A presença das bandeiras de Israel e EUA se tornou praxe em manifestações favoráveis ao governo Jair Bolsonaro. No domingo (3), apoiadores do presidente levaram as bandeiras israelense e norte-americana à rampa do Palácio do Planalto, junto com a brasileira. Bolsonaro posou para fotos com as três ao fundo e causou alvoroço nas redes sociais.
A referência a Israel provocou reações negativas de alguns setores da comunidade judaica no Brasil. “A bandeira de Israel numa manifestação contra a democracia NÃO representa os valores judaicos!! Que patriotismo é esse que tremula bandeiras e ignora milhares de mortos? Basta do sequestro de símbolos!”, afirmou a associação Judeus pela Democracia por sua conta no Twitter.
O Instituto Brasil-Israel, que tem criticado o governo Bolsonaro com frequência, também comentou a presença do símbolo de Israel no protesto. Afirmou via Twitter que as aparições da bandeira “em atos antidemocráticos e que pedem o fim da quarentena” são “contraditórias aos valores que ela representa” e “envergonham” a comunidade israelense.
Alguns militares também não gostaram da presença das bandeiras junto ao presidente do Brasil na rampa do Palácio do Planalto, um dos símbolos da República brasileira. Apesar da bandeira verde e amarela aparecer acima das demais, a maioria das fotos feitas e divulgadas na redes sociais mostram Bolsonaro ao lado da bandeira americana, que estava mais abaixo.
"Acho que um Estado soberano como o Brasil não tem motivo para atrelar a manifestação a bandeiras de outros países", opinou o deputado General Peternelli (PSL-SP) ao blog de Chico Alves, no UOL. Ao mesmo colunista, o general da reserva Paulo Chagas, que foi candidato a governador do Distrito Federal pelo PSL nas últimas eleições, emendou: "Não sei onde o presidente quer chegar com isso, sinceramente".
Bandeiras de Israel e EUA são símbolos da direita
A manifestação tinha como alvos o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, o Congresso brasileiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) e as medidas de isolamento social contra o coronavírus. A relação entre as motivações dos atos e a presença das bandeiras de Israel e dos EUA não é óbvia, mas há um caráter simbólico importante.
Para o sociólogo Lucas Azambuja, do Ibmec-BH, as bandeiras sinalizam “uma oposição a símbolos e bandeiras da esquerda” e são uma forma de afirmar a posição ideológica dos manifestantes. “Assim como você vê, em manifestações de esquerda, bandeiras ligadas a foice e martelo, ao vermelho e até mesmo bandeiras da Palestina, é uma forma de marcar posição”, diz.
Segundo Azambuja, cada uma das três bandeiras que apareceram nas fotos da rampa do Palácio do Planalto fazem um contraponto claro a símbolos comuns em manifestações esquerdistas.
“O contrário da bandeira vermelha seria a bandeira da pátria, nacional. O contrário da bandeira palestina seria a de Israel. E o contrário da bandeira da foice e do martelo, ligada às ideologias comunistas e socialistas, seria a bandeira dos Estados Unidos. Antes de tudo, é uma forma de marcar essa posição”, explica.
Bandeira de Israel tem apelo com público evangélico
A presença da bandeira de Israel, além de marcar uma oposição à tendência da esquerda brasileira de apoiar a causa palestina no conflito do Oriente Médio, tem outra motivação, segundo Azambuja: o apelo junto ao público evangélico, que costuma ter especial apreço pela cultura israelense.
“A base eleitoral do Bolsonaro é de evangélicos, e os evangélicos têm uma identificação com Israel”, diz. O voto de evangélicos foi considerado importante para a eleição do presidente em 2018.
Embora o uso da bandeira com a estrela de Davi tenha sido criticado por algumas associações israelenses no Brasil, a relação oficial com o país tem sido boa. O presidente Jair Bolsonaro é amigo pessoal do embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, e é um parceiro geopolítico do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
A apropriação de símbolos de Israel tem sido motivo de críticas desde o começo do governo Bolsonaro por associações israelenses, e as polêmicas com a cultura de Israel são frequentes. No fim de abril, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi alvo de uma dessas controvérsias depois de publicar um texto em que fazia um paralelo entre campos de concentração e a atual situação de isolamento social pela pandemia.
Em janeiro, o ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, foi exonerado do cargo por ter feito um vídeo com referências nazistas para a divulgação de um novo projeto do governo, parafraseando o ex-ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels.
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