Andrey Guryev, presidente do conselho empresarial Brasil-Rússia e CEO da PhosAgro, elogiou o plano de privatizações do Brasil.| Foto: Divulgação

Além dos encontros entre autoridades, a Cúpula do Brics, que ocorreu em novembro em Brasília, contou com representantes do empresariado de África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia. Um dos grandes objetivos do governo brasileiro foi aproveitar o contato com empresários desses países para vender o plano de concessões e privatizações do Brasil.

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Uma das presenças de destaque foi o presidente do conselho empresarial Brasil-Rússia, o bilionário Andrey Guryev. Além de liderar esse conselho, ele é CEO da PhosAgro, uma das maiores fabricantes de fertilizantes do mundo.

Guryev reuniu-se com Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, e Sergio Segovia, presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em que o plano de privatizações e concessões do governo brasileiro lhe foi apresentado.

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O russo classificou o plano como “colossal” e o definiu como “o maior programa de privatizações do mundo”, mas criticou a falta de divulgação desses projetos para empresários de seu país.

“Antes de tudo, precisamos constituir uma plataforma correta para levar essas propostas ao conhecimento das empresas públicas e privadas da Rússia, e para ter o apoio por parte do governo a esses projetos. Porque, até agora, não sabíamos nada sobre isso. Nada. Acabamos de começar a descobrir as coisas”, disse ele.

Guryev também criticou o atual nível de comércio entre Brasil e Rússia, que ele considera “coisa insignificante” em se tratando de duas economias gigantes. Atualmente, o valor total das exportações e importações entre Brasil e Rússia está em cerca de US$ 5 bilhões. O empresário russo acredita que esse valor já poderia estar em US$ 50 bilhões.

“Somos duas das maiores economias do mundo. E US$ 5 bilhões de dólares são praticamente nada, coisa insignificante, em matéria de compras e vendas entre dois países como os nossos. Eu acho que os US$ 5 bilhões de hoje são insuficientes. Houve algum acidente de percurso que precisa ser sanado.”

Confira os destaques da entrevista exclusiva com Andrey Guryev à Gazeta do Povo, concedida no dia 12 de novembro.

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A missão da visita

"Eu acabei de me tornar chefe do conselho Brasil-Rússia. Meu principal objetivo é reestabelecer a comunicação entre empresários russos e brasileiros. O segundo objetivo é entender o ambiente político, com o novo governo, o novo presidente do Brasil. Queremos saber qual será a abordagem dele para a relação bilateral com a Rússia.

A importância do setor agrícola para a relação Brasil-Rússia

"Antes de tudo, a Rússia e o Brasil são as duas maiores potências agrícolas do mundo. As economias dos nossos países são complementares em vários aspectos. Nos últimos sete a dez anos, a Rússia progrediu imensamente na área da agricultura. Está conquistando novos mercados e começa a exportar sua produção agrícola.

O Brasil, que é uma grande potência agrícola, tem imensa experiência de produção dos mais diversos produtos agrícolas, a começar pela carne. Eu tenho toda a certeza de que as empresas brasileiras também podem competir na Rússia, porque esse mercado tem um imenso potencial de crescimento.

Na Rússia, não temos esse problema de desmatamento, como no Brasil, e outros problemas ecológicos desse tipo. Tenho certeza de que os empresários teriam um campo fértil para investir na Rússia, usando suas tecnologias, seu expertise, e poderíamos juntos desenvolver esse mercado em ascensão. Não apenas os produtores agrícolas, mas qualquer tipo de empresário brasileiro poderia oferecer seus produtos na Rússia."

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Contatos ficaram paralisados por muito tempo

"Eu, como empresário, acho que durante alguns anos os contatos comerciais do Brasil com a Rússia ficaram hibernados. Não acontecia praticamente nada. Com o novo presidente, o novo governo brasileiro, com esses amplos programas de privatização e concessões que proclama o governo brasileiro, achamos que poderia haver um grande empurrão no desenvolvimento das nossas relações econômicas.

Poderia ser uma via de mão dupla. A Rússia está interessada em concorrer no mercado brasileiro e vice-versa. Podemos tratar das diversas concessões, das estradas de ferro, da construção de centrais nucleares, portos, desenvolvimento da logística, trabalhos na esfera do petróleo, do gás, esse tipo de indústria. A mesma coisa em relação ao setor agrícola e, em particular, aos fertilizantes.

A principal missão da minha equipe é reunir todas as demandas dos empresários brasileiros e, ao mesmo tempo, as demandas dos empresários russos, e ver de perto que projetos o Brasil pode oferecer à Rússia e vice-versa. Precisamos construir uma plataforma de diálogo incluindo diversos projetos e abrangendo os problemas que precisam ser resolvidos.

Precisamos fortalecer o nosso potencial com decisões de alto nível tomadas pelos governos, para que os investidores russos se sintam à vontade no Brasil, para que não sejam discriminados em relação a investidores de outros países, como Estados Unidos e China. Por outro lado, a Rússia também poderia defender mais os interesses dos empresários brasileiros em seu território. Atualmente, a nossa tarefa consiste em construir esse tipo de plataforma. Isso vai encorajar empresários russos e brasileiros, para que os negócios tomem naturalmente seu rumo, como sempre acontece."

O que os empresários russos buscam em concreto na Cúpula de Brasília

"Acredito que vamos construir um formato certo de negociação entre os governos e os empresários dos dois países. Acho que, em primeiro lugar, deveria haver um acordo entre os nossos governos. Antes de tudo, um protocolo de intenções.

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Com base nesse protocolo, poderemos assinar um acordo mais sério no futuro – naturalmente, se houver vontade política dos dois lados. No âmbito do conselho empresarial Brasil-Rússia, faremos um acordo bilateral que vai regulamentar nosso trabalho no futuro."

Plano de privatizações apresentado por Onyx impressiona

"Tive um encontro com o senhor [Onyx] Lorenzoni [ministro-chefe da Casa Civil] e com o presidente da Apex [Sergio Segovia]. Conversamos sobre diversas reformas econômicas que estão em curso no Brasil, com especial destaque para privatizações, e eu tive um panorama dessas coisas.

Acho que é um programa fenomenal – aliás, é o maior programa de privatizações no mundo. São US$ 400 bilhões em privatizações. É claro que um programa tão colossal precisa não apenas de recursos financeiros, mas também de conhecimento, experiência e participação ativa de várias empresas grandes.

É evidente, hoje em dia, que só poderíamos ter êxito se envolvêssemos não só empresas, como países inteiros para cooperar. E não há dúvida de que nós, russos, no setor público e privado, temos imensa experiência no desenvolvimento desses negócios. Por outro lado, gostaria de frisar que as empresas russas abrem as portas para os investidores brasileiros.

Antes de tudo, precisamos constituir uma plataforma correta para levar essas propostas ao conhecimento das empresas públicas e privadas da Rússia, e para ter o apoio por parte do governo a esses projetos. Porque, até agora, não sabíamos nada sobre isso. Nada. Acabamos de começar a descobrir as coisas. Eu gostaria que houvesse propostas mais concretas para as empresas russas, que poderiam participar desse processo, e não apenas as declarações formais, como acontece agora."

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Como a Rússia pode investir nos projetos do Brasil

"A Rússia tem a possibilidade de investir nos mais diversos setores. Antes de tudo, pela minha experiência, percebo que vocês carecem de infraestrutura, especialmente de portos e estradas de ferro. Além disso, de gasodutos. Percebo que há concessões em relação a rodovias, e a Rússia já tem vasta experiência nessa área. Com certeza, a Rússia pode contribuir com a construção de usinas nucleares. A Rússia sempre liderou esse ramo no mundo inteiro. E muitas outras áreas.

Acredito que os empresários russos vão saber eles mesmos onde investir, como investir e o que fazer. A Rússia importa muita matéria-prima do Brasil. Levando em consideração o crescimento do setor agrícola na Rússia, acho que as nossas compras