Nenhuma pessoa foi presa até o fim da manhã desta terça-feira (13) em decorrência dos atos de vandalismo que ocorreram na noite de segunda-feira (12) nas ruas de Brasília, segundo informou a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF). Os atos, praticados por grupos isolados, segundo as autoridades, estão sendo apurados pela Polícia Civil do Distrito Federal, enquanto caberá à Polícia Federal (PF) apurar os crimes relacionados aos atos que atentem contra a instituição e crimes de natureza federal.
Na noite da segunda-feira, um grupo de pessoas tentou invadir a sede da PF na capital federal, exigindo a soltura do líder indígena e pastor Serere Xavante, um dos líderes dos protestos contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). José Acácio Serere Xavante havia sido preso pouco antes, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após pedido da Procuradoria-Geral da República. Ele é suspeito de praticar condutas ilícitas em atos antidemocráticos.
Ao ser repelido pela Polícia Militar com bombas de efeito moral e spray de pimenta, o grupo que tentava invadir a PF se dispersou por ruas próximas e cometeu atos de vandalismo. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros da capital federal, ao menos três carros e cinco ônibus foram queimados. Imagens que circularam nas redes sociais mostram que pessoas tentaram empurrar um ônibus do transporte coletivo de um viaduto e, ao não conseguirem, atearam fogo no veículo. Também há vídeos que flagraram pessoas ateando fogo em carros. Outros veículos também foram depredados com paus e pedras. Ruas foram bloqueadas.
A SSP-DF informou que, para redução dos danos e para evitar uma escalada ainda maior dos ânimos, a ação da Polícia Militar se concentrou na dispersão dos manifestantes.
A situação foi controlada na madrugada. Na manhã desta terça-feira (13), na região central de Brasília, havia apenas fuligem nas ruas, devido aos veículos incendiados. Também foi possível observar fachadas de prédios que foram vandalizadas.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, toda área central da capital segue monitorada, com apoio de câmeras de videomonitoramento e do serviço de inteligência. Como medida preventiva, o trânsito de veículos na Esplanada dos Ministérios segue restrito nesta terça, assim como o acesso à Praça dos Três Poderes.
A Gazeta do Povo entrou em contato com outros órgãos de segurança, como o Ministério da Justiça e Segurança Pública e com a Polícia Federal, mas nenhuma informação sobre as investigações a respeito deste episódio foram repassadas. Até o momento, também não há informações sobre o prejuízo patrimonial causado pelos vândalos.
Ministro da Justiça diz que vandalismo será apurado
Na noite de segunda-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou, em publicação nas redes sociais, que todos os atos de vandalismo e depredações serão devidamente apurados e esclarecidos. “Nada justifica as cenas lamentáveis que vimos no centro de Brasília. A capital federal tradicionalmente é palco de manifestações pacíficas e ordeiras. E seguirá sendo! Agradeço o empenho da Secretaria de Segurança do Distrito Federal e do governo do Distrito Federal, por todo apoio à Polícia Federal. Tudo será apurado”, afirmou o ministro. Ele disse também que a pasta, por meio da PF, manteve “estreito contato” com a secretaria de Segurança Pública e com o governo da capital para “conter a violência e restabelecer a ordem”.
Também na noite de segunda-feira, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo, disse que algumas das pessoas que praticaram atos de vandalismo nos arredores da PF estavam acampados no quartel general (QG) do Exército, onde estão reunidos manifestantes contrários à eleição de Lula.
“Parte desses manifestantes – a gente não pode garantir que todos estavam lá – mas parte estava lá no QG no acampamento e participaram do ato. Quem for identificado será responsabilizado”, disse em coletiva de imprensa, ao lado do futuro ministro do Ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB).
Preocupação com a segurança de Lula
Como a sede da Polícia Federal fica próxima do hotel onde Lula está hospedado durante o período de transição de governo, houve um reforço na segurança do local na noite da segunda-feira. Depredações foram registradas nas proximidades.
Ainda na noite de segunda, o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que entrou em contato com o governo do Distrito Federal (GDF) e que a segurança do presidente eleito estava "garantida". "Temos dialogado com o GDF, a quem compete a garantia da ordem pública em Brasília, atingida por arruaças políticas. A segurança do presidente Lula está garantida. As medidas de responsabilização jurídica prosseguirão, nos termos da lei", disse Dino.
O futuro chefe da PF, Andrei Passos Rodrigues, também participou da coletiva ao lado de Dino e Júlio Danilo e garantiu a segurança do petista. “Nossa operação segue sendo íntegra, desde como sempre foi. A nossa mensagem é de tranquilidade e que vai seguir até janeiro (...) O presidente cumpriu todas as agendas, foi diplomado e retornou em segurança onde está sereno, descansando", afirmou.
Lula ainda não comentou os atos de vandalismo. Na manhã desta terça, publicou em suas redes sociais que, durante o dia, vai receber os relatórios dos Grupos de Trabalho do governo de transição no Centro Cultural Banco do Brasil, sede da equipe de transição.
