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Dioplomacia

Pontes, blindados e gasoduto: Argentina quer relação pragmática, mas sem elo entre Lula e Milei

Diana Mondino e Mauro Vieira - Brasil - Argentina - Lula - Javier Milei
Diana Mondino esteve em Brasília e afirmou que Brasil ocupa posição de "centralidade e relevância" para a Argentina. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

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A visita da chanceler da Argentina, Diana Mondino, ao Brasil nesta semana, reforça que o relacionamento diplomático entre os dois países deve ser mantido na esfera técnica, mas sem aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei. Na pauta de negociações entre os dois países estão a conclusão do gasoduto de Vaca Muerta, a construção de pontes na fronteira e uma possível venda de carros e combate feitos no Brasil.

Mondino afirmou em encontro com seu par no Brasil, o chanceler Mauro Vieira, que a cooperação entre os dois países será mantida através de acordos na área da Defesa e infraestrutura.

“Tivemos um diálogo aprofundado sobre o conjunto de temas de maior e mais imediato interesse para os dois países. Além de intercambiar as percepções e perspectivas gerais das relações bilaterais, examinamos em uma conversa privada os processos de integração regional em curso e a situação da região”, afirmou o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, após encontro com Mondino em Brasília na terça-feira (16).

Vieira e Mondino também trataram sobre a conclusão do gasoduto de Vaca Muerta. O governo petista já vinha tentando fechar o acordo com o então presidente esquerdista Alberto Fernándes para fortalecê-lo contra Milei. A ideia do Brasil era financiar o Brasil gasoduto com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social.

Apesar do governo Lula ter tentado acelerar o acordo no ano passado, o projeto não tem caráter apenas político. Isso porque atualmente o país compra gás natural da Bolívia, mas analistas apontam que as jazidas bolivianas estão no fim e um novo fornecedor deve ser encontrado. A Argentina é a principal candidata.

Os chanceleres também trataram da renovação de acordos sobre pontes binacionais e sobre uma licitação para construir uma ponte ligando São Borja, no Brasil, a Santo Tomé, na Argentina. Também abordaram o tema da uma possível venda de blindados Guarani, produzidos por uma multinacional no Brasil, para o governo argentino.

"Nossos governos estão comprometidos em seguir trabalhando para ampliar e aprofundar essa relação”, afirmou Modino após ter uma série de reuniões com Vieira no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores em Brasília. A chanceler argentina chamou a relação com o Brasil de "aliança estratégica".

A chefe da diplomacia da Argentina também afirmou ter interesse em "ampliar" as discussões e o multilateralismo através do Mercosul, bloco regional formado por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e, desde o ano passado, a Bolívia. A afirmação de Mondino volta a colocar um tom ameno em declarações anteriores de Javier Milei, que havia ameaçado deixar o bloco caso fosse eleito para a presidência argentina.

Milei deve manter acordos com Brasil, apesar de não manter laços com Lula

Os próximos meses, conforme apurou a Gazeta do Povo com membros do governo argentino, devem ser de negociações entre Brasil e Argentina. No encontro entre Mondino e Vieira desta semana, a chanceler argentina reforçou o interesse do país em manter negociações iniciadas na gestão anterior e que, nos últimos meses, estavam paralisadas.

A principal delas, deve ser o acordo sobre o gasoduto de Vaca Muerta. A ministra de Javier Milei chegou a se encontrar com o vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, para tratar sobre o tema. No ano passado, alas do governo federal tiveram intensas negociações com o ex-presidente da Argentina Alberto Fernández com a intenção de negociar um financiamento para concluir as obras do Gasoduto Néstor Kirchner.

A instalação está localizada na região de Vaca Muerta, uma formação geológica situada no norte da Patagônia, na Argentina. A construção teve uma primeira parte inaugurada ainda no ano passado. A obra é vantajosa para a Argentina e também para o Brasil, que tem interesse em fazer o transporte do gás natural a terras brasileiras com a intenção de substituir um possível desabastecimento da Bolívia, principal fornecedor de gás natural do Brasil.

