A relação do governo brasileiro com Israel piorou no último ano, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e decaiu mais ainda após a declaração do petista neste domingo (18) comparando os ataques de Israel contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza ao Holocausto.
Lula afirmou durante uma entrevista coletiva realizada na Etiópia neste domingo que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, comparando o conflito atual com o Holocausto.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reagiu duramente às declarações do presidente brasileiro, afirmando que ao comparar Israel ao Holocausto e a Hitler "era ultrapassar uma linha vermelha".
"As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Isso se trata de banalizar o Holocausto e tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender", afirmou o primeiro-ministro israelense em seu perfil no X, antigo Twitter.
A comparação "desastrosa" feita pelo petista foi criticada por entidades israelenses e por parlamentares. O partido Novo apresentou uma notícia crime contra o presidente por ele ter praticado o crime de racismo ao proferir uma fala antissemita. A bancada da oposição também deu entrada em um pedido de impeachment contra Lula neste domingo (18).
Por outro lado, a fala de Lula foi elogiada pelo grupo terrorista Hamas em uma publicação no canal oficial do Telegram. “Apreciamos a declaração do presidente brasileiro Lula da Silva, que descreveu aquilo a que o nosso povo palestino está a ser submetido na Faixa de Gaza como um Holocausto, e que o que os sionistas estão a fazer hoje em Gaza é o mesmo que Hitler nazista fez aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial”, afirma o comunicado do Hamas.
Diante das críticas contra a fala de Lula, a Secretaria de Comunicação do governo emitiu uma nota afirmando que Lula se opôs "diversas vezes" ao ataque do grupo extremista e que "sempre condenou atos terroristas do Hamas". O chefe da Secom, ministro Paulo Pimenta, disse que "a comunidade internacional não pode calar diante do massacre de um povo que não pode sofrer um extermínio pelos crimes cometidos por um grupo que deve ser punido pelo que fez."
"Nossa solidariedade é com a população civil de Gaza, que está sofrendo por atos que não cometeram. (...) As palavras do presidente Lula sempre foram pela paz e para fortalecer o sentimento de solidariedade entre os povos", afirmou Pimenta.
Essa não foi a primeira vez que Lula ofendeu Israel e tem mantido uma "relação conflituosa" com o povo israelense. Desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023, o petista tem acusado os ataques de Israel de "terrorismo" e evitado condenar o grupo terrorista Hamas. Quando o grupo passou a administrar a Faixa de Gaza, em 2006, o brasileiro exercia seu primeiro mandato como presidente do Brasil e, desde daquela época, fez ao menos cinco declarações que iam ao encontro da narrativa do grupo terrorista.
O presidente chegou a amenizar as críticas contra Israel até o resgate completo de brasileiros de Gaza, mas voltou a subir o tom após o fim das negociações. No dia 14 de novembro, o petista chegou a relativizar o conflito, assim como fez com a guerra entre Rússia e Ucrânia. “Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo, o Estado de Israel está cometendo mais um ato de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra, que as mulheres não estão em guerra", disse Lula.
O Brasil sempre procurou manter relações diplomáticas amigáveis tanto com Israel quanto com autoridades palestinas, sendo defensor da solução do conflito através da convivência de dois Estados: Israel e um Estado palestino. Porém, as declarações de Lula não condizem com tal postura diplomática.
No último dia 15, Lula condenou novamente a intensidade do contra-ataque do exército de Israel à Faixa de Gaza sob o “pretexto” de estar combatendo o Hamas. Ao participar de uma reunião neste sábado (17) com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, defendeu a necessidade de uma solução entre os dois estados e cobrou um cessar-fogo. "
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonchine, fez críticas ao atual governo brasileiro por não considerar o Hamas como um grupo terrorista. Em novembro do ano passado, ele participou de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares da bancada conservadora na Câmara dos Deputados, na qual relatou a situação da guerra no Oriente Médio e apresentou imagens “bem fortes e impactantes” do massacre que vem sendo feito pelo grupo terrorista Hamas ao povo israelense.
Outra ação que reforçou mais ainda a "relação conflituosa" do governo Lula com Israel foi o apoio à petição da África do Sul que acusa Israel de genocídio. Empresários pediram a retirada do apoio brasileiro à iniciativa que pretende investigar “atos e medidas que possam constituir genocídio ou crimes relacionados” e determinar o cessar-fogo imediato de Israel na Faixa de Gaza.
Relação Bolsonaro com Israel
O atual cenário tem sido bem diferente do que foi visto ao longo dos quatro anos de aproximação intensa com Israel sob o alinhamento da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Israel foi o segundo país ao qual Bolsonaro fez uma visita bilateral (isto é, somente para discutir interesses entre dois países), em março, logo depois dos Estados Unidos.
Em 2019, durante viagem à Israel Bolsonaro demonstrou o seu "amor" pelo país israelense, e participou de um evento ao lado do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu – que raramente se desloca para o aeroporto para se encontrar com chefes de Estado. No mesmo ano, o governo fundou em Jerusalém um escritório voltado à relação comercial entre Brasil e Israel, coordenado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
A visita de Bolsonaro a Israel foi criticada pelo grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Em nota, o grupo afirmou que a visita não apenas contradiz a histórica atitude do povo brasileiro de apoio à causa palestina, mas também viola leis internacionais.
O plano que possibilitou a repatriação de brasileiros após o início da guerra em Israel foi estabelecido durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A Gazeta do Povo apurou com membros e ex-integrantes do Itamaraty que a embaixada brasileira em Israel tinha um plano muito básico de contingência, que foi atualizado durante o mandato presidencial anterior, e seguido pelos diplomatas da atual gestão.
Mendonça critica posição do Brasil em relação a Israel
A atual relação do Brasil com Israel foi criticada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante um culto evangélico na manhã deste domingo, segundo informações do jornal O Globo. Apesar de não mencionar, a comparação dos ataques na Faixa de Gaza à morte de judeus no Holocausto, ele pregou equilíbrio à diplomacia brasileira e criticou o apoio do governo à denúncia feita pela África do Sul à Corte de Haia na qual o país africano acusa os israelenses de "genocídio".
"Talvez se nós caminharmos mais nesse sentido, em vez de endossarmos uma petição da África do Sul, acusando Israel de genocídio, seria o melhor caminho para nós sermos um agente de paz", afirmou o ministro, citando uma conversa que ele teve na embaixada brasileira quando visitou Israel.
Mendonça também reforçou a necessidade de devolução dos sequestrados pelo Hamas para que haja um cessar fogo por parte de Israel e lembrou que a diplomacia brasileira sempre foi marcada pela busca da imparcialidade. "A esperança para Israel não está em vencer o Hamas, a esperança para Israel está em Deus, o que não significa defender e justificar atos terroristas", disse o ministro.
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