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A bancada evangélica da Câmara dos Deputados formalizou recentemente seu apoio a Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela presidência da Casa. Em nota assinada pelo presidente do bloco, Cezinha de Madureira (PSD-SP), a Frente Parlamentar Evangélica diz que espera que Lira, se eleito, atue pautado "pelos princípios e valores da maioria cristã e conservadora da nação brasileira". A adesão dos religiosos a Lira é puxada principalmente pela conexão entre o deputado do PP e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a insatisfação com Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara.
Lira não é evangélico e não tem, em sua trajetória, grandes conexões com o conservadorismo. Ao contrário, o deputado se posiciona historicamente como um político de Centro e defende propostas pouco caras aos evangélicos, como mecanismos de mais incentivo à participação feminina na política. Ainda assim, Lira se tornou o candidato de Bolsonaro, o que ampliou sua proximidade com o grupo.
O deputado do PP também ganhou apoios por causa da rejeição dos evangélicos à gestão de Rodrigo Maia, que respinga na candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) – o nome apoiado pelo democrata.
Maia é visto como um presidente centralizador e pouco aberto a ouvir as demandas do chamado "baixo clero" da Câmara. O democrata é contestado também por suas críticas habituais à chamada "pauta de costumes", conjunto de propostas no campo comportamental apoiado por Bolsonaro e pelos parlamentares evangélicos. Como presidente da Câmara, Maia freou o debate em torno de proposições desse tipo, o que frustrou lideranças com vínculos religiosos.
A adesão de partidos de esquerda à candidatura de Rossi é outro elemento que levou a bancada evangélica a apoiar Lira. O emedebista formou um bloco com a presença de legendas que fazem oposição a Bolsonaro, como PDT, PSB e PT. A composição serviu para posicionar os evangélicos, que são em sua maior parte bolsonaristas, do outro lado.
"Eu voto com Bolsonaro. Se Bolsonaro votar em Lira, eu voto em Lira. Se votar em X, eu voto em X", resume o deputado Pastor Eurico (Patriota-PE), um dos líderes da Frente Parlamentar Evangélica.
"95% dos evangélicos" estarão com Lira, diz Feliciano
A bancada evangélica viu um raro momento de disputa interna no fim de 2020 e começo de 2021. Mas isso não refletiu no apoio maciço do grupo a Lira.
No momento de definir o novo coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, que assumiria a função no lugar de Silas Câmara (Republicanos-AM), dois nomes se apresentaram e não propuseram deixar a disputa em favor de uma unidade do grupo: Cezinha de Madureira e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ). A escolha do presidente do grupo, que habitualmente é feita por aclamação, por pouco não foi definida no voto a voto. Os deputados se pacificaram e definiram que Madureira será o presidente ao longo de 2021 e Cavalcante assume em 2022. Tradicionalmente, o "mandato" é de dois anos.
A disputa, porém, não progrediu – ao menos no que se refere à eleição interna da Câmara. A nota oficial sobre o apoio a Lira relata que a posição do grupo foi tomada "com raríssimas exceções dentro da nossa frente".
Membro do grupo, o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) é mais enfático: "95% dos parlamentares evangélicos votarão no Arthur". Feliciano faz a ressalva de que o voto é secreto. Mas diz que "os compromissos de Baleia com a esquerda facilitam o convencimento".
A questão do voto secreto é um fator que colabora para que o apoio dos evangélicos a Lira possa ser superior ao que a frente indica "no papel". Isso porque parte dos deputados que integram a bancada está em partidos que, em tese, dão sustentação à candidatura de Baleia Rossi.
Um exemplo é o futuro presidente do grupo, Sóstenes Cavalcante. Ele é do DEM, mesmo partido de Rodrigo Maia, que lidera a campanha de Baleia Rossi. Mas o parlamentar não manifestou apoio a nenhuma candidatura até o momento. Cavalcante é um governista convicto – em postagem recente nas redes sociais, chamou de "mimimi da esquerdalha " a ideia de impeachment de Bolsonaro.
E mesmo fora do ambiente do "voto secreto" algumas defecções de dentro da bancada evangélica já se apresentam a favor de Lira. Uma delas veio da deputada Daniela do Waguinho (MDB-RJ), que declarou voto no alagoano.
O posicionamento da parlamentar gerou uma guerra de notas de repúdio. A primeira veio do MDB Mulher. O segmento feminino do partido da deputada disse que o posicionamento de Daniela "desrespeita todas as mulheres". "Nós, do MDB Mulher, repudiamos o apoio a um candidato que não respeita os direitos da mulher e tem um passado sombrio de agressões", diz trecho do comunicado. O texto do MDB Mulher faz referência à acusação de violência doméstica que paira sobre Lira.
Em resposta, um grupo de deputadas de 10 partidos (PP, PL, Solidariedade, PSL, Republicanos, Avante, Pros, PTB, PSB e PSDB) publicou uma nota chamando o posicionamento do MDB Mulher de "assédio político" e disse que o texto cerceava a liberdade de escolha de Daniela. As deputadas citam também o caso de Liziane Bayer (PSB-RS), que é igualmente apoiadora da candidatura de Lira.
Bancada tem mais de 100 integrantes
A Frente Parlamentar Evangélica é hoje composta por 105 deputados federais e 15 senadores. O grupo tem ampliado seu tamanho e sua relevância no Congresso nos últimos anos. Em 2015, foi decisivo para a vitória de Eduardo Cunha (MDB-RJ) para a presidência da Câmara. Cunha é evangélico.
Os membros da bancada promoviam – em tempos de normalidade, fora da época da pandemia do coronavírus – cultos semanais na Câmara, que são frequentados por parlamentares e também por servidores da Casa. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) costuma participar dos encontros, mas não vota de modo similar ao grupo.