Depois de praticamente finalizar as investigações sobre o envolvimento das principais construtoras do país no esquema de desvios de recursos da Petrobras, a Lava Jato parece estar abrindo um novo foco de investigações. Neste ano, as operações da Polícia Federal (PF) começaram a mirar bancos usados para lavar o dinheiro desviado dos cofres públicos. Pelo menos seis instituições bancárias já aparecem em investigações da força-tarefa: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BTG Pactual, Itaú, Bradesco e Santander.
A homologação da delação do ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, fechada com a Polícia Federal, ainda pode abrir caminho para investigações mais aprofundadas sobre as principais instituições financeiras do país. Entre os alvos do ex-ministro nos depoimentos da delação estão o BTG, Banco Safra, Itaú/Unibanco, Bradesco, dentre outros. Todos os implicados negam as acusações.
Os rumores de que a Lava Jato se aproxima dos bancos em sua teia de investigação correm desde 2017, com a expectativa de um acordo de delação de Palocci. O Ministério Público Federal (MPF) desistiu do acordo com o ex-ministro, mas o ex-ministro acabou fechando a delação com a Polícia Federal (PF) e teve o acordo homologado pela Justiça.
Três operações em Curitiba neste ano tiveram bancos como alvo
Três operações deflagradas diretamente pela Lava Jato em Curitiba tiveram bancos como alvo, além de outra operação deflagrada em São Paulo. Na primeira operação da força-tarefa da Lava Jato autorizada pelo juiz federal Luiz Antônio Bonat, que assumiu o lugar de Sergio Moro na 13.ª Vara Federal de Curitiba, agentes da Polícia Federal tinham na mira executivos do Banco Paulista S/A. Foi a primeira vez que a Lava Jato cumpriu mandados na sede de um banco.
A 64.ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada em agosto, teve como alvo supostas propinas pagas no negócio de compra, pela Petrobras, em 2013, de metade da PetroAfrica – empresa de petróleo africana. As propinas teriam circulado pelo Banco BTG Pactual.
O negócio teria envolvido prejuízo de cerca de R$ 6 bilhões, segundo os investigadores da Lava Jato. A Operação Pentiti teve como alvos o banqueiro André Esteves, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster e o PT. A sede do BTG, no Rio de Janeiro, foi alvo de buscas e apreensões. A operação foi impulsionada pela delação de Palocci.
O BTG voltou a ser alvo da PF, desta vez em São Paulo, no início de outubro, com a deflagração da Operação Estrela Cadente. Os investigadores suspeitam que André Esteves teria recebido, de maneira antecipada, informações vazadas do Banco Central sobre a taxa básica de juros do país, a Selic. A delação de Palocci também embasou a operação.
Já a operação Alerta Mínimo, 66.ª fase da Lava Jato, foi deflagrada no final de setembro e teve como alvos doleiros e gerentes do Banco do Brasil. A investigação identificou a lavagem de R$ 200 milhões entre 2011 e 2014, auxiliadas por três gerentes e um ex-gerente do BB.
Parte do dinheiro, segundo o Ministério Público Federal, foi usada para pagamentos de propinas do esquema de corrupção descoberto na Petrobras. A Lava Jato acredita que os gerentes também receberam propina para burlar mecanismos de prevenção à lavagem de dinheiro do banco.
Bancos estão na mira de outras investigações
Uma reportagem do portal UOL mostrou, no início de outubro, que investigações da Lava Jato apontam que contas abertas nos cinco maiores bancos do país foram usadas para lavar dinheiro desviado da Petrobras. O dinheiro sujo teria passado por Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa e Santander.
Ao todo, segundo a reportagem, foi movimentado R$ 1,3 bilhão em todas as contas. A Lava Jato apura se os bancos têm envolvimento no crime de lavagem de dinheiro ao facilitar as transações suspeitas.
A maior parte do dinheiro, R$ 989,6 milhões, teria passado pelo Bradesco. O Banco do Brasil – que teve gerentes como alvo na 66.ª fase da Lava Jato – teria movimentado R$ 200 milhões. Pelo Itaú teriam passado R$ 94,5 milhões. Já pelo Santander teriam sido R$ 19,5 milhões. Outros R$ 4,1 milhões teriam sido lavados através de contas da Caixa Econômica Federal.
Palocci pode não ter sido o único a delatar instituições financeiras
Além da delação de Palocci, outro delator que pode ter citado instituições financeiras é o doleiro Lúcio Funaro. Ele é acusado de ser o operador financeiro do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ), que está preso na Lava Jato desde 2016.
Os bancos que mais doaram à campanhas políticas em 2014, somando doações para todos os partidos, foram o Bradesco (R$ 89 milhões), BTG Pactual (R$ 52 milhões), Itaú (R$ 26,6 milhões) e Safra (12,9 milhões) – todos citados na delação de Palocci.