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O Brasil começa a se preparar para o aumento do novo coronavírus. O número de infectados deve aumentar nas próximas semanas. Um estudo do Instituto Pensi estima, com base em outros países, que até o início de abril o Brasil chegue a 30 mil casos. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, participou de uma audiência pública no Senado em que afirmou que o país prepara medidas para o aumento de pacientes de covid-19.
“A partir de agora, deve aumentar o número de casos de transmissão local. E nós devemos entrar, em uma ou duas semanas, no que é mais grave, que nós chamamos de transmissão comunitária. As pessoas vão contrair a doença sem que nós consigamos estabelecer a origem do vírus, quem transmitiu o vírus”, disse Reis à Agência Senado. Mas como está sendo a preparação na prática? Para tentar responder a essa pergunta reunimos informações do Ministério da Saúde sobre o tema.
Qual montante de dinheiro adicional o Brasil está reservando para combater o coronavírus?
O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi até o Congresso solicitar dinheiro para o combate a covid-19. O Legislativo deve liberar R$ 5 bilhões por meio de uma medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro no fim de semana. O dinheiro será usado para reforçar as ações na atenção primária e hospitalar.
A reunião contou com as presenças dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Mandetta pediu ao Congresso a aprovação de suplementação orçamentária para combater os efeitos da doença.
Quantos leitos hospitalares e de UTI estão sendo destinados para casos de coronavírus?
Existe uma incerteza com relação aos números de leitos hospitalares exatos. Em princípio, o país teria 410.225 leitos públicos e privados, mas o número é referente ao levantamento feito pela Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), em 2019, e não se sabe ao certo quais seriam adequados ou destinados para os infectados por coronavírus.
Informações atualizadas durante a coletiva realizada pelo Ministério da Saúde, nesta segunda-feira (16), mostram que existem no Brasil 55,1 mil leitos intensivos no sistema privado e público, a taxa de ocupação é de 78%. Do total, 27,4 mil UTIs estão no SUS. O total de leitos no país, entre públicos e privados, chega a 424.421, segundo o ministério.
O Instituto Pensi acredita que levando em conta a velocidade de evolução da doença, o Brasil poderá precisar de cerca de 2.100 leitos hospitalares e pelo menos 525 unidades de terapia intensiva (UTIs) até o começo de abril para atender os pacientes de coronavírus.
É preciso levar em consideração que, além da uma UTI livre, é necessária uma equipe formada por um intensivista, 3 médicos, 3 fisioterapeutas, 3 a 5 enfermeiras e 10 técnicos de enfermagem para cuidado de grupos de 20 pacientes, segundo a Amid.
O SUS deve destinar 2 mil leitos de UTI somente para o tratamento da doença. O governo federal vai destinar R$ 92 milhões para São Paulo, onde está concentrado o maior número de casos, para auxiliar o estado a conseguir mais mil leitos e na compra de equipamentos.
“Estamos nos preparando para ter um número adicional de leitos de UTI porque esses pacientes entram nos leitos e não saem rápido; eles ficam de três a quatro semanas. Como não há uma renovação na utilização desses leitos, eles vão se esgotando", explicou o secretário à Agência Senado. Reis citou o exemplo da Itália, onde a falta de leitos foi um dos fatores que levaram a medidas drásticas de isolamento.
Quantos médicos estão sendo designados para tratamento da doença?
Existem 452.801 médicos no Brasil, mas não há informações exatas sobre onde trabalham. O Ministério da Saúde vai fazer o chamamento de mais 5 mil profissionais pelo programa Mais Médicos. As inscrições começam nesta segunda-feira (16) e deve valer apenas para médicos com registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) ou com diploma revalidado no Brasil. Até cinco chamadas do edital serão feitas, a partir da terceira médicos cubanos que trabalharam no Mais Médicos poderão se inscrever, mas terão os documentos analisados pelo Conselho Federal de Medicina.
Qual é a capacidade de fazer exames de coronavírus na rede pública?
Os testes estão disponíveis nas redes pública e privada. Segundo o G1, o teste na rede particular pode custar até R$ 140 e o resultado sai em 48 horas, em média. O Ministério da Saúde estuda a possibilidade de adquirir testes rápidos, que não necessitam de envio de material genético coletado para laboratórios.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná desenvolveram um kit para diagnosticar a doença de forma mais barata. Serão distribuídos 30 mil, que devem ser enviados para a rede pública nacional — todos os estados receberão o kit até o final de março. O valor que o governo deve pagar por teste deve ficar entre R$ 75 e R$ 100, segundo a Folha de S. Paulo.
Há número suficiente de máscaras e luvas?
Foram compradas 20 milhões de máscaras cirúrgicas e 4 milhões de máscaras hospitalares do tipo N95 para os serviços de saúde, segundo o Ministério. Além disso, R$ 140 milhões serão destinados para a compra de outros itens, como luvas e aventais.
Há estoque de medicamentos para tratar o coronavírus?
Não existem medicamentos específicos para o tratamento do coronavírus. Os remédios disponíveis tratam os sintomas da doença. Nos casos leves são usados remédios para o tratamento de uma gripe comum, como analgésicos. No entanto, anti-inflamatórios, como o ibuprofeno devem ser evitados, segundo estudos preliminares recentes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), este medicamento pode aumentar os níveis de um receptor que facilita a entrada do vírus nas células.
Aulas e eventos culturais, religiosos e esportivos devem ser suspensos? Como fica o expediente de trabalho? É proibido viajar?
Apesar de ainda não existir uma determinação do Ministério da Saúde, que só tem trabalhado com recomendações, algumas medidas individuais já foram tomadas por precaução. O Distrito Federal determinou a suspensão das aulas, a Confederação Brasileira de Futebol paralisou competições nacionais, como a Copa do Brasil e a Justiça suspendeu por 30 dias a realização de missas no Santuário Nacional de Aparecida.
A Liga Nacional de Basquete fará jogos sem torcidas, o Festival de Teatro de Curitiba foi transferido para setembro e dezenas de shows musicais e apresentações artísticas foram canceladas para evitar aglomerações de pessoas.
Para áreas com transmissão comunitária é recomendada a redução de deslocamentos para o trabalho. O Ministério a Saúde incentiva que reuniões sejam realizadas virtualmente, que viagens não essenciais (avaliadas pela empresa) sejam adiadas ou canceladas e que, quando possível, se trabalhe de casa (home office). Adotar horários alternativos em terminais de transporte para evitar períodos de pico também é uma das medidas recomendadas aos estados. Além da antecipação de férias escolares.
Há articulação com as operadoras de plano de saúde para participar do esforço contra o coronavírus?
Foi publicado no Diário Oficial da União uma resolução normativa que inclui a realização de testes diagnósticos para infecção pelo coronavírus na saúde suplementar. O documento determina a “cobertura obrigatória quando o paciente se enquadrar na definição de caso suspeito ou provável de doença pelo coronavírus 2019 (Covid-19) definido pelo Ministério da Saúde”. O texto foi publicado na última sexta-feira (13).
Existe um plano de ação junto aos estados? Como vai funcionar?
O Ministério da Saúde instruiu os secretários estaduais a apresentarem planos de ação para o enfrentamento da doença. Os 27 planos de contingenciamento dos estados e do Distrito Federal estão sendo revisados para a fase de mitigação. Segundo o ministério, na fase de contingência 64 hospitais de referência já foram cadastrados e na fase de mitigação devem ser registrados mais 304 hospitais, resultando em 12.317 leitos clínicos e 1.389 UTIs.
De acordo com o site do ministério, os mais de 42 mil postos de saúde espalhados pelo país são capazes de atender 90% dos casos de coronavírus. A maioria dos casos de covid-19 são leves e podem ser atendidos nesse nível de atenção.
A indicação é que a população busque os serviços quando apresentar os sintomas iniciais do vírus, como febre baixa, tosse, dor de garganta e coriza. Uma das ações de reforço na atenção primária é a alteração de alguns critérios do programa Saúde na Hora para facilitar a adesão dos municípios ao programa que estende o horário de atendimento dos postos de saúde. A intenção é manter 6,7 mil unidades de saúde funcionando por mais tempo. Para financiar a iniciativa, cerca de R$ 900 milhões serão repassados aos municípios de acordo com a expansão da epidemia.
Campanha publicitária alerta sobre o aumento de casos de coronavírus no Brasil
O Ministério da Saúde lançou no final de fevereiro a campanha publicitária de prevenção ao coronavírus que vem sendo veiculada em TV aberta, rádio e internet. As peças publicitárias orientam a população a prevenir a doença adotando hábitos de higiene, como lavar as mãos com água e sabão várias vezes ao dia, fazer uso do álcool em gel a 70% e não compartilhar objetos de uso pessoal, todas essas medidas podem evitar o aumento do contaminação com coronavírus no Brasil.
Existe a possibilidade de o Brasil decretar quarentenas? Em que casos?
O aumento nos casos de coronavírus do Brasil fez com que o ministério disciplinasse as regras para quarentena e isolamento. A quarentena tem como objetivo garantir a manutenção dos serviços de saúde em local certo e determinado, segundo o Ministério da Saúde. O procedimento de quarentena será determinado mediante ato administrativo formal estabelecido pelas secretarias de saúde dos estados, municípios, do Distrito Federal ou do ministro de estado da Saúde, ou superiores em cada nível de gestão e publicado em Diário Oficial e amplamente divulgado pelos meios de comunicação. A medida de quarentena será adotada pelo prazo de até 40 dias, podendo se estender pelo tempo necessário.
Já para casos de isolamento, as medidas de precaução visam conter e separar pessoas que forem classificadas como caso suspeito, confirmado, provável (contato íntimo com caso confirmado), portador sem sintoma e contactante de casos confirmados. Nesses casos, o isolamento deverá ser em ambiente domiciliar podendo ser feito em hospitais públicos ou privados, conforme recomendação médica, por um prazo de 14 dias, podendo ser estendido por até igual período dependendo do resultado do exame laboratorial.