O conteúdo está certo. A forma é que foi errada. No auge da crise internacional que envolve muito mais do que, aparentemente, a degradação da floresta amazônica, esse é o tom que tem prevalecido entre integrantes das Forças Armadas, generais da ativa e da reserva.
Na visão desses oficiais, o presidente Jair Bolsonaro, capitão do Exército reformado, mais do que acertou ao defender a soberania do Brasil na Amazônia. Mas errou ao tratar do tema com a mesma informalidade que ele costuma usar em outras ocasiões, muitas vezes beirando a ironia e o deboche. “Devemos responder com firmeza e agressividade às afrontas internacionais, mas com argumentação lógica, inteligente, bem embasada e convincente e não com base em reações predominantemente emocionais”, afirma o general da reserva, Luiz Rocha Paiva.
Agora, enquanto é traçada a estratégia para enviar soldados que vão combater o fogo nos Estados mais atingidos pelas queimadas, na operação autorizada por meio de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), os militares reforçam o discurso que pauta a concepção da defesa da região. E, ainda, vêm mandando recados ao público interno e, principalmente, à comunidade internacional.
Nesta sexta, na Ordem do Dia lida para comemorar o Dia do Soldado, o comandante do Exército, Edson Pujol, avisou: “Aos incautos que insistem em tutelar os desígnios da brasileira Amazônia, não se enganem! Os Soldados do Exército de Caxias estarão sempre atentos e vigilantes, prontos para defender e repelir qualquer tipo de ameaça”.
No twitter, o general Eduardo Villas Bôas, não tem medido palavras para lembrar que a presença militar na Amazônia não se resume à ocupação de um território soberano da Nação. Mas é também uma ação de dissuasão que conta com tropas preparadas para agir em qualquer modalidade de operação.
Outros generais da reserva, como Luiz Rocha Paiva, também têm manifestado preocupação com o que chamam de “ataque europeu”, ao mesmo tempo em que tentam mudar o foco da narrativa das Ongs, dos ambientalistas e de todo tipo de interesse que, ressaltam, existe na região.
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, escreveu na mesma rede social que a "Amazônia Brasileira é um patrimônio do nosso povo, que saberá protegê-la das ameaças dos que prejudicam a floresta com ações ilegais e reagirá àqueles que pretendem violar nossa soberania."
“Desde 1991, por exemplo, existem pressões políticas, econômicas e psicossociais para demarcar Territórios Indígenas (Tis) em regiões fronteiriças, a fim de facilitar a ingerência, particularmente da ONU, de acordo com interesses de potências, no sentido de haver uma soberania compartilhada da eventual terra "binacional ou trinacional", diz Rocha Paiva.
Segundo ele, a partir do momento em que o ex-presidente Fernando Collor demarcou a Terra Indígena Ianomami - do tamanho de Portugal na Faixa de Fronteira com a Venezuela – para evitar o boicote à Eco-92 - países desenvolvidos tentam usar a mesma tática, pressionando os governantes brasileiros . “Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula e Dilma se dobraram ao imperialismo global. Mas, Bolsonaro, ao contrário, mudou essa postura servil, colocando em risco a estratégia internacional de limitar nossa soberania. Eis a razão da atual ofensiva das potências europeias para emparedar o nosso governo”, sustenta.
O Exército amplia a ocupação da Amazônia desde a década de 1970 pelo receio de que a questão indígena fosse utilizada para patrocinar o surgimento de algum Estado autônomo em áreas como a da reserva ianomâmi. Essa preocupação levou à criação de unidades no meio da floresta – brigadas de infantaria de selva, como a 5ª em São Gabriel da Cachoeira (Am): a 16ª, em Tefé (Am); a 17.ª, em Porto Velho (RO), e a 23.ª, em Marabá (PA). A partir dos anos 1990, esse movimento se intensificou e tropas foram transferidas de outras regiões para São Gabriel da Cachoeira e Tefé (AM). No ano passado, a mais nova dessas brigadas de infantaria na selva, foi criada em Macapá, abrangendo a área da foz do rio Amazonas.
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