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Líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL) é o candidato do Palácio do Planalto para substituir Rodrigo Maia na presidência da Câmara.
Líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL) é o candidato do Palácio do Planalto para substituir Rodrigo Maia na presidência da Câmara.| Foto: Câmara dos Deputados

O deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato à presidência da Câmara, publicou em suas redes sociais no último dia 16 que se mobilizará para que a nova mesa diretora da Casa tenha uma mulher em sua composição. O posicionamento é simpático a grupos progressistas, que historicamente se queixam da pouca representação feminina na direção da Câmara.

Já na segunda-feira (21), Lira postou que a função do presidente é coordenar os trabalhos da Casa e que "a nova Câmara é aquela que não barra nem libera as chamadas iniciativas radicais". Assim, sinalizou aos defensores de pautas que o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considera como divisivas, como a chamada agenda de costumes.

Os agrados a grupos distintos de parlamentares marcam a campanha de Lira ao comando da Câmara, com foco na eleição marcada para o dia 1º de fevereiro. O deputado tem construído sua campanha com um conjunto diverso de propostas que não se restringem a grupos específicos e que buscam fazer de sua candidatura mais do que um projeto de um "escolhido do governo" — o que de fato ele é, já que conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro.

Lira também tem conduzido suas tratativas com a abordagem de que buscará romper uma "panelinha" que teria se instalado na Câmara sob a gestão de Rodrigo Maia. Segundo o alagoano e seus aliados, o atual presidente não tem democratizado a gestão da Casa, o que leva a pautas de votação com temas apenas de interesse de Maia e dos deputados mais próximos a ele.

O deputado de Alagoas lançou sua candidatura no dia 9 e é, até o momento, o nome mais forte a se colocar oficialmente como concorrente ao comando da Câmara. O grupo de Rodrigo Maia, que já fechou apoio de uma gama de partidos que vai do PT ao PSL, ainda não escolheu seu representante: os mais cotados são Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP). Outros nomes também colocados na disputa são Fábio Ramalho (MDB-MG) e Capitão Augusto (PL-SP), que devem concorrer sem o apoio de seus partidos.

"Para toda a Câmara ter voz" é o slogan de Arthur Lira

O slogan que Arthur Lira tem utilizado em sua campanha é "para toda a Câmara ter voz". A frase remete à abordagem do deputado em indicar aos pares que sua gestão será mais "democrática" do que a de Maia ou à de um aliado do presidente da Câmara. A ideia é expandir a mais deputados o direito de sugerir os temas a serem votados e também de garantir a mais parlamentares o comando de comissões e projetos de relevo.

"Os deputados do grupo dele estão nos abordando e dizendo que haverá uma valorização de todos os deputados, não apenas de um grupo de 30 como há hoje. Eles também dizem que haverá respeito tanto aos veteranos quanto aos novatos", afirmou à Gazeta do Povo um deputado do PSB. O partido é um dos que rachou por conta da disputa da Câmara. A executiva nacional da legenda vetou o apoio a Lira, mas parlamentares haviam sinalizado voto no deputado do PP.

"Não votarei nele por causa de qualquer promessa de pautar proposições que tratam de costumes. Mas sim pela promessa dele que a pauta não será mais do presidente, mas sim da Casa como um todo", declarou o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP), que é defensor do governo Bolsonaro.

Composições partidárias

Arthur Lira também tem avançado em sua candidatura por conta dos posicionamentos que dá a diferentes partidos, no sentido de que uma vitória sua poderá representar a valorização das legendas. Sua aproximação com o PL foi o que levou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) a retirar a pré-candidatura à presidência — o amazonense recebeu a promessa de que será o vice-presidente da Câmara caso Lira vença a eleição.

O deputado do PP também costura acordos que envolvem outras legendas, como Republicanos e Podemos. A Folha de São Paulo revelou que Lira compôs com o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP) — que também buscava ser candidato ao comando da Casa, — um acordo para atrair o Podemos à candidatura; em troca, o Republicanos apoiaria a deputada Renata Abreu (SP) na disputa pelo Senado em 2022. O acordo incluiria até a bênção do Podemos ao nome do deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) a uma vaga no Tribunal de Contas da União. Jesus, em suas redes sociais, negou a especulação.

Vice-líder do Podemos, o deputado José Nelto (GO) afirmou que seu partido ainda não definiu o posicionamento nas eleições, e que buscará a adesão a alguma candidatura que amplie a particpação dos parlamentares. "O presidente da Câmara não pode decidir mais a pauta sozinho. É preciso que a pauta seja decidida verdadeiramente por todos o líderes, que também devem consultar suas bancadas. E também é importante que o presidente da Câmara não seja o 'presidente do governo', e sim da Câmara dos Deputados", acrescentou.

Um grupo de 29 deputados, pertencentes a nove partidos — Novo, PSL, Cidadania, PSB, PP, DEM, PSC, PSDB, Avante — divulgou nesta terça uma carta em que estabelecem pontos para apoio a uma candidatura na Câmara. Entre os temas, estão a defesa de uma reforma no regimento da casa e a votação de projetos como as reformas tributária e administrativa e a PEC do pacto federativo.

A lista de parlamentares que assina o texto inclui de apoiadores do governo, como Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP), até deputados que contestam o Planalto, como Tiago Mitraud (Novo-MG) e Kim Kataguiri (DEM-SP).

Votação secreta torna resultado imprevisível

A campanha na Câmara é influenciada também pelo fato de que a escolha para a presidência se faz por meio de voto secreto. Isso permite que deputados contrariem as orientações de bancada. Dois deputados de legendas diferentes que conversaram com a Gazeta do Povo sobre a eleição indicaram que não necessariamente votarão de acordo com as definições estabelecidas pelas cúpulas de seus partidos.

As possíveis "deserções" são importantes no cenário atual, em que uma das mostras de força dos dois grupos principais é a apresentação do apoio formal de partidos. Arthur Lira lançou a sua candidatura ao lado de oito legendas — PL, PSD, Avante, Patriota, Solidariedade, Pros e PSC, além do seu PP. Já Maia compôs seu bloco com seis partidos — DEM, MDB, PSDB, Cidadania, PSL e PV — e, posteriormente, conseguiu a adesão de PT, PSB, PDT, Rede e PCdoB.

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