Marcadas para o próximo domingo (26), as manifestações em defesa do presidente Jair Bolsonaro estão sendo organizadas por grupos dissidentes que comandaram o movimento pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. A maioria dos organizadores dos atos pró-Bolsonaro apoiou o presidente eleito nas eleições de 2018.
A esses grupos, articulados majoritariamente pelo WhatsApp, se soma uma rede de influenciadores digitais alinhados com o clã Bolsonaro e com o núcleo ideológico do governo, que tem o escritor Olavo de Carvalho como principal referência.
Organizadores dos atos pró-Bolsonaro
Enquanto os dois principais grupos anti-Dilma de 2015 - o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua - se afastaram do ato pró-Bolsonaro, outros grupos abraçaram as bandeiras a favor do governo. Diversa no começo da organização, a pauta dos movimentos acabou centrada em quatro pontos: defesa da reforma da Previdência, do pacote anticrime, da medida provisória da reestruturação dos ministérios e o repúdio ao centrão.
A Gazeta do Povo identificou ao menos 59 grupos que divulgaram os atos pró-Bolsonaro entre os dias 16 e 20 de maio. Contudo, alguns principais grupos à frente dos atos do próximo domingo são Avança Brasil, Consciência Patriótica, Direita São Paulo, Movimento Brasil Conservador e até a Confederação Monárquica do Rio.
Em número de seguidores, contudo, nenhum deles supera o MBL, com 3,4 milhões no Facebook, nem o Vem Pra Rua, com 2,3 milhões. O grupo pró-Bolsonaro com mais seguidores é o Avança Brasil, com 1,5 milhão.
MBL fica de fora de passeata pró-Bolsonaro
A decisão do MBL de não participar das manifestações pró-Bolsonaro foi vista por alguns grupos como uma traição. As postagens mais recentes da página do movimento no Facebook estão repletas de comentários que acusam o MBL de terem se aproveitado da onda bolsonarista durante as eleições.
Patrick Folena, um dos representantes do Ativistas Independentes, grupo com mais de 86 mil seguidores, fala que a desavença com o MBL sobre o dia 26 “não prejudicou de forma alguma [a organização], a gente não depende deles”.
Mesmo assim as críticas se acumulam, e o alvo principal é o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) que vem sendo taxado de comunista. Um vídeo com a contagem de inscritos no canal do YouTube do MBL diminuindo também está sendo divulgado.
Folena diz que o foco dos protestos não são as pautas radicais como a defesa do "fechamento" do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela explica que a organização dos atos, que começou em meados de abril, a princípio seria uma cobrança aos membros do STF, que acabou "evoluindo para o Centrão".
O que os líderes dos movimentos organizadores defendem
Para evitar o isolamento, as pautas defendidas pelos manifestantes ficaram centradas em temas a favor da agenda do governo - e não contra instituições.
O que prevalece, porém, é uma retórica contra a classe política, acusada de conspirar para derrubar o presidente. O Centrão, que será crucial na aprovação de projetos de interesse de Bolsonaro no Congresso, se tornou alvo principal da rede bolsonarista.
"Aqui tem olavetes, intervencionistas, católicos e templários. Todos queremos um Brasil melhor", afirmou a dona de casa e estudante Elizabeth Rezende, uma das líderes do Juntos pela Pátria, grupo que tem 12 mil seguidores.
Na manifestações de 2015, lideradas pelo MBL e o Vem Pra Rua, Elizabeth estava de verde-amarelo no meio da multidão. Em 2017, filiou-se ao PSL para disputar uma vaga de deputado estadual. Derrotada, passou a se dedicar ao grupo que hoje lidera.
Já o Direita São Paulo é movimento mais antigo e estruturado. O grupo tem sede própria e terá um carro de som na Avenida Paulista no ato de domingo. Além disso, tem discurso afinado com Bolsonaro e com o núcleo ideológico do governo. "Bolsonaro não tem de fazer acordos com o Centrão e a velha política em troca de favores", afirmou um dos líderes do grupo, Edson Salomão.
Outro movimento que se organiza para o dia 26 é o monarquista. Segundo o líder da Confederação Monárquica no Rio, Rodrigo Dias, o grupo vai reforçar o apoio ao pacote anticrime de Moro e à manutenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na Justiça. Além disso, afirmou, terá espaço a "causa monárquica".
Leia mais: Partido de Bolsonaro libera filiados a participar de atos pró-governo
Empresários pró Bolsonaro se dividem
Luciano Hang, dono da Havan, é um dos poucos empresários a apoiar abertamente a passeata pró-Bolsonaro. Outros empresários e apoiadores do presidente durante a campanha se afastaram da organização e da participação dos protestos.
Apesar de convocar a população pelas redes sociais, Hang não deve comparecer aos atos, pois está na Coreia do Sul. De acordo com a assessoria, só deve voltar ao Brasil no início de junho. Ele anunciou a viagem para a Coreia do Sul e Vietnã, no dia 17, em sua conta no Twitter.
Mal estar
As manifestações causaram um racha na direita, até mesmo dentro do próprio PSL. O incomodo vem da possível radicalização das pautas que já são difusas.
O presidente e os ministros não devem comparecer ao atos do domingo. Apesar de a relação entre governo e legislativo estar claramente desgastada, Bolsonaro nega que existam problemas entre os poderes.
No Twitter ele falou sobre as manifestações:
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF