Sob pressão de aliados do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, o Centrão recuou e decidiu votar nesta quarta-feira (22) na Câmara, a Medida Provisória da reforma administrativa. Às vésperas das manifestações em defesa de Bolsonaro, previstas para domingo (26), o grupo de partidos abriu mão da cobrança para que o governo recriasse os ministérios das Cidades e da Integração Nacional, com receio da opinião pública. Mesmo assim, deputados desse bloco informal ainda querem tirar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da alçada do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e têm o apoio da oposição.
O acordo para votação foi feito nesta terça-feira, 21, em duas reuniões, uma delas de líderes dos partidos com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O encontro mostrou, porém, que há uma tensão crescente entre o Legislativo e o Palácio do Planalto. Maia anunciou ali que nunca teve e nunca terá relações pessoais com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e o clima esquentou.
Diante desse cenário, com cotoveladas de Bolsonaro na direção da "classe política", a votação ocorre em um momento bastante turbulento. A portas fechadas, o presidente afirmou a ministros, nesta terça, que não participará dos atos convocados para domingo, em apoio a seu mandato. Deputados do PSL (que, oficialmente, liberou seus filiados a participar dos atos), porém, têm usado as redes para convocar manifestantes. Grupos radicais pedem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
A preocupação do Planalto é que a Medida Provisória 870, que reduz o número de ministérios de 29 para 22, perde a validade no dia 3 de junho. Se não for aprovada, todas as fusões serão desfeitas e Bolsonaro será obrigado a recriar pastas. O acerto para que o tema fosse a plenário também teve o aval do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e incluiu outras MPs, como a abertura do setor aéreo ao capital estrangeiro, aprovada na noite de terça.
O governo corre contra o tempo. Mesmo se passar pelo crivo da Câmara, a reforma administrativa ainda precisa receber sinal verde do Senado. Na prática, a MP virou uma espécie de teste de forças entre o Planalto e o Centrão, grupo que tem em seu núcleo duro partidos como DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade. Nos últimos dias, hashtags pregando #MP870VotoNominal e #CentraoAtrasoDaNação invadiram as redes. Coube ao líder do PP, Arthur Lira (AL), propor que a votação de hoje fosse nominal, em uma reação a essas mobilizações. "As pessoas nem foram às ruas ainda e a manifestação 'digital' dos cidadãos já surte algum efeito!!!", escreveu um apoiador de Bolsonaro.
O Centrão aposta, no entanto, que terá votos para manter a decisão da comissão do Congresso. No último dia 9, a comissão retirou o Coaf das mãos de Moro, ex-juiz da Lava Jato, e o devolveu para a equipe econômica, comandada por Paulo Guedes.
Coaf não deve ficar com Sergio Moro
"Vamos ver quem tem voto e quem não tem", desafiou o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do DEM. "Agora saberemos o tamanho do governo", emendou o colega Paulo Pereira da Silva (SD-SP). A oposição promete obstruir e tentará impor mudanças na MP para excluir o artigo que restringe o poder dos auditores da Receita Federal em investigações.
O Coaf é considerado estratégico por receber informações sobre suspeitas de lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e até financiamento de atividades criminosas. O colegiado foi decisivo em investigações importantes, como a do mensalão, no governo Lula, e em várias etapas da Lava Jato. Foi também o Coaf que identificou movimentações atípicas nas contas do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo.
O Planalto, no entanto, lavou as mãos e não vai se empenhar para manter o colegiado com Moro. "Seja como for, com Moro ou com Guedes, o Coaf estará em casa", afirmou a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), aplicando uma "vacina" para a possível derrota do ministro da Justiça.
As negociações para a recriação dos ministérios das Cidades e da Integração também foram abortadas. No diagnóstico do Centrão, Bolsonaro tenta criar uma "armadilha" para jogar a culpa por eventuais fracassos no colo do Congresso.
"Quem fez a proposta de recriar ministérios foi o líder do governo", disse Elmar. "Se o governo mudou de ideia, não é problema nosso." Ex-ministro das Cidades no governo Dilma, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) criticou a forma como Bolsonaro tem se referido ao Congresso. "Vivemos em um regime democrático em que ninguém pode impor a sua vontade. Essa imposição cheira a autoritarismo."
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