Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve segurança reforçada após o atentado de 2018| Foto: José Cruzr/Agência Brasil
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Após quase seis anos do atentado, a facada contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ocorrida em 2018, ainda possui impactos no esquema de segurança do ex-mandatário, que hoje se posiciona como principal figura da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O caso voltou a ser lembrado por apoiadores após o atentado contra o ex-presidente Donald Trump, que acabou ferido na orelha durante um comício na Pensilvânia no último sábado (13).

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Segundo uma fonte do Partido Liberal, a prisão de Adélio Bispo, autor da facada contra Bolsonaro, não diminuiu o risco para o político do PL. Além da segurança que possui por ser ex-presidente, feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a legenda ainda desembolsa recursos para contratar uma segurança extra nos estados que Bolsonaro visita. Ao escolher uma segurança privada, a equipe do ex-presidente também preza pela confiança de quem está sendo contratado.

Seja na presidência ou fora dela, Bolsonaro manteve o contato próximo com apoiadores ao realizar comícios ou eventos. Nesta quinta-feira (18), o ex-presidente fez uma visita ao município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), e estava rodeado de apoiadores locais.

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A preocupação por parte da equipe de segurança é recorrente, já que volta e meia o ex-presidente deixa de lado os protocolos para estar mais próximo dos apoiadores. Comentando o episódio vivido por Bolsonaro em 2018, o coronel da reserva Fernando Montenegro, especialista em Forças Especiais, explica que a imprevisibilidade do ex-mandatário acaba aumentando o risco para sua integridade.

“O Bolsonaro tem uma característica de não ser colaborativo em relação à segurança dele. A equipe que faz a segurança do Bolsonaro fica desesperada, porque ele vai comer cachorro-quente ali na esquina e muda todo o itinerário. Ele se mistura no meio do povo”, disse Montenegro.

Atentado contra Trump expõe desafios para a segurança presidencial nos EUA e no Brasil

Em entrevista ao programa Assunto Capital, da Gazeta do Povo, especialistas em segurança avaliaram as falhas na segurança do ex-presidente Donald Trump e comentaram os desafios para a proteção de autoridades presidenciais.

Não raro, políticos brasileiros, como o próprio presidente Lula, participam de eventos abertos, que necessitam de uma preparação prévia. Montenegro explica que o conhecimento do local pela equipe de segurança é fundamental para que haja o sucesso da proteção da autoridade.

Além disso, ele ressalta que, em eventos abertos como o que Trump participou, a equipe de segurança deve instalar vidros blindados onde o presidente vai discursar, o que não ocorreu no caso do candidato do Partido Republicano.

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“Poderia ter tido uma blindagem transparente em volta do Trump, pelo menos para a lateral. Os políticos não gostam, mas poderia ter na diagonal ou na lateral de maneira que ele ficasse com os flancos protegidos. Isso facilitaria o trabalho da equipe que estava lá. Logicamente, ele estava usando colete à prova de balas e tinha um posicionamento de segurança ali em volta, mas talvez tenha faltado uma varredura com detector de metais no local”, disse o coronel.

Outro ponto destacado pelo especialista é a falta do uso de drones para o monitoramento aéreo do local, o que poderia ter prevenido o atentado.

Assim como Bolsonaro, a imprudência de Trump em não seguir ordens do serviço secreto é avaliada pelo sargento da reserva e atirador de elite Marco Antônio de Souza "Assombroso" como fator que poderia ter agravado a situação do ex-presidente americano.

“O Trump também dificulta. Ele abaixou após o disparo e o serviço secreto não poderia ter deixado ele se levantar. Não foi o que a gente viu. Devia ter arrastado Trump dali e colocá-lo dentro de uma célula segura, como o carro. Ele colaborou e, para mim, a equipe falhou. Mesmo com colete balístico, um fuzil antimaterial (arma de calibre 50, capaz de perfurar paredes e abater carros blindados) teria arrebentado ele”, disse o militar.

Após facada, segurança para Bolsonaro foi reforçada

Depois do episódio da facada, em 2018, o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, determinou que o número de agentes da Polícia Federal destinados a Bolsonaro fosse ampliado de 21 para 25 policiais. Posteriormente, esse número foi ampliado para os demais candidatos à Presidência da República, como Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede).

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Na época, o ministro disse que não havia indícios de que Bolsonaro seria atacado. "Você tem uma análise de risco e Bolsonaro tinha a maior equipe de segurança, já era indicativo pelo número de seguranças que o risco era maior, mas se tivéssemos [informação de indício do ataque)], iríamos atrás para prevenir e não permitir que isso acontecesse", afirmou Jungmann em coletiva de imprensa.

O reflexo do caso também pôde ser visto na posse de Bolsonaro, que registrou o maior aparato de segurança montado para uma posse presidencial. No dia 1º de janeiro de 2019, carros da Força Nacional foram posicionados ao longo da Esplanada dos Ministérios e atiradores de elite também foram posicionados no alto dos prédios. Cerca de 3,2 mil policiais, bombeiros e militares de várias forças foram mobilizados para trabalhar na segurança do evento. Desse número, 2,6 mil eram da Polícia Militar do Distrito Federal.

Como funciona a segurança de um ex-presidente no Brasil

No Brasil, ex-presidentes têm direito à segurança integral financiada pelo governo federal, com uma equipe reduzida. Após deixar o cargo, o ex-chefe do Executivo é acompanhado por uma equipe de oito pessoas ao longo de sua vida, composta por quatro seguranças, dois motoristas e dois assessores.

Esses cargos são de livre nomeação, recebem treinamento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e precisam ser "aprovados no treinamento de capacitação" para proteger os ex-presidentes ou conduzir seus veículos.

O decreto presidencial de 2008, que regulamenta o tema, permite ainda a solicitação de porte de arma pelos seguranças e motoristas. A norma estipula que o "planejamento, a coordenação, o controle e o zelo pela segurança patrimonial e pessoal do ex-presidente" são responsabilidades desses servidores.

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O mesmo decreto garante segurança pessoal aos candidatos à Presidência, assim que suas candidaturas são homologadas. Nesse caso, a proteção é realizada por agentes da Polícia Federal.

Em 2021, a corporação emitiu uma instrução normativa interna para "estabelecer diretrizes sobre as medidas de proteção pessoal a serem deferidas aos candidatos à Presidência da República".

A normativa prevê a elaboração de um plano de ação individual e sigiloso para cada candidato, baseado em um relatório de análise de risco. Assim, a Polícia Federal avalia o "nível de proteção a ser executado" e colabora com a segurança privada do candidato. Há também a possibilidade de ampliar a proteção, conforme a situação exigir.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]