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O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta terça-feira (5) que a operação de combate ao tráfico internacional de armas afeta as duas maiores facções criminosas do Brasil. Nesta manhã, a Polícia Federal, em parceria com autoridades paraguaias, deflagrou a Operação Dakovo para desbaratar uma uma quadrilha suspeita de enviar 43 mil armas entre 2019 e 2022 para facções brasileiras.
“Essa ação com o Paraguai fará com que as duas maiores facções brasileiras, que eram as destinatárias principais desses armamentos ilegais, tenham o fechamento dessa via logística para a realização da suas operações”, disse Dino em coletiva à imprensa sobre o balanço da operação. Para o ministro, os resultados marcam uma “nova fase do combate ao crime organizado no Brasil”.
Até o momento, foram cumpridos 19 mandados de prisão (5 no Brasil e 14 no Paraguai) e 38 mandados de busca e apreensão (17 no Brasil e 21 no Paraguai). De acordo com o Ministério da Justiça, desde o início das investigações, a empresa investigada movimentou, em três anos, cerca de R$ 1,2 bilhão. Na operação, também foram bloqueados R$ 66 milhões em bens e valores no Brasil, com o objetivo de identificar a lavagem de dinheiro oriunda de rede ilegal.
Dono de empresa importadora de armas é alvo de mandado de prisão
As armas eram importadas pela International Auto Supply Company (IAS), com sede em Assunção (capital paraguaia), de propriedade do argentino Diego Hernan Dirísio. A casa dele foi alvo de mandados de busca e apreensão, mas conseguiu fugir da polícia. O superintendente da PF na Bahia, Flávio Albergaria, afirmou que os policiais estão realizando diligências para localizar Dirísio no Paraguai.
O mandado de prisão foi expedido por um colegiado de juízes da Justiça Federal do Brasil, foram imputados ao argentino cerca de 30 fatos de tráfico internacional de armas, além dos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro, informou Albergaria.
“O investigado é o dono da empresa, ele coordenada todas as operações da empresa, ele atua diretamente na venda e fazia tratativas diretas da compra e revenda com consciência de que essas armas estavam sendo destinadas ao crime organizado”, disse o superintendente da PF, ressaltando que o papel de Dirísio no esquema foi comprovado pela investigação. Ele afirmou que o esquema foi possível por “atos de corrupção nos órgão de controle dentro do Paraguai”.
Dino destaca trabalho de inteligência dos investigadores
Segundo Dino, o trabalho desempenhado pela investigação é “complementar” a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em portos e aeroportos. O ministro da Justiça destacou o trabalho de inteligência desempenhado pelas autoridades de segurança, que resultou em uma operação sem violência.
“O trabalho investigativo profissional substitui com muito êxito dezenas de operações que eram feitas com tiros e que resultam, às vezes, nas famosas balas perdidas. Aqui, não houve o disparo de um único tiro e, portanto, não houve uma única bala perdida. Isso é combater o crime organizado de verdade”, disse Dino.
Albergaria afirmou que a investigação começou em 2020 a partir da apreensão de 25 armas em Vitória da Conquista (BA). Após perícia técnica, foi identificado que todas as armas tinham origem de uma empresa importadora do Paraguai, que comprava armamento da Croácia, Eslovênia, República Tcheca e Turquia, e revendia para quadrilhas brasileiras. Há indicativos de participação de doleiros e empresas de fachada dos Estados Unidos no esquema.
“Conseguimos identificar o número de série e rastreamos a origem. Encontramos várias outras armas do mesmo fabricante e demos início à apuração do tráfico internacional de armas de fogo. A partir daí, nos deparamos com grandes remessas de armas da Europa para o Paraguai, onde eram raspadas e recebiam carimbos falsos, para dissimular a verdadeira origem. Estas armas eram passadas a grupos intermediários que atuam na fronteira e revendidas às duas maiores facções do Brasil”, disse Albergaria.
Além de Dino e Albergaria, participaram da apresentação dos resultados da operação: ministro da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad/PY), Jalil Rachid, o diretor-executivo da PF, Gustavo Souza; o coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes (CGPRE/DICOR/PF), Júlio Danilo Ferreira; o coordenador-geral de cooperação jurídica internacional da PF, João Vianey Xavier Filho; o responsável pelo inquérito policial, Diego Gordilho; o diretor de Assuntos Internacionais do Ministério Público do Paraguai, Manuel Doldan; e o diretor-geral da Senad do Paraguai, Anderson Araújo.