por parte dos militares que fazem oposição ao petista neste momento.
"Eu estou chamando os comandantes para conversar porque a primeira vez que conversei com eles eu disse que gostaria de discutir o fortalecimento da indústria de Defesa nesse país. Eu pedi que cada Força me apresentasse as dificuldades estruturais, para que a gente possa ter um processo de reconstrução da capacidade produtiva da Defesa deste país", disse Lula em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (18).
Nos cálculos dos governistas, o aceno de Lula tem como objetivo mostrar que o petista não pretende manter revanchismo com os militares. Para se contrapor as eventuais resistências, o governo pretende trabalhar para reforçar as Forças Armadas como uma instituição de Estado, importante, e que tem um papel institucional.
De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, uma das possibilidades estudadas pelo governo é fechar Parcerias Público-Privadas (PPP) para garantir mais estrutura para as Forças Armadas. "Outras nações do mundo, por exemplo, nações grandes e desenvolvidas, fazem projeto de PPP para equipar suas Forças Armadas. Com isso, elas conseguem antecipar investimentos que, se fossem depender apenas de recurso orçamentário anual, não seriam possíveis", afirmou.
Lula promete punição contra militares que "colaboraram" com os atos de vandalismo
Mesmo com a estratégia de fortalecer as Forças Armadas nas questões estruturais, Lula pretende reforçar aos comandantes que os militares que compactuaram com os atos de vandalismo em Brasília serão punidos. O petista pretende sinalizar durante a reunião desta sexta que a intenção do governo é desvincular a instituição militar do movimento golpista e mostrar que eventuais colaboradores dos atos não representam todos os militares.
“Não importa a patente, não importa a força que ele participe. Todos que a gente descobrir que participaram dos atos serão punidos. Terão que ser afastados das suas funções e vão responder perante a lei", disse Lula à GloboNews.
O presidente tem indicado que é preciso "despolitizar" as Forças Armadas e devolver o papel institucional do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. "É preciso que os comandantes assumam a responsabilidade de dizer: o soldado, o coronel, o sargento, o tenente, o general, ele tem direito de voto, ele tem direito de escolher quem ele quiser para votar. Agora, como ele é um cargo de carreira, ele defende o Estado brasileiro", comentou Lula.
Nos cálculos dos governistas, é possível distensionar a relação de Lula com as Forças Armadas por meio dos militares que tem atuado na defesa das instituições neste momento político. Aliados do presidente defendem que, apesar da influência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no setor, a maioria dos militares não "embarcou" no movimento golpista dos opositores de Lula.
Criticado por alas do governo depois dos episódios de vandalismo, o ministro da Defesa, Múcio Monteiro, tem defendido que as Forças Armadas querem virar a página dos atos, apesar de, no cenário jurídico-militar, ainda haver muito caminho pela frente para punir os supostos "colaboradores". Lula descartou uma demissão de Múcio e defendeu que o seu trabalho será determinante para distensionar a relação com os militares.
"O José Múcio foi eu que trouxe para cá e ele vai continuar sendo meu ministro porque eu confio nele. É um companheiro da minha relação histórica, tenho o mais profundo respeito por ele", disse Lula depois dos atos de vandalismo em Brasília.
Desconfiança de Lula amplia lista de exonerações dentro governo federal
Apesar do aceno, Lula pretende manter o movimento de exonerar militares que ocupam cargos no governo federal. Até essa quinta-feira (19), a Casa Civil já havia publicado a exoneração de ao menos 140 militares que ocupavam cargos em setores com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o Gabinete pessoal da Presidência da República e na Secretaria Especial de Administração da Presidência.
As dispensas ocorrem após Lula manifestar publicamente desconfiança em relação aos militares. Ele disse que suspeita de que houve conivência de "gente das Forças Armadas" nos ataques às sedes dos Poderes.
"Eu estou esperando a poeira baixar. Quero ver todas as fitas gravadas dentro da Suprema Corte, dentro do palácio. Teve muita gente conivente. Teve muita gente da PM conivente. Muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Eu estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui", disse Lula na semana passada durante café com jornalistas no Planalto.
Os militares que foram exonerados continuam nas Forças Armadas, mas serão realocados em outros postos. No GSI, responsável pela segurança do Planalto, a expectativa é de que civis sejam indicados para atuação no gabinete. "Alguém achava que íamos manter os assessores do governo anterior? Não é razoável que fosse assim. O regime de governo mudou. Se mudou a filosofia, mudou o conteúdo, então tem que mudar quem está implementando isso", justificou o ministro Rui Costa.
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