Mesmo após o Ministério Público Federal (MPF) decidir na semana passada arquivar os inquéritos civis que apuravam responsabilidades do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e do ex-secretário de Segurança Anderson Torres, relacionados ao 8 de janeiro de2023, ambos seguem investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Diante disso, advogados de envolvidos pelos atos de vandalismo às sedes dos Três Poderes esperam que o MPF também acolha os pedidos de arquivamento do inquérito penal, mas receiam que o relator no STF, ministro Alexandre de Moraes, resista a arquivar para manter controle sobre o processo.
A expectativa da advogada Carolina Siebra é de que o MPF também se manifeste pelo arquivamento, mas ainda assim o processo siga aberto. “A tendência seria arquivar, mas temo que se repita o ocorrido no Inquérito das Fake News, aberto em 2019 e sem data para acabar. Nele, a Procuradoria-Geral da República (PGR), dona da ação penal, pediu arquivamento e o ministro Alexandre de Moraes negou”, disse.
No inquérito para investigar responsabilidades de autoridades distritais nos atos de vandalismo estão sendo investigados, além de Ibaneis Rocha e Anderson Torres, o ex-secretário-adjunto Fernando de Sousa Oliveira e o coronel Fábio Augusto, da Polícia Militar do Distrito Federal.
O advogado Claudio Caivano, representante de réus do 8 de janeiro, destaca a autonomia e independência entre os inquéritos civil e penal, e lembra que a absolvição no âmbito penal não impede a condenação na esfera civil, e vice-versa. No entanto, ele expressa preocupação sobre a possibilidade de os procuradores federais serem alijados de suas prerrogativas. Nesse sentido, o advogado aponta a necessidade de aferir se a PGR está supervisionando adequadamente o processo e as conclusões do MPF.
O receio de Caivano reside na percepção de uma concentração excessiva de poder nas mãos do relator do STF. Ele argumenta que a defesa tem evidenciado uma grave distorção que outros profissionais do meio jurídico estão começando a notar. O advogado destaca que o ministro Alexandre de Moraes desempenha papéis de julgador, investigador e parte do processo, apresentando-se também como vítima. “Essa centralização de todas as nuances processuais e penais em uma única pessoa é algo próprio de um ditador, lamentavelmente”, protestou.
MPF arquivou inquérito por falta de provas de intenção de crimes
O MPF arquivou inquéritos que investigavam suposta improbidade administrativa por parte do governador e do ex-secretário em razão da falta de elementos capazes de indicar a intenção deles de permitir ou facilitar acesso de vândalos à Praça dos Três Poderes. “A independência funcional e o alto nível técnico do MPF foram decisivos para demonstrar a inocência de Anderson Torres em relação aos atos do 8 de Janeiro”, disse em nota a defesa de Torres, ex-secretário de Segurança do DF e também ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL).
Ibaneis Rocha declarou à imprensa na última quinta-feira (1º) estar feliz com a decisão do MPF de arquivar o inquérito de improbidade contra ele. “Tive busca e apreensão na minha residência e no meu escritório. Foram vistoriados os meus computadores. Entreguei meus aparelhos telefônicos, porque não estava em Brasília no dia da apreensão. Prestei todos os esclarecimentos possíveis e depoimentos necessários e, assim, aguardo a finalização disso tudo com muita transparência”, disse.
Além do chefe do Executivo e do ex-secretário, também eram investigados por esse inquérito arquivado o ex-número 2 da Secretaria de Segurança Fernando de Sousa Oliveira e a ex-subsecretária de Inteligência da pasta Marília Alencar. Além deles, estavam no processo o ex-comandante do Departamento de Operações (DOP) da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal (PMDF) coronel Jorge Eduardo Naime e os ex-comandantes-gerais da PM Klepter Rosa e Fábio Augusto Vieira.
O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro da Câmara Legislativa do Distrito Federal, aprovado no fim de 2023, inocentou Rocha e Torres das denúncias de colaboração com o vandalismo na Praça dos Três Poderes.
Reação da oposição sobre a situação de Torres
Após a decisão do MPF sobre o inquérito civil, membros da oposição cobraram reparação para o caso de Anderson Torres. Ele ainda é investigado criminalmente, na ação que tramita no STF sob a relatoria de Moraes.
“Quem vai reparar toda a injustiça que foi feita contra o Anderson [Torres]?”, questionou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ao repercutir o caso, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) lembrou que o ex-ministro “ficou preso por 4 meses e ainda usa tornozeleira eletrônica”.
O advogado Fabio Wajngarten, ex-ministro do governo Bolsonaro, relatou ter mandado mensagem para Torres no dia 8 de janeiro de 2023 alertando que ele seria responsabilizado pelos atos de vandalismo. “Lembro-me, quando assistindo pela TV os lamentáveis atos depredatórios, liguei ao Min. Anderson, não falava com ele há semanas. Questionei-o: Ministro, onde o sr. está? Ministro, o sr. está vendo a TV? Faça uma nota ou um tweet imediatamente, vai cair no seu colo. Mais de 100 dias preso. Longe da família, longe de sua vida. A justiça tarda, mas ainda respira, por aparelhos”, escreveu Wajngarten em seu perfil na rede social X.
“Quem pagará por tamanho prejuízo na vida de Anderson Torres? [...] Esse é o padrão na democracia relativa brasileira. Opositores são humilhados em praça pública sem qualquer prova. No fim das contas, a verdade prevalecerá”, disse a deputada Júlia Zanatta (PL-SC).
“Jogaram-no na cadeia, devassaram sua vida, destruíram sua saúde física e mental, e abalaram sua família. Anderson Torres sofreu tudo isso para que encontrassem absolutamente nenhuma prova contra ele no âmbito civil. O mesmo virá em âmbito criminal, pode anotar”, escreveu o vereador de São Paulo, Fernando Holiday, na rede social X.
“E quem vai reparar toda a injustiça sofrida por Anderson e sua família?”, questionou o deputado federal Mario Frias (PL-SP).
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF