A aprovação pela Câmara da medida provisória do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que estrutura o governo não arrefeceu a convocação para protestos pelo país no domingo (26).
Pelo contrário: a derrota do ministro Sergio Moro (Justiça) agravou a insatisfação de movimentos de direita com o chamado centrão e destacou o apoio à Lava Jato, que também é uma pauta defendida por esses grupos.
Embora a aprovação da medida provisória fosse uma das reivindicações das manifestações, houve descontentamento com a transferência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão que faz relatórios sobre movimentações financeiras suspeitas, da pasta da Justiça para a da Economia, comandada por Paulo Guedes.
"O fato de eles tirarem o Coaf do Moro nos deu gás para aumentarmos a pressão, e a adesão aumentou", diz Ana Cláudia Graf, do grupo Ativistas Independentes. "Mexeu com Moro, mexeu com todos, não tem jeito", afirmou.
O movimento do centrão (grupo informal com cerca de 200 deputados de partidos como PP, DEM, PRB, MDB e Solidariedade) que impôs a derrota a Moro foi lido pelos organizadores dos atos como ataque ao combate à corrupção.
Os grupos afirmam à reportagem que a expectativa para domingo é alta -esperam uma mobilização como as vistas no processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) ou na campanha eleitoral de 2018.
"Estamos indo para a rua contra os parlamentares do centrão. Essa é a nossa pauta. Se o centrão achou que eles iriam aprovar uma MP e acalmar as ruas, eles se enganaram, porque nós queremos muito mais", diz Graf.
Além da aprovação da MP, os grupos pró-governo se mobilizam pela aprovação da reforma da Previdência e do pacote anticrime de Moro. "Os políticos deixando isso pra lá, levando com a barriga. E isso não pode acontecer", diz Ricardo Sicchiero, do Movimento Avança Brasil.
Para Sicchiero, a paralisia das medidas propostas pelo governo Bolsonaro se deve ao modo "velha política" dos congressistas, e não à falta de articulação do Planalto.
"Ficou claro que articulação no Brasil sempre foi o toma lá dá cá. Mas o político tem que trabalhar [movido] pela necessidade do Brasil. Essa maioria no Congresso vai ser formada com a pressão das ruas", completa.
O fato de a bancada do PSL ter desautorizado o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), durante a votação da MP é um exemplo de desarticulação "que pode acontecer em outros partidos também", nas palavras de Sicchiero.
Após a votação na Câmara na noite de quarta-feira (22), a página do Movimento Avança Brasil postou que "a maioria dos corruptos do plenário da Câmara do Deputados" votou para tirar o Coaf de Moro.
Num vídeo transmitido ao vivo pelas redes sociais, Joaquim Gomes, coordenador do grupo em Brasília, diz que o fato de a diferença de votos ter sido pequena (228 votos a 210) mostra que "eles estão com medo da gente". "É uma derrota, mas foram apenas 18 votos, isso demonstra que eles estão nos respeitando e nós somos os patrões", comenta.
Um dos fundadores do Patriotas Lobos Brasil, Torres Patriota também diz que a manifestação ganhou força. "Queremos o Coaf com Moro, nós confiamos nele. Guedes também é competente, mas continuo com o Moro."
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