A princípio, as tratativas buscavam uma ação comum por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e bancos da Argentina e da América Latina para financiar a finalização da obra. Porém as negociações não foram concluídas. Na visita de Mondino nesta semana, a chanceler reforçou o interesse de seu país em manter as conversas sobre o financiamento para o gasoduto, que devem prosseguir nos próximos meses.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também afirmou que as tratativas sobre a venda de blindados Guaranis para o governo argentino serão mantidas. No ano passado, os dois países assinaram uma Carta de Intenções que previa um acordo para a venda de 156 carros de combate para Buenos Aires. A negociação não chegou a ser fechada e, conforme apurou a reportagem com membros do governo argentino, ainda não há detalhes de como os diálogos podem seguir nos próximos meses.

O encontro entre chanceleres também contou com conversas sobre pontes binacionais entre os dois países, como a licitação para a ponte São Borja-Santo Tomé, localizada no Rio Uruguai e que interliga os dois países.

Afastando a possibilidade de qualquer distanciamento entre os países, devido ao ruído entre Lula e Milei, a chanceler Diana Mondino afirmou que "os projetos entre Brasil e Argentina são independentes e superiores a quem quer que esteja dirigindo os destinos de ambos os países”.

Relação Brasil-Argentina avança, mas Milei e Lula não devem estreitar laços

Apesar de terem adotado um tom mais moderado, Lula e Milei provam que não estão do “mesmo lado da moeda”. Enquanto o brasileiro tem adotado discursos radicais voltados para esquerda, Milei tem caminhado na direção das democracias liberais e da direita. Um exemplo disso, é a forma como os dois líderes têm se posicionado sobre os conflitos em curso no mundo.

O presidente Lula proferiu diversos ataques verbais contra Israel desde que o país foi invadido pelo grupo terrorista Hamas. O petista chegou a acusar o país de cometer genocídio contra o povo palestino e causou um ruído diplomático com Jerusálem depois que comparou a contraofensiva israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto na Segunda Guerra Mundial.

Javier Milei, por outro lado, chegou a visitar Israel depois que o país foi atacado pelo Hamas. Em fevereiro deste ano, o argentino declarou apoio ao país e defendeu o direito de Israel de se defender — postura oposta à de Lula.

Mais recentemente, o libertário comemorou uma decisão de um tribunal de cassação argentino. O órgão determinou que o ataque cometido em 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994, foi patrocinado pelo Irã. De acordo com Milei, a decisão colocou fim a “décadas de adiamento e encobertamento”. A decisão foi vista como mais um aceno do argentino à Israel.

Milei também deu uma alfinetada em Lula na última semana. Após a repercussão da exposição feita pelo empresário Ellon Musk sobre ações de censura do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ao X (antigo Twitter), Milei demonstrou apoio a Musk.

O empresário, que é o dono da rede social, acusou Moraes de censura e expôs que o ministro vinha pedindo a suspensão de dezenas de perfis na plataforma ligados ao “bolsonarismo”. Após a exposição feita por Musk, Moraes ordenou que o bilionário fosse incluído no inquérito das milícias digitais e investigado por obstrução da Justiça.

Lula não fez comentários diretos sobre o caso, mas fez referências em recentes discursos. Na última semana, o petista afirmou que o “extremismo” possibilitou que “empresário americano, que nunca produziu um pé de capim desse país, ouse falar mal da Corte brasileira, dos ministros brasileiros e do povo brasileiro".

Após a polêmica, o argentino se reuniu com Musk durante uma viagem que fez aos Estados Unidos. De acordo com o embaixador argentino no país norte-americano, Gerardo Werthein, Javier Milei ofereceu “ajuda” ao bilionário no seu “conflito” no Brasil. A ideia seria acolher funcionários do X que pudessem ser ameaçados pelo STF. Em visita ao Brasil, a chanceler argentina, Diana Mondino, tentou apaziguar a situação e garantiu que não haverá interferência da Argentina em assuntos internos do Brasil.

“Os temas internos e judiciais de cada país são próprios de cada país. O governo argentino jamais vai interferir nos processos democráticos ou nos processos judiciais de cada país. Confiamos na Justiça de cada país. Nós defendemos a liberdade de expressão em todos os sentidos”, disse Mondino a jornalistas no Itamaraty.

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