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O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou nesta quarta (21) que o comportamento das Forças Armadas foi “decepcionante” pelo que se descobriu no âmbito das investigações que apuram uma suposta tentativa de golpe de Estado envolvendo militares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Bolsonaro, militares, ex-ministros e assessores foram alvos de uma operação da Polícia Federal deflagrada no começo do mês para “apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República [Bolsonaro] no poder”.
Barroso foi o responsável por convidar os militares para acompanharem e fiscalizarem o processo eleitoral enquanto ocupou o cargo de presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em que buscou reafirmar a transparência das urnas eletrônicas em meio aos discursos de Bolsonaro.
“Eu chamei as Forças Armadas [entre outros órgãos para formar a Comissão de Transparência] e preciso dizer, lamentando muito, que tiveram um comportamento bastante decepcionante. [...] Eles acabaram sendo manipulados para levantar desconfianças e suspeitas infundadas, de modo que foi muito frustrante”, disse Barroso em entrevista à GloboNews.
Apesar de considerar que a atuação das Forças Armadas na comissão como “frustrante”, o ministro afirma que a conclusão a que chegaram – de que não foram encontradas falhas consideráveis – deu mais legitimidade ao sistema eletrônico de votação.
“Apesar de tudo, de terem tentado levantar suspeitas, procurado incansavelmente alguma coisa errada, tiveram que fazer um relatório dizendo que ‘não achamos’. No final das contas, foi altamente legitimador do processo eleitoral você ter alguém lá dentro procurando”, pontuou o ministro.
Luís Roberto Barroso, no entanto, não generalizou a atuação dos militares na suposta tentativa de promover um golpe de Estado, afirmando que apenas alguns deles acabaram politizando as Forças Armadas com uma “má liderança” que levou a “general em palanque” – "pior coisa que existe para a democracia", disse – e uma tentativa de “leva-las ao passado”, em referência ao período da Ditadura.
Barroso ressaltou que houve militares que não se submeteram a este tipo de liderança, como os generais Fernando Azevedo e Silva e Marco Antônio Freire Gomes, que não teriam sido influenciados pelo suposto plano, e o atual comandante-geral do Exército, Tomás Paiva.
“Infelizmente, se reavivou uma assombração que nós já achávamos enterrada na vida brasileira, que é a do golpismo. As Forças Armadas, no período pós -1988 haviam tido um comportamento exemplar, e recuperado o prestígio que a instituição merece. [...] No final do dia, as Forças Armadas não faltaram ao país apesar de ter tido lideranças que a procuraram levar para o passado”, completou.