O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, considera página virada a crise gerada nas Forças Armadas após as trocas dos comandantes e do Ministério da Defesa. Também defende o governo federal na gestão da pandemia, embora reconheça que algumas decisões ainda possam ser "corrigidas". Deixou claro, também, seu desincentivo a manifestações populares que peçam a intervenção militar.
Esses e outros assuntos foram manifestados por Heleno ao programa Sem Censura, da TV Brasil, do qual a Gazeta do Povo participou como convidada, na segunda-feira (20). O ministro comentou sobre temas diversos, desde atribuições de sua pasta, responsável por chefiar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a outros mais políticos.
O que disse Heleno sobre a crise nas Forças Armadas
Sobre a crise nas Forças Armadas, o ministro deixou claro o entendimento de que tudo foi superado. "Eu considero página virada, porque é uma atribuição do presidente da República. Ele não precisa justificar o ato dele. É uma mudança que é incomum, não acontece a toda hora, mas não houve nenhuma violação do posicionamento de qualquer um dos comandantes", declarou.
O titular do GSI comentou que o general Edson Pujol, ex-comandante do Exército, é, inclusive, colega de turma de academia militar de Bolsonaro. Para ele, o episódio da troca dos comandos das Forças e do ministro da Defesa gerou ilações que "não estão fundamentadas na verdade".
"E vida que segue. A prova é que tivemos já duas solenidades de passagem de comando com a presença do presidente, e, amanhã [esta terça-feira (20)], teremos a terceira, que é exatamente a passagem do general Pujol", destacou. "Isso aí não houve nenhum reflexo na integridade, na união das Forças, e na subordinação institucional ao comandante Supremo das Forças Armadas, que é o presidente", acrescentou.
O que pensa o ministro sobre intervenção militar
Sobre as manifestações populares que pedem intervenção militar, o general não titubeou em desencorajar os pensamentos antidemocráticos de parte dos apoiadores do presidente da República. Questionado se parte da sociedade que pede pela intervenção militar ainda não entendeu o papel das Forças Armadas em uma democracia, Heleno disse que isso não é uma solução.
"Realmente, esse pedido é um sinal de que esse grupo não está satisfeito com os rumos que o país está tomando, mas não é a solução. O Presidente insistiu nesse aspecto, dizendo que joga dentro das quatro linhas da Constituição, em uma metáfora. E, portanto, qualquer agressão à Constituição deve ser absolutamente rejeitada e não deve passar na cabeça de um país que é democrático e pretende continuar democrático", disse.
Heleno deixou claro que "não passa pela cabeça" das Forças Armadas se "envolver politicamente dessa forma", em um novo regime militar. "Agora, [a instituição] quer que todos sigam o que está na Constituição, o livrinho tem que ser respeitado, e é preciso ser respeitado por todos. Eu até desincentivo essas manifestações e esse posicionamento, porque queremos um país livre, liberdade para a população e democracia", avisou.
O que disse Heleno sobre CPI da Covid e diálogo do governo com o Centrão
Mesmo sem ter sido formalmente instalada, a chamada CPI da Covid, colegiado no Senado que promete investigar as ações e supostas omissões do governo durante a pandemia, já se mostra um grande desafio para o Palácio do Planalto. Sobretudo quando até aliados como o senador Marcos Rogério (DEM-RO), fazem críticas à articulação política.
Questionado se o governo ainda não entendeu como negociar com o Centrão, que, insistentemente, critica o governo mesmo tendo ganhado espaços no governo, Heleno defendeu a articulação política. "A pergunta é muito interessante, porque o que fica parecendo é que essas articulações não aconteceram. Elas aconteceram e acontecem diariamente", garantiu.
Quase todos os projetos que circulam pelo Congresso, "seja no Senado ou na Câmara", comenta Heleno, são "cuidadosamente estudados na presidência da República". "E as aspirações do presidente e dos ministros que, por ventura, estejam envolvidos em determinado projeto, são levados ao plenário da Câmara, aos líderes, seja da situação ou oposição, e isso é a única maneira de se fazer política. Não tem como fazer política sem negociação, sem haver articulação política", destacou.
O ministro não deixou, contudo, de criticar a CPI da Covid. Lembrou que sua criação veio em um momento que o próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a considerava inoportuna. "E lógico que isso vai abalar seriamente a continuidade dos trabalhos que vinham acontecendo no poder Legislativo", analisou. Heleno ressalta que o governo, junto com os demais poderes, chegaram à conclusão que a única maneira de vencer a crise é com a união de esforços.
