Jair Bolsonaro em evento da FPA: setor apoia governo, e bancada ruralista está dividida em relação ao apoio na Câmara| Foto: Alan Santos/PR
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A maior parte dos deputados que formará a próxima gestão da Frente Parlamentar de Agropecuária (FPA) apoia a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara. O grupo inicia sua gestão no comando da bancada ruralista, uma das mais influentes do Congresso, em 23 de fevereiro.

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A preferência da FPA por Lira ocorre a despeito do fato de o atual comandante do grupo, Alceu Moreira (MDB-RS), e seu sucessor, Sérgio Souza (MDB-PR), terem declarado apoio ao principal adversário de Lira, Baleia Rossi (MDB-SP).

"O deputado Baleia Rossi é extremamente qualificado para o diálogo com qualquer partido, o que é imprescindível para levar à frente as pautas que o país precisa. E isso em nada tem a ver com apoio a pautas da esquerda como muitos dizem", publicou Moreira em suas redes sociais no último dia 10 de janeiro.

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A manifestação de Moreira motivou críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O chefe do Executivo disse na segunda-feira (11): "O campo nunca teve um tratamento tão justo e honesto quanto tem comigo, em todos os aspectos. Alguns parlamentares do campo, ao invés de apoiar o nosso candidato, estão apoiando outro candidato. Eu não entendo". O "nosso candidato" citado por Bolsonaro é Lira, que concorre com a chancela do Palácio do Planalto.

Em entrevista ao Estadão na quarta-feira (13), Moreira rebateu Bolsonaro: “É um erro ingênuo do governo. A FPA não é partido, isso é um erro político”.

Na teoria, Baleia; na prática, Lira

A superioridade da preferência por Lira entre os deputados que integram a FPA se verifica tanto por meio da análise dos partidos que formam a frente quanto com a verificação da manifestação individual de alguns parlamentares.

Hoje, a disputa entre Rossi e Lira se dá também com a quantidade de partidos que apoiam formalmente cada um dos projetos. O deputado paulista alega ter o apoio de 11 legendas (PT, PSL, MDB, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede) e o alagoano é sustentado por nove siglas (PL, PP, PSD, Solidariedade, Avante, PROS, Patriota, Republicanos e PSC).

A identificação dos membros da FPA que integram essas siglas revela que 26 deputados são de partidos do grupo de Lira e 18 pertencem a legendas que apoiam Rossi. A margem de Lira, entretanto, pode ser maior. Isso porque como a votação para a presidência da Câmara é individual e secreta, é possível que um deputado contrarie os acordos fechados pela direção do seu partido.

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E, mais que isso, a candidatura de Lira tem recebido apoios públicos de deputados que, em tese, "deveriam" endossar o nome de Rossi. Na FPA, um exemplo é o deputado Arthur Maia (DEM-BA), colega de partido do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), principal fiador da campanha de Rossi, mas que está pedindo votos para Lira.

A FPA conta ainda com deputados que pertencem ao PSL mas ficaram, no racha que marcou a sigla, do lado "bolsonarista" da disputa. Eles são Nelson Barbudo (MT), Aline Sleutjes (PR) e Soraya Manato (ES). Os três assinaram a lista proposta por Vitor Hugo (GO), que busca formalizar o desembarque do PSL do apoio a Rossi e integrar o partido no projeto de Lira.

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Ruralistas dão apoio ao governo

Ao longo dos dois primeiros anos da gestão Bolsonaro, a maior parte dos deputados que faz parte da bancada ruralista endossou a maior parte das propostas do governo. Os deputados do setor deram, por exemplo, sustentação para a votação da reforma da previdência, a principal proposta do governo Bolsonaro para o campo econômico em 2019.

A bancada se conectou com Bolsonaro ainda no período eleitoral de 2018, quando o então candidato defendeu temas como a revisão das políticas de combate ao trabalho escravo e a expansão do direito à posse de armas nas propriedades rurais. Durante a trajetória como deputado federal, Bolsonaro habitualmente entrava em embates contra o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), que é adversário dos ruralistas.

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A atuação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é também um ponto de aproximação entre a bancada e o governo. O trabalho da ministra é considerado uma unanimidade no setor.

A aprovação de Tereza Cristina entre os parlamentares é tamanha que uma candidatura dela à presidência da Câmara chegou a fazer parte das especulações que envolvem a disputa pelo comando da casa. A ministra é deputada federal licenciada pelo DEM do Mato Grosso do Sul.

Em 2019, a ministra retornou temporariamente à Câmara para participar da eleição que foi vencida por Rodrigo Maia. A Gazeta do Povo apurou que Cristina ainda não definiu se estará na votação de 2021.

Baleia e Lira já integraram a bancada ruralista

Baleia Rossi e Arthur Lira não integrarão a bancada ruralista em 2021 e 2022. Os deputados, entretanto, já fizeram parte do grupo. E ambos têm vínculos com o setor que vão além da frente parlamentar.

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Lira se apresenta como agropecuarista e é proprietário de empresas que atuam no setor, no estado de Alagoas. Já Baleia é filho de Wagner Rossi, que foi ministro da Agricultura durante as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

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