Lideranças de PT e PSDB fizeram manifestações de aproximação nos últimos dias. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, os governadores petistas Rui Costa (BA) e Wellington Dias (PI) elogiaram a conduta do paulista João Doria (PSDB) na obtenção de vacinas contra a covid-19. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que figura como presidente de honra do PSDB, falou também que estaria aberto a conversar com petistas sobre alternativas de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). A proximidade entre petistas e tucanos, porém, deve permanecer apenas nas críticas a Bolsonaro, e motivadas pelo combate à pandemia de coronavírus. Integrantes dos partidos veem diferenças intransponíveis entre as legendas - que, em alguns casos, não seriam superadas nem com Bolsonaro como antagonista.
"Da minha parte, não tem a menor condição [de uma aproximação]. Não voto no PT em hipótese alguma", afirmou o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF). O parlamentar tem se distanciado do Palácio do Planalto, mas foi vice-líder do governo no Senado até setembro do ano passado. Antes de Izalci, o PSDB no Senado era liderado por Roberto Rocha (MA), que costuma elogiar Bolsonaro e foi chamado pelo presidente de "melhor senador do Brasil".
Izalci é um dos signatários do pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para apuração da atuação do governo federal no combate à covid-19. A requisição da CPI é encampada por um oposicionista, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), tem nos adversários do governo Bolsonaro a maior parte de seus defensores. "Sou favorável à CPI porque acho que temos que investigar tudo o que for possível, e a CPI é o instrumento para isso", declarou Izalci. O tucano, porém, ressalvou que endossa um pedido apresentado pelo colega Eduardo Girão (Podemos-CE), o de que a CPI também apure eventuais falhas de estados e municípios na gestão das políticas de enfrentamento à pandemia. A responsabilização de prefeitos e governadores tem sido um dos principais discursos de Bolsonaro para minimizar o impacto do governo federal nos efeitos da pandemia.
Doria ou Leite, tanto faz
PSDB e PT protagonizaram todas as eleições presidenciais brasileiras entre 1994 e 2014. Nessas disputas, os partidos sempre tiveram ou o eleito ou o segundo colocado. O ciclo foi quebrado em 2018, quando Jair Bolsonaro, então representante do PSL, foi o vitorioso, e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, obteve menos de 5% dos votos válidos no primeiro turno.
Um dos elementos que contribuiu para o fracasso do PSDB em 2018 na corrida presidencial foi a ascensão de João Doria. O empresário, que nunca havia disputado uma eleição, foi alçado por Alckmin a candidato à prefeitura de São Paulo em 2016. Venceu a disputa, iniciou um governo com boa avaliação popular e começou a aspirar uma candidatura presidencial, ideia em que "roubaria a vez" de Alckmin. Não concorreu ao Planalto; disputou o governo de São Paulo. Mas foi criticado por membros do PSDB por não ter se empenhado pela candidatura de Alckmin, que somou menos de 10% dos votos em seu estado. No segundo turno, Doria foi um dos principais entusiastas de Bolsonaro, com a marca "bolsodoria". Pouco depois da eleição, porém, ele e o presidente se tornaram adversários - Bolsonaro é crítico das pretensões eleitorais de Doria, que fala em ser o candidato do PSDB à Presidência em 2022.
Nas últimas semanas, porém, outro nome cresceu no PSDB como alternativa presidencial: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O presidente nacional do partido, Bruno Araújo, anunciou que os tucanos farão prévias ainda em 2021 para selecionar o nome para a disputa ao Palácio do Planalto.
Do lado do PT, o impasse tucano entre Doria e Leite é desconsiderado. "Isso é um problema deles, não nosso. Não é uma discussão que nos interesse. Nós vamos ter um candidato, que será competitivo", afirmou o deputado estadual Paulo Fiorillo (PT-SP). O PT trabalha com o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se tornou elegível após a anulação de suas condenações na Lava Jato.
Líder do PT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, o deputado Pepe Vargas diz não ver diferença entre Doria e Leite. "Sob o ponto de vista econômico, não há diferenças. Ambos defendem a mesma política econômica, que é a de privatizações, de ataque ao serviço público, às tributações regressivas", apontou.
Fiorillo e Vargas concordam com a possibilidade de diálogo entre petistas e tucanos para o combate ao governo Bolsonaro, mas endossam que as discussões não devem prosseguir. "Uma coisa é estabelecer uma aliança tática no sentido de defender o processo democrático, de governadores discutirem a gestão integrada do combate à pandemia. Outra é uma aliança eleitoral, o que não vejo possibilidade de acontecer", afirmou Vargas.
PSDB insiste em 'bolsopetismo'; PT deixa tucanos de lado
O PSDB, em seus perfis nas redes sociais, tem feito diversas críticas ao governo Bolsonaro, em especial pelas políticas de combate à pandemia de coronavírus. O partido chegou a publicar, no dia 23, um vídeo em resposta ao pronunciamento que o presidente veiculou em rede nacional de televisão e rádio no mesmo dia. Na peça, os tucanos apontam supostas contradições do presidente da República.
Grande parte das críticas feitas pelo PSDB a Bolsonaro, porém, ainda mantém o PT como referência. É habitual que o partido publique textos e análises em que se posicione como contrário às duas correntes e aproxime Bolsonaro aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Por exemplo, em 22 de fevereiro publicação do partido disse que Bolsonaro e o PT estiveram do mesmo lado em debates como a implantação do Plano Real e as primeiras versões da reforma da previdência. Já em 23 de fevereiro e 2 de março, o PSDB utilizou a frase "Jair é Dilma outra vez", para criticar decisões no campo econômico do governo atual.
Na mão oposta, o PSDB saiu do foco do PT. Os tucanos não têm figurado como alvo de discursos ou outros posicionamentos dos integrantes do partido. O foco do PT tem se direcionado principalmente a Bolsonaro e, mais recentemente, ao ex-juiz Sergio Moro e aos integrantes da Lava Jato.
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