A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados deverá contar com uma candidatura do Psol e com a de Marcos Pereira (Republicanos-SP), atual vice-presidente da Casa. Mas o favoritismo, no momento, recai sobre outros dois projetos. Um é o do líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), que é também visto como o candidato oficial do presidente Jair Bolsonaro. O outro ainda não tem o titular definido, mas é chefiado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), impossibilitado de concorrer à reeleição.
Lira e o candidato do grupo de Maia chegarão às eleições respaldados por um número considerável de partidos e também por trajetórias que os colocam como veteranos na política. Há também semelhanças em relação à possibilidade de diálogo com os diferentes grupos que compõem o Legislativo. Apesar de alguns nomes despertarem rejeição, tanto Lira quanto o grupo de Maia conseguem transitar entre os mais diversos segmentos ideológicos.
A eleição da Câmara está agendada para o dia 1º de fevereiro de 2021. Será vitorioso o candidato que obtiver a maioria simples dos 513 votos possíveis. A eleição pode ter dois turnos, se nenhum candidato receber a maioria ainda na primeira rodada de votação. As últimas três disputas foram vencidas por Rodrigo Maia. Em 2016, ele derrotou Rogério Rosso (PSD-DF) em uma eleição atípica, feita para a escolha do sucessor de Eduardo Cunha (MDB-RJ). No ano seguinte, Maia teve 58% dos votos e venceu a votação já em primeiro turno. O democrata também foi o vitorioso em primeiro turno em 2019, quando teve 65% dos votos, já em uma nova legislatura.
Arthur Lira largou na frente?
Arthur Lira lançou sua candidatura na quarta-feira (9). Ele é, até o momento, o único deputado a se colocar formalmente como candidato a presidente da Câmara. Isso dá ao alagoano uma vantagem na disputa — principalmente porque o outro lado ainda não conseguiu fechar consenso em torno de um nome.
O grupo de Maia tem quatro pré-candidatos: Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi (MDB-SP), Luciano Bivar (PSL-PE) e Elmar Nascimento (DEM-BA). Ribeiro e Rossi despontam, no momento, como os mais cotados para encabeçar o projeto. É possível que a apresentação do nome ocorra nas próximas horas.
O fato de Arthur Lira ter se posicionado como candidato é visto, até por adversários, como um trunfo, já que com isso ele consegue se antecipar às negociações e ocupar espaços que ainda estão vazios. Mas, na última quinta-feira (10), Maia ironizou a condição. O presidente da Câmara citou o que ocorre com o também deputado Celso Russomanno (Republicanos-SP), que nas três últimas eleições municipais tentou, sem sucesso, ser prefeito de São Paulo. "Há quantas eleições o Celso Russomanno sai na frente e termina em último? Ou em quarto ou terceiro? Sair em primeiro não significa nada. O que significa é a construção de um projeto político que fique de pé", afirmou.
Tamanho inicial dos apoios
O ato de lançamento da candidatura de Lira registrou a presença de representantes de oito partidos: PL, PSD, Avante, Patriota, Solidariedade, Pros e PSC, além do próprio PP de Lira. Somadas, as bancadas dessas legendas reúnem 160 parlamentares. O PTB, que tem 11 deputados, também pode se juntar ao grupo.
Já o grupo de Maia gira em torno de seis partidos, cujas bancadas somam 141 integrantes: MDB, PSDB, DEM, Cidadania, PV e PSL.
Em ambos os casos, os números oficiais de deputados não devem ser interpretados como garantia definitiva de votos. Como a votação para a presidência é secreta, nem sempre acordos firmados pela liderança são mantidos pela base. Além disso, há deputados que já manifestaram que não necessariamente votarão com as suas bancadas. O exemplo mais forte é o de Aguinaldo Ribeiro, que é do mesmo PP de Arthur Lira, mas pode ser o adversário do alagoano.
Relação de Arthur Lira com o governo
Arthur Lira é o candidato oficial do governo Bolsonaro. O apoio do Planalto à sua candidatura chega a incluir reuniões entre deputados e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, em que teria sido apresentada a possibilidade de concessões de emendas em troca de voto.
Apesar disso, Lira não necessariamente tem utilizado a prerrogativa de nome do Planalto em sua campanha. Ao contrário: na cerimônia de lançamento da candidatura, o deputado não mencionou o nome de Bolsonaro em nenhum momento e enfatizou que será um presidente que buscará a independência da Câmara.
Já Rodrigo Maia tem buscado, em entrevistas recentes, dizer que a principal diferença entre uma eventual gestão de Lira e de um membro de seu grupo será a de que o alagoano buscará avançar na "pauta de costumes", com temas como a flexibilização do porte de armas. Segundo Maia, a maior parte dos deputados é contrária à agenda de costumes, e isso poderia contribuir para a derrota de Lira.
Marcelo Ramos (PL-AM), que era pré-candidato, mas retirou seu nome e passou a apoiar Lira, rejeitou a possibilidade: “não há chance de, num momento de pandemia, que exige esforços para o combate aos efeitos sanitários, econômicos e sociais da crise, a Câmara dar centralidade à pauta de costumes. Isso está fora de cogitação”, disse, em entrevista ao Correio Braziliense.
Diálogo com a esquerda
A agenda de costumes — ou melhor, o combate a ela — é um dos pontos mais caros à esquerda da Câmara. O grupo, que faz oposição ao governo Bolsonaro, pode ser o fiel da balança em uma disputa que se revela equilibrada até o momento.
Tanto Arthur Lira quanto Rodrigo Maia iniciaram negociações com as forças de esquerda para a disputa atual. Lira chegou a sair na frente ao receber um indicativo de apoio do PSB e ver correr a informação de que frearia o "lavajatismo" na Câmara, o que agrada o PT.
Mas notícias posteriores acabaram contrariando o alagoano, já que a Executiva Nacional do PSB vetou por unanimidade o apoio a "candidatos do governo Bolsonaro" e a direção do PT emitiu uma nota indicando que a bancada do partido deve se somar a forças de esquerda.
O rótulo de "candidato do governo" inibe o apoio da esquerda a Lira, o que pode beneficiar o nome de Maia. Em 2019, o atual presidente da Câmara foi eleito com o apoio de, entre outros partidos, o PCdoB.
Questão partidária
Embora as eleições de Câmara e Senado sejam, na teoria, disputas desvinculadas, os parlamentares das duas casas do Congresso habitualmente aproximam uma disputa da outra, especialmente para a formação de alianças. E este contexto, agora, pode enfraquecer a candidatura do grupo de Rodrigo Maia.
Isso porque será pouco provável que os congressistas queiram repetir o que houve em 2019, quando as duas presidências foram conquistadas pelo mesmo partido, o DEM. Para agora, é mais provável que uma legenda avance em uma Casa para ceder na outra.
Neste contexto, o fato de MDB e DEM terem nomes fortes para o Senado — Eduardo Braga (MDB-AM), Eduardo Gomes (MDB-TO), Simone Tebet (MDB-MS) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), entre outros — pode afastar apoio dos parlamentares a essas siglas na Câmara. O crescimento do nome de Pacheco reduziu a possibilidade de Elmar Nascimento (DEM-BA) concorrer ao comando da Câmara. Como o PP tem uma bancada menor no Senado, Lira fica menos próximo desta "ameaça".
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