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O ato de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro que reuniu centenas de milhares de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (25) colocou pressão na esquerda para tentar repetir o feito. Mas analistas ouvidos pela Gazeta do Povo dizem acreditar que governistas e entidades ligadas à esquerda dificilmente vão conseguir levar tantos manifestantes para as ruas no atual momento político.
Movimentos de esquerda e sindicatos marcaram seu próprio ato para 23 de março, em 27 capitais do país, para pedir a prisão de Bolsonaro. Os protestos serão organizados pela Frente Povo Sem Medo (FPSM) e Frente Brasil Popular, que se reuniram com representantes do PT, PCdoB e PSOL, além de líderes de movimentos sociais.
"Estou torcendo para que eles tentem. Eu ajudo até na divulgação, faço questão. Eles não vão encher nem meio quarteirão", disse o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) em entrevista ao programa Assunto Capital, da Gazeta do Povo.
Uma das hipóteses levantadas por opositores do governo é que a esquerda marcou suas manifestações em diversos locais porque se o ato se concentrasse apenas na Avenida Paulista, em São Paulo, haveria um grande risco de não conseguirem uma lotação tão grande quanto à do ato de Bolsonaro. Com suas manifestações pulverizadas, poderão argumentar terem reunido mais pessoas sem que imagens possam ser comparadas.
Na avaliação de analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a esquerda, atualmente, não teria capacidade de fazer uma mobilização semelhante ao ato de domingo. O cientista político Adriano Cerqueira afirmou que a manifestação deixou a esquerda “acuada”.
“O que São Paulo evidenciou, mais uma vez, é que a agenda da direita, universalista, e sem perder contato com as crenças religiosas, tem hoje maior capacidade de mobilização popular que a esquerda, que tem investido ultimamente em agendas 'tribais' (identitárias), perdendo o alcance universal e, para piorar, assumindo uma feição não religiosa”, disse Cerqueira.
Segundo ele, a esquerda “sentiu muito” a força da manifestação pró-Bolsonaro. De acordo com ele, se o ato tivesse sido fraco, a esquerda estaria tranquila para fazer o seu. "O problema para a esquerda é que foi um grande evento, teve ampla repercussão. O risco que a esquerda tem agora de fazer um evento semelhante é não atingir o mesmo sucesso que o Bolsonaro teve”, disse Cerqueira.
Em transmissão feita no canal esquerdista TVT, no YouTube, o cientista político Aldo Fornazieri afirmou que a “esquerda precisa se organizar e responder ao ato de Bolsonaro”.
Fornazieri indicou ainda que a ausência de atos de rua ligados aos movimentos progressistas é um “fator preocupante” para a esquerda no Brasil. “O bolsonarismo, a extrema direita, tem ainda grande capacidade de convocação nas ruas. Parece que a esquerda meio que perdeu as ruas desde 2015, 2016”, disse o cientista político.
Ato pró-Bolsonaro é o começo de um projeto, diz deputado Gayer do PL
O deputado Gustavo Gayer foi um dos poucos políticos selecionados para discursar no ato pró-Bolsonaro. Ele aponta para o fato de que Bolsonaro teve 14 dias para organizar seu ato, que começou a ser divulgado em 12 de fevereiro. A esquerda terá 24 dias para organizar o seu.
Ele disse que os aliados de Bolsonaro não esperavam tanto sucesso. "Nós achávamos que seria grande mas não histórica, e foi histórica", disse Gayer.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que cerca de 750 mil pessoas participaram do ato, mas o deputado e apoiadores de Bolsonaro dizem que o número passou de 1 milhão.
A esquerda tem usado uma projeção da Universidade de São Paulo (USP) para defender que 160 mil pessoas compareceram. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o ato "foi grande", mas provocou Bolsonaro e seus apoiadores classificando a manifestação de antidemocrática e dizendo que o ex-presidente não teve coragem para da o golpe e fez um discurso "vaselina" para não se complicar.
"Eles fizeram uma manifestação grande em São Paulo. Mesmo que não quiser acreditar, é só ver a imagem. Como as pessoas chegaram lá 'é outros 500'", disse Lula, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar na RedeTV!, na noite de terça-feira (27). "Eles todos com muito medo, muito cuidado. [...] De qualquer forma é importante a gente ficar atento, porque essa gente está demonstrando que não está para brincadeira", completou.
Gayer afirmou que o ato do dia 25 não resolverá os problemas da direita se não tiver continuidade. Segundo ele, é preciso organizar mais manifestações e canalizar esse apoio popular para obter conquistas tangíveis no Congresso, como o bloqueio de pautas abusivas do governo e o combate ao ativismo judicial do STF.
"Longe de ser um sucesso. A palavra sucesso ela engloba a conclusão do ato. Foi gigantesca [a manifestação], assustou o pessoal que achava que nunca mais ia ter uma manifestação de pessoas patriotas. Foi o começo de um projeto que pode ser bem sucedido", disse.
Questionado se os atos não podem gerar mais investigações da Polícia Federal, o deputado disse que as operações policiais estão fortalecendo seus alvos, que se toram mártires e referências na luta pela liberdade. "O [ministro do Supremo] Alexandre de Moraes está ajudando a eleger os próximos prefeitos", disse Gayer.
"Eles tentam intimidar a população brasileira, mas o brasileiro ainda tem coragem de ir para as ruas, a gente vai defender o nosso país. O Bolsonaro resgatou a chama do patriotismo e ela não apaga", disse Gayer.
Esquerda tentou minimizar ato de apoio a Bolsonaro
Antes do presidente Lula se manifestar sobre o ato, seus aliados tentaram minimizar a magnitude do apoio popular a Bolsonaro.
"[A manifestação] Foi muito aquém do que os próprios organizadores vinham divulgando, a surpresa é só em relação ao conteúdo da confissão dos crimes praticados. O Brasil inteiro ficou surpreso. Talvez seja a primeira vez na história que alguém chama um evento em praça pública e confessa o crime. E vai além disso: pede anistia aos crimes praticados", disse o ministro da Casa Civil, Rui Costa
Outros três ministros de Lula, Alexandre Padilha, Marina Silva e Paulo Pimenta, mencionaram o ato pró-Bolsonaro de forma velada. Padilha optou por compartilhar um vídeo antigo, em que diz que Bolsonaro é um “líder de barro” que “não se sustenta”.
Marina repostou uma publicação feita pelo deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), em que ele chamou os manifestantes de golpistas e afirmou que o objetivo da manifestação seria “comemorar uma tentativa frustrada de derrubar a nossa democracia”. Pimenta, por sua vez, optou por utilizar um jogo de futebol para tratar do tema, sem mencionar a manifestação diretamente.