Na manhã desta terça, a SSP-DF informou que a área central e as imediações do hotel em que o presidente da república eleito está hospedado têm policiamento reforçado.
Prisão de líder indígena e pastor motivou protesto em frente à PF
Os atos de vandalismo escalaram de um protesto motivado pela prisão temporária de José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tsereré, um dos líderes do movimento que pede uma intervenção federal para impedir a posse de Lula. A informação é da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF). A prisão foi realizada pela Polícia Federal na tarde desta segunda-feira (12), após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que acolheu pedido feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Moraes determinou que o indígena permaneça preso por dez dias pela suposta prática de condutas ilícitas em atos antidemocráticos. De acordo com a PF, Xavante teria realizado manifestações de cunho antidemocrático em frente ao Congresso Nacional; no Aeroporto Internacional de Brasília, onde invadiram a área de embarque; no centro de compras Park Shopping; na Esplanada dos Ministérios; e em frente ao hotel onde estão hospedados o presidente e o vice-presidente da República eleitos.
No pedido de prisão, a PGR argumenta que o cacique Tsereré estaria usando sua posição de cacique do Povo Xavante para “arregimentar indígenas e não indígenas para cometer crimes, mediante a ameaça de agressão e perseguição” contra Lula e dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. “A manifestação, em tese, criminosa e antidemocrática, revestiu-se do claro intuito de instigar a população a tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo a posse do presidente e do vice-presidente da República eleitos”, registrou a PGR. Diante das acusações, Moraes determinou que a prisão temporária era “a única medida capaz de garantir a higidez da investigação”. O processo (Petição 10764) corre em sigilo. As informações foram repassadas pela assessoria de imprensa do STF.
Esse é o segundo manifestante envolvido em protestos contra a eleição de Lula que foi preso por ordem de Moraes. Em 6 de dezembro, o empresário Milton Baldin foi detido em frente ao Quartel-General do Exército, área no Setor Militar Urbano, em Brasília, onde manifestantes estão acampados desde o segundo turno das eleições, em 30 de outubro. De acordo com o ministro, que atuou na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o empresário instigou “grupos armados para protestarem na capital federal” ao convocar caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo (CACs) para participarem de protestos contra o presidente eleito – o que a defesa de Baldin contesta.
Quem é o cacique Serere Xavante
O cacique Serere Xavante se destacou por ser um dos manifestantes de maior destaque contra a eleição de Lula. Além de líder indígena da Terra Indígena Parabubura, ele é pastor missionário evangélico e missionário da Associação Indígena Bruno Ômore Dumhiwê.
Serere também é filiado ao Patriotas, partido que, embora não tenha apoiado a candidatura de nenhum candidato a presidente nas eleições deste ano, possui um perfil conservador. Foi por esse partido que, em 2020, o cacique se candidatou ao cargo de prefeito de Campinápolis, em Mato Grosso. Na ocasião, fez apenas 9,7% dos votos (689 votos) e não foi eleito. Ele é natural de Poxoreu, Mato Grosso.
Após ser preso, ainda na noite de segunda-feira, o líder indígena e pastor gravou um vídeo da sede da Polícia Federal, onde está preso, pedindo o fim dos confrontos entre manifestantes e forças de segurança em Brasília. No início da gravação, o líder Xavante fala algumas palavras em sua língua nativa. Em seguida, em português, Serere afirma que está bem, em paz e pede o fim dos conflitos na capital federal.
“Meus amigos irmãos, povo brasileiro. Caciques e líderes. Estou bem, graças a Deus. Estou em paz. Eu quero pedir, como eu tenho amado os senhores aí, se os senhores me amam também, me consideram. Servos do senhor. Eu quero pedir que os senhores não venham fazer conflito, briga ou confronto com a autoridade policial. Venha viver em paz e não pode continuar o que aconteceu, infelizmente, essa destruição dos carros, ataques à sede da Polícia Federal”, diz o cacique, em referência aos atos de violência que aconteceram logo após sua prisão.
“Nós sabemos que somos povo santo, povo de bem, que não compactua com o derramamento de sangue, com briga, com conflito. A nossa luta não é contra as pessoas humanas, é contra as potestades espirituais. Deus abençoe a todos, em nome de Jesus. É uma ordem”, diz o indígena na gravação. O vídeo mostra uma mudança de postura. Recentemente, ele foi gravado dizendo que Lula não governaria o país: “só em cima do meu caixão”.
A defesa de Serere Xavante disse, na noite de segunda, que ele está sendo bem tratado na PF, mas classificou a prisão como abusiva. “O cacique está bem, está sendo bem assistido. Embora a prisão tenha sido ilegal, abusiva e criminosa, a Polícia Federal está tratando ele com todo respeito e nos devidos tramites da própria polícia. Então, assim, a integridade física dele está respeitada lá dentro e agora os advogados vão falar com todo mundo para distensionar a manifestação”, disse o advogado Cristiano Caiado, em entrevista à repórter Samantha Klein, da Rádio Gaúcha.
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