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O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, classificou como um “comportamento desleal” a atuação de alguns membros das Forças Armadas no processo de acompanhamento das eleições de 2022. Barroso citou a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), criada por ele em 2021, e apontou que militares participaram da iniciativa para “levantar suspeitas” sobre a segurança das urnas eletrônicas.
“Eu, quando se discutia a lisura das eleições – porque não tinha nada a esconder –, convidei alguns representantes das Forças Armadas para estar dentro do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] em uma comissão de transparência… Mas, por uma má liderança, em vez de ajudarem, ficaram tentando obter informações para levantar suspeitas e facilitar ataques. Chegaram ao ponto de publicar informações reservadas dos programas [do sistema eleitoral] na rede social, para facilitar as pessoas a nos atacarem”, disse o ministro.
“Comportamento desleal, não da instituição, mas apenas dos que foram conduzidos por uma má liderança”, acrescentou Barroso ao discursar durante aula magna na PUC-Rio. Segundo o presidente do STF, "felizmente as coisas começam a voltar ao normal", mas "chegamos mais perto do que imaginávamos do impensável". O ministro afirmou ainda que o pleito de 2022 mostrou a “politização das Forças Armadas”, depois de quase 35 anos de “comportamento exemplar”, após a ditadura de 1964.
No último dia 4, Barroso já havia criticado a postura de militares nas eleições de 2022. Na ocasião, ele afirmou que as Forças Armadas fizeram um “papelão” no TSE. “Foram manipulados e arremessados na política, por más lideranças, fizeram um papelão no TSE. Convidados para ajudar na segurança e para dar transparência, foram induzidos por uma má liderança a ficarem levantando suspeitas falsas”, disse.
Ministro critica "captura" da religião pela política
Durante o discurso desta sexta, Barroso criticou a “captura da religião para servir a causas políticas temporais, e não espirituais”. O ministro disse que o “uso abusivo da religião” é uma “covardia”. Ele condenou a “instrumentalização de líderes religiosos para captarem votos e dizerem: ‘O meu adversário é o demônio’ ou ‘Quem apoiar o meu adversário não vai para o céu’”.
Para o ministro, essa é uma “forma bárbara e anticristã de lidar com a religião”. “É preciso acabar com esse uso abusivo e indevido da religião. A religião é uma coisa muito importante na vida, mas é um espaço da vida privada. A manipulação política da religião é uma covardia contra as pessoas, é um abuso da fé das pessoas”, reforçou.
O presidente da Corte defendeu que a democracia precisa se reinventar para se fortalecer. “A democracia vai ter que se reinventar, porque o populismo autoritário cresce nos desvãos da democracia, nas promessas não cumpridas de igualdade, de oportunidades e de prosperidade para todos”, disse Barroso.