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15 de março

Atos pró-Bolsonaro acontecem mesmo com ameaça do coronavírus. O que fica dos protestos?

Manifestantes pró-Bolsonaro com faixa contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
O presidente Jair Bolsonaro e manifestantes em Brasília. (Foto: Sergio Lima/AFP)

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A pandemia do novo coronavírus tem levado países de todo o mundo a tomar medidas para restringir a circulação de pessoas. No Brasil, universidades, escolas e igrejas já começaram a suspender atividades para evitar a disseminação da doença.

Neste domingo (15), entretanto, manifestantes ignoraram a possibilidade de contrair o novo vírus e saíram às ruas para declarar apoio ao presidente Jair Bolsonaro – e, ao mesmo tempo, protestar contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.

O presidente, que na quinta-feira (12) havia feito um pronunciamento desaconselhando as manifestações, fez postagens no Twitter apoiando os atos durante este domingo. No início da tarde deste domingo, Bolsonaro foi até os manifestantes para tirar fotos e cumprimentar participantes do ato.

Apesar de ter divulgado que testou negativo para o coronavírus na sexta-feira (13), o presidente permanecia em isolamento e deveria repetir o exame nos próximos dias.

Atos pró-Bolsonaro mandam recado para o Parlamento

Em live na quinta-feira (12), Bolsonaro recomendou que os protestos fossem adiados, por conta do coronavírus. Disse também que a mobilização já havia dado "um tremendo recado para o Parlamento".

O fato é que os atos pró-Bolsonaro vêm em um momento em que o governo não está em sua melhor fase na relação com o Congresso. Desde o início do ano, o presidente e os parlamentares vêm se desentendendo quanto à execução das emendas impositivas no orçamento de 2020.

Uma das "caneladas", como classifica o presidente, foi a fala do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. Referindo-se às emendas impositivas, Heleno afirmou que o governo não poderia "deixar esses caras chantagearem" o tempo todo. "Foda-se!", completou o general – ignorando que os parlamentares governistas não agiram para barrar a aprovação das emendas.

Apesar de não terem sido convocados por Bolsonaro, os protestos adotaram o palavrão como uma de suas palavras de ordem. Fotos das manifestações em todo o país mostram cartazes com críticas não só a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, como também ao Congresso como um todo.

Uma das imagens, que ilustra esta matéria, mostra o próprio presidente tirando uma selfie com manifestantes ao fundo que empunham um cartaz com os dizeres "Fora Maia".

Ataques podem minar "boa vontade" do Congresso em aprovar reformas

No início da noite de domingo (15), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) se pronunciou sobre as manifestações no Twitter. Afirmou que o presidente "faz pouco" da pandemia, e que "deveria estar no Palácio coordenando um gabinete de crise para dar respostas e soluções para o país".

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse, em nota, que "é inconsequente estimular a aglomeração de pessoas nas ruas". "A gravidade da pandemia exige de todos os brasileiros, e inclusive do Presidente da República, responsabilidade!".

Alguns deputados também se pronunciaram contra os atos, dizendo que o presidente foi irresponsável ao participar das manifestações em meio à ameaça do coronavírus.

Alessandro Molon, líder do PSB na Câmara, disse à coluna de Guilherme Amado, da revista Época, que o ato de Bolsonaro tem consequências . "Trata-se de uma irresponsabilidade sem tamanho, uma ameaça à vida das pessoas, expostas a um vírus que tem matado milhares ao redor do mundo", afirmou.

Mais atritos com o Parlamento não são bons para o governo nesse momento, já que a lista de medidas que dependem da aprovação da Câmara e do Senado não é pequena.

Diante da pandemia do novo coronavírus, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que, além de um conjunto de medidas emergenciais, as principais respostas do governo contra a crise são as reformas – que precisam da anuência do Congresso.

Duas das mais importantes, a administrativa e a tributária, ainda não foram encaminhadas pelo governo ao Parlamento. Mesmo assim, ambas apareciam em faixas dos manifestantes como demandas a deputados e senadores.

Outras reformas já foram enviadas pelo governo – as propostas de emenda à Constituição (PECs) Emergencial, do Pacto Federativo e dos Fundos Públicos –, mas ainda estão tramitando nas duas Casas.

Mobilização aconteceu mesmo com cancelamento público

Outro aspecto que chama a atenção nos protestos deste domingo (15) é o fato de os manifestantes terem ido às ruas mesmo com o apelo do presidente e o cancelamento do evento por entidades que haviam convocado as manifestações.

Uma das parlamentares governistas, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) chegou a publicar um vídeo em que orientava os manifestantes a adiarem o ato. Movimentos como o República de Curitiba e o Nas Ruas também cancelaram os protestos.

Mesmo com os cancelamentos públicos, apoiadores de Bolsonaro chegaram a subir a hashtag "Desculpa, Jair, mas eu vou" no Twitter.

Neste domingo (15), o presidente compartilhou vídeos de manifestações em várias cidades, entre elas Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Salvador.

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