Arthur Lira e Baleia Rossi| Foto: Agência Câmara
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A menos de um mês para a disputa da presidência da Câmara, os deputados Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) fazem as contas de quantos votos podem contar para a votação, em 1.º de fevereiro. No papel, Baleia Rossi tem mais votos que Lira e poderia vencer já no primeiro turno. Mas, como a votação é secreta, podem ocorrer traições, e o resultado é imprevisível. Lira conta com o apoio de dissidentes do bloco de Rossi, e vice-versa.  Ambos candidatos montaram suas planilhas e iniciaram a contagem “voto a voto”, com direito a checagem nominal e por bancadas partidárias e estaduais.

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Os partidos que declararam apoio a Baleia Rossi, candidato do grupo de Rodrigo Maia (DEM-RJ), somam 278 dos 513 deputados. São 11 legendas que apoiam o emedebista: MDB, PT, PSL, PSDB, PSB, DEM, PDT, PCdoB, Cidadania, PV e Rede. Caso Baleia Rossi, de fato, obtivesse de 100% desse apoio, estaria eleito. Para vencer, um candidato precisa de de 257 votos.

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Já Arthur Lira – o candidato do presidente Jair Bolsonaro e do Centrão – é apoiado formalmente por PP, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Pros, PSC, Avante e Patriota. Em tese, ele conta com 195 votos.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, assegurou que os 11 deputados petebistas vão apoiar Lira. O candidato do PP também dá como certo que terá os 10 votos do Podemos. Nesse caso, Lira teria 216 votos – ainda assim, insuficientes para elegê-lo.

A questão, entretanto, é que que Lira calcula que pode ultrapassar os 300 votos devido ao apoio de deputados do bloco rival. Rossi não acredita nesse cenário, mas sabe que perderá alguns votos. E também conta com traições do lado adversário.

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Lira pode conquistar entre 67 e 107 votos de ‘traidores’ de Rossi

Ainda na terça-feira (05), Lira iniciou sua agenda de viagens pelo país com a companhia de integrantes dissidentes de partidos do bloco de Rossi. Em viagens ao Pará e Amapá, o líder do Centrão esteve acompanhado dos deputados Elmar Nascimento (DEM-BA) e Celso Sabino (PSDB-PA) – parlamentares de dois partidos que, em tese, estão com Baleia Rossi.

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DEM e PSDB estão divididos para a disputa, embora formalmente apoiem o candidato do MDB. Elmar Nascimento iniciou um movimento para rachar sua legenda, o DEM. A promessa é de entregar pelo menos 14 votos a Lira. Já Celso Sabino compõe a ala tucana que pode levar, no mínimo, 16 votos a Lira.

Entre os partidos da centro-direita, soma-se ao DEM e PSDB os 25 votos de deputados “bolsonaristas” do PSL que irão apoiar Lira, embora o partido esteja com Baleia Rossi.

O antigo partido de Bolsonaro tem 53 deputados, dos quais 12 estão suspensos. Mas o Regimento Interno da Câmara dos Deputados prevê que a suspensão de um congressista não o impede de votar na eleição para o comando da Casa.

Além do racha nessas três legendas, Lira também acredita que contará com 14 votos do PDT e 15 do PSB – siglas que estão com Baleia Rossi.

Lira também calcula em sua planilha ter 23 votos do PT, partido que tem 52 deputados e que oficialmente está com Baleia Rossi.

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Ou seja, com todos esses votos advindos do racha de partidos que compõem o bloco adversário, Lira acredita que conseguirá 107 votos de dissidentes do rival emedebista. E esse número pode ser maior. A aposta do líder do Centrão é de que ele contará até mesmo com alguns votos do MDB.

Mesmo deputados de partidos do bloco de Baleia Rossi que votarão no emedebista reconhecem à Gazeta do Povo que haverá traições e que o cenário é desfavorável. “Meu voto será do Baleia pelo compromisso do [presidente da Câmara] Rodrigo Maia com o PDT. Mas, hoje, eu apostaria na vitória do Arthur”, diz um deputado pedetista.

“O Arthur vem muito forte. Tenho visto várias pessoas que devem muito ao Maia abandonando ele”, diz um deputado do PSB. A promessa do líder do Centrão de um assento na Mesa Diretora ao PSB seduziu boa parte dos congressistas.

Embora reconheçam que, em alguns partidos, o tamanho do racha possa chegar à metade da bancada, esses deputados que apoiarão Rossi não acreditam em que o candidato do Planalto terá 107 votos que, em tese, seria do adversário.

“Eu acho que, de todo o bloco do Baleia, o Arthur vai conseguir entre 20% a 30% de cada partido”, diz um congressista da oposição. À exceção dos 25 votos dos “bolsonaristas” do PSL – tidos como ‘certos’ por Lira –, se o líder do Centrão obtiver esse mínimo de 20% de cada uma das outras 10 legendas, poderia atingir cerca de 67 votos de deputados dissidentes do bloco emedebista.

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Baleia não joga a toalha e também tenta tirar votos de Lira

Caso Lira consiga, de fato, tirar de Rossi de 67 a 107 votos, o apoio ao emedebista cairia para entre 171 e 211 deputados – o que significa derrota. Para evitar isso, ele também procura votos dentro do bloco adversário. E isso pode ocorrer.

Um correligionário e aliado do líder do Centrão assume à Gazeta do Povo que, além de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), outros “três ou quatro” deputados do PP podem votar no emedebista.

O Solidariedade, que integra o Centrão, é outra legenda da qual Baleia Rossi tenta puxar votos. O presidente da legenda, deputado Paulinho da Força (SP), tem tido atritos com Bolsonaro – o que pode complicar a situação para Lira. Em 2020, Paulinho disse que negou uma oferta do governo para "apadrinhar" indicações para o Porto de Santos. Em 2019, chegou a propor uma desidratação da reforma da Previdência para não dar permitir a reeleição de Bolsonaro.

Um partido do qual será difícil tirar votos de Lira é o Republicanos. Aliados de Baleia Rossi apostam que todos seus deputados votarão com Lira. O sentimento é de que Rodrigo Maia, "padrinho" da candidatura de Rossi, traiu seu presidente nacional, Marcos Pereira (SP), ao decidir apoiar o emedebista. Pereira queria concorrer à presidência da Câmara com o apoio de Maia.

Dentro do PSD, a previsão também é de apoio maciço ao líder do Centrão. À Folha de São Paulo, o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, prometeu que os 35 deputados do partido votarão com Lira. Já no PL, acredita-se que, à exceção de uns dois ou três deputados que devem acompanhar a candidatura avulsa do deputado Capitão Augusto (SP), os outros devem ficar com Lira.

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O entorno político de Baleia Rossi acredita, contudo, que ele conseguirá equilibrar a disputa e mitigar os impactos do racha em seu bloco. “Não dá para fazer um cálculo exato. Se mantiver desse jeito e não tiver nenhum fato novo, algum escândalo, a eleição será equilibrada. Até porque o governo não tem cumprido com sua parte”, diz um aliado do emedebista. “O Planalto liberou alguns extras [emendas parlamentares não impositivas] a alguns deputados. Mas a outros, [não liberou] nada”, acrescenta.

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Pulverização de candidaturas e aliança com governo favorecem Lira

As falhas do governo em honrar com compromissos com os deputados – como a liberação de emendas parlamentares e distribuição de cargos – pode, sim, comprometer a candidatura de Lira, reconhecem aliados do líder do Centrão. Interlocutores ponderam que muitos dos votos não são necessariamente “pró-Lira”, mas sim votos “pró-aproximação” com o governo.

“Sem o governo, muitos deputados não fazem políticas com seus estados, com os prefeitos. E o Arthur está conseguindo muitos votos de deputados que acreditam que, com ele na presidência, conseguirão ser atendidos”, explica um deputado aliado de Lira. “O Arthur tem uma coisa a favor dele: ele cumpre acordos. Se for eleito e o governo pedir votos para uma votação importante, ele os entregará. Mas o Planalto precisará fazer sua parte e cumprir com os compromissos feitos”, acrescenta.

Membros da articulação política do governo asseguram que são sensíveis às demandas do Parlamento e não deixarão de atender os compromissos firmados. Portanto, é esperado que as promessas sejam cumpridas. “O governo sabe que essa eleição da Câmara é essencial. Não só para os dois próximos anos, mas também também para a reeleição”, diz um interlocutor do Planalto à Gazeta do Povo.

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Para muitos deputados, o cumprimento da palavra é suficiente para que o governo atue como o fiador de boa parte dos votos de Lira, sobretudo os indecisos.

Mas isso não é tudo o que o leva a acreditar em sua vitória. A pulverização de candidaturas avulsas e outras como terceira e quarta via jogam a seu favor.

O deputado Fábio Ramalho (MDB-MG), que lançará sua candidatura avulsa, é tido como alguém que pode puxar votos de ambos os lados. O deputado Capitão Augusto (PL-SP) também. Além deles, Psol e Novo – que não integram nenhum bloco – podem lançar candidaturas próprias.

Com outras quatro candidaturas na disputa, a possibilidade de tanto Rossi e Lira perderem votos é significativa. Porém, devido aos votos de dissidentes, o líder do Centrão pode ter mais apoio, avaliam interlocutores de Lira.

Num eventual segundo turno, a aposta também é de favoritismo de Lira, que contaria com votos de Ramalho, Augusto e do candidato do Novo.

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