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Aliados do governo eleito?

Articulações de Bivar com Lula aprofundam racha no União Brasil

Luciano Bivar, presidente do União Brasil
Luciano Bivar, presidente do União Brasil, tem conversado com o PT sobre eventual apoio ao governo Lula (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

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As articulações entre o PT o presidente nacional do União Brasil, o deputado federal Luciano Bivar (PE), estão dividindo o partido originado da fusão entre PSL e DEM. Lideranças e alas da legenda, que tem em seus quadros expoentes antipetistas como o senador eleito Sergio Moro (PR), divergem sobre a possibilidade de integrar a base do governo eleito nos próximos quatro anos e aprofundam uma divisão interna existente desde a pré-campanha eleitoral.

Na quarta-feira (16), Bivar discutiu a hipótese de adesão à base do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. O encontro em si irritou algumas lideranças da "ala do DEM" que são contrárias a uma composição com o governo eleito, sobretudo por não terem sido consultadas sobre a agenda.

Mesmo quadros políticos favoráveis às conversas e à possibilidade de adesão do União Brasil à base petista negaram conhecimento sobre a reunião. O deputado federal Delegado Waldir (UB-GO), ex-líder do PSL, diz que Bivar dá transparência e esclarecimentos sobre articulações políticas, mas afirma à Gazeta do Povo que não houve "qualquer informação" sobre o encontro com Gleisi.

A articulação de Bivar alimentou ainda mais as críticas internas no partido, sobretudo de lideranças egressas do DEM. O deputado federal eleito Mendonça Filho (UB-PE), ex-ministro da Educação na gestão Michel Temer (MDB), disse ao site O Antagonista na terça-feira (15) que "tudo que o PT pensa, nós pensamos de forma diferente". Ao Rádio Jornal Interior em 7 de novembro, ele disse que faria oposição devido a seu "histórico de oposição ao PT".

Por que o União Brasil se divide sobre oposição ou base a Lula

A "ala do PSL" do União Brasil é composta por membros que racharam com o presidente Jair Bolsonaro (PL) após sua desfiliação do partido. A maioria apoia uma composição com Lula sob a justificativa de enfraquecer o "bolsonarismo" e fortalecer a democracia e a construção de quadros mais "moderados" da direita política.

Em razão disso e do empoderamento que a composição da Executiva Nacional do União Brasil deu no processo de fusão a Bivar, ex-presidente nacional do PSL, membros do partido desse grupo defendem uma adesão ao governo petista. Alguns até entendem que o cenário mais provável é de o partido apoiar o governo Lula.

A possibilidade de Bivar condicionar uma composição com o governo Lula em caso de apoio do PT à pré-candidatura do presidente do União Brasil à presidência da Câmara é negada por aliados próximos. Para eles, trata-se de um posicionamento para valorizar o capital político da legenda.

Já a "ala do DEM" dentro do União Brasil se divide sobre um apoio a Lula. Algumas lideranças apoiam o ingresso do partido à base, a exemplo do senador Davi Alcolumbre (UB-AP). Outros, como Mendonça Filho, alegam incompatibilidade e defendem a oposição em defesa aos valores históricos de quando o partido foi um dos principais opositores às gestões Lula.

Por ora, contudo, mesmo o secretário-geral do União Brasil e ex-presidente do DEM, ACM Neto, não fecha as portas para Lula. Aos mais próximos, ele defende a abertura de diálogo com a gestão petista, mas prega maior transparência interna aos demais membros sobre as articulações de Bivar. Em manifestação nas redes sociais sobre o tema, ele disse que o partido vai decidir "no momento certo" o "mais adequado posicionamento" junto aos membros.

Deputados descartam ruptura do União Brasil

A despeito de um aprofundamento das divisões internas, lideranças do União Brasil negam a possibilidade de uma ruptura. "Não vejo qualquer possibilidade de cisão", diz o deputado federal Delegado Waldir. A análise é reforçada até por membros de lideranças oriundas da "ala do DEM", a exemplo do presidente do diretório amazonense e membro da Executiva Nacional, Pauderney Avelino.

"Como Mendonça, eu nunca apoiei o PT. Só que eu acho que nós precisamos fazer uma discussão sobre o momento pelo qual o Brasil está passando. Entendo que é um momento em que todos têm que conversar e que a política tem que prevalecer. Faz muito tempo que não se faz política no Brasil. E nós precisamos fazer política, é pela via do diálogo, pela via da conversa que a gente busca solução, e essa é a essência do parlamento, sobretudo da política", destaca o dirigente.

O deputado federal Júnior Bozzella (UB-SP), vice-presidente do diretório paulista do partido, rechaça essa hipótese e avalia que o próprio fortalecimento do partido colabora com a análise. "Com todas as construções, divergências, idas e vindas, elegemos 60 deputados federais, 10 senadores e quatro governadores. O resultado acaba falando mais alto", diz. "Se tem um racha a nível de prejudicar a evolução de um partido, o resultado teria sido outro. Qualquer discordância ou divergência será superada com o diálogo", acrescenta.

Bozzella entende que, caso o partido componha com Lula, o União Brasil vai respeitar posicionamentos pontuais e históricos de oposição ao PT, como o de Mendonça Filho, do deputado federal Kim Kataguiri (SP) e do senador eleito Sérgio Moro (PR). "Não dá para exigir que quem tem um histórico de enfrentamento ao PT seja governo, acho natural que seja respeitado", avalia.

"Mas é óbvio que, tirando as exceções, temos que buscar as maiores adesões no momento de aderir a um projeto de defesa das instituições e do Estado democrático. Dentro dessa ótica, o partido tem que ir para uma linha de construção de programa, buscar projetos e pautas que sejam convergentes de relevância para a sociedade, e compor com o governo [eleito]", complementa o parlamentar.

União Brasil espera "gestos" do PT

Egresso do DEM e próximo de ACM Neto, o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), disse ao site Congresso em Foco que o partido aguarda um gesto do PT para decidir sobre uma aliança. "Se a gente puder contribuir para abaixar esse clima belicoso que já se estende para além da eleição, nós o faremos", declarou.

Pauderney Avelino também acredita na possibilidade de composição, mas reforça a importância de sinalizações por parte do PT. "Vai depender daquilo que o Elmar falou, estamos aguardando gestos. Acho que é importante que gestos sejam de dois lados, o partido fez o primeiro, que é ajudar", destaca.

Primeiro vice-presidente do diretório goiano do partido, o deputado Delegado Waldir entende que as manifestações dos colegas são pertinentes e mostram um descontentamento "até o momento" com o atual cenário político. O parlamentar destaca que a legenda terá a terceira maior bancada na Câmara e a quarta maior no Senado e questiona o real comprometimento do PT em contar com o União Brasil na base política.

"Se o governo [eleito] quer o União Brasil na base, tem que buscar diálogo, como fez com os demais partidos. Eu não vi neste momento na construção da equipe transitória nenhum nome do União Brasil. É uma sinalização que me parece que o PT não manifesta muito interesse de ter o União Brasil na composição neste momento", diz.

Entre os partidos de centro e centro-direita representados no gabinete de transição com ao menos um membro indicado, estão o PP, MDB, PSD, PSDB, Cidadania, Solidariedade e Avante.

O deputado Júnior Bozzella reforça a importância de gestos. "A relação tem que ser de reciprocidade. A importância do União é significativa, é substancial. Você ter um partido deste tamanho na base, lutando e aderindo pela convergência para buscar governabilidade, acho que a recíproca também tem que ser verdadeira, na mesma proporção", analisa.

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