Os esforços do governo e a vacinação de Bolsonaro
O ministro-chefe do GSI também fez análises sobre acertos e erros do governo na gestão da pandemia. Para ele, diante de uma ameaça nova que assolou o mundo inteiro, a Covid-19, a situação da crise sanitária se mostrou uma "típica situação de ensaio e erro". "No mundo inteiro cometeram erros e acertos, não por vontade dos governantes, porque era tudo novidade", comentou.
A cada dia, continuou Heleno, se apresentou um novo problema para a sociedade, que exigia novas decisões. Ele defende a gestão do governo, mas assume que, nessa situação de "ensaio e erro", equívocos ocorreram e muitos foram corrigidos. "Muitas delas [decisões] foram corrigidas e, mais para frente, vamos corrigir mais ainda, pois foram decisões que, comprovadamente, não se mostraram eficientes", disse.
O conjunto de decisões fez com que a gestão da pandemia fosse extremamente e continua a ser extremamente difícil, analisou Heleno, em defesa do governo. "Querer culpar determinadas pessoas, jogar no colo o insucesso de determinadas decisões, é injusto e impróprio", comentou. Enquanto muitos tentam culpar o governo, sobretudo na CPI da Covid, o ministro avalia que o país enfrenta uma situação em que não existe "solução mágica" para o problema.
Segundo Heleno, houveram "várias situações" que foram adotadas posições já "reformuladas". Nas entrelinhas, o ministro usou, a exemplo, colocações feitas pelo próprio presidente, que tanto geraram polêmicas e críticas por parte de opositores. "Ele disse que, no caso dele, pelo passado de atleta, [a Covid-19] se apresentaria como uma gripezinha. Isso é absolutamente certo? Não", reconheceu. "Hoje, o presidente, tenho certeza que tem consciência disso, mas, no momento de falar, botou para fora o que sentia", justifica o ministro.
O ministro atribui parte dos desentendimentos entre o governo federal e demais poderes e governadores à postura sincera do presidente. "O Brasil se desacostumou com a sinceridade das pessoas. E nosso presidente da República é um exemplo de sinceridade. Ele não faz as coisas pensando o que vão pensar os outros. Ele fala e aguenta a mão do que falou, e vai fundo muitas vezes. E, às vezes, desagrada muita gente. Mas muitas das suas posições ele já modificou", comentou.
Questionado se Bolsonaro pretende tomar vacina, Heleno foi sucinto. "O presidente já definiu sua posição em relação à vacina. Ele vai tomar quando o último brasileiro for vacinado", afirmou. Segundo ele, esse é um procedimento que é comum nas Forças Armadas. "Você, como comandante, ou é o primeiro e, pela situação, prefere servir de exemplo para os demais, ou, diante de uma possibilidade de escassez, eu fico por último porque eu não vou atrapalhar nenhum dos meus subordinados, não vou tirar a vez de nenhum dos meus subordinados. A posição dele foi essa, tem que ser respeitada", explicou.
Heleno admite falhas na comunicação institucional
O ministro Heleno também falou sobre os desafios da comunicação institucional, que, como mostrou a Gazeta do Povo, era um dos principais gargalos para ultrapassar o pior momento da pandemia. "A nossa posição em relação ao dispêndio de dinheiro para comunicação social do presidente, desde o início, é não gastar dinheiro que pode ser empregado em proveito da população", disse, ao justificar os motivos de o governo ter demorado para aprimorar essa área.
O titular do GSI reconhece que Bolsonaro "praticamente encolheu a comunicação social", mas por uma "série de reações". "E ele não é a favor de colocar dinheiro para fazer propaganda do governo. Fazer e deixar que as pessoas percebam. Essa é a principal filosofia dele", comentou. Entretanto, o ministro acredita que a comunicação institucional vai melhorar.
"Acabou de nomear um novo chefe para a Secom. Pode ser que, agora, consigamos dar um salto na comunicação social do governo, que, nós sabemos, deixa a desejar, e é importante que funcione, para que tomem conhecimento do que o governo faz", admitiu Heleno. "Ano passado, por exemplo, em plena pandemia, o ministério da infraestrutura entregou 90 obras, e não noticiam isso, passou em branco. É preciso que o governo tenha espaço para anunciar. E esse espaço custa dinheiro, e muito", acrescenta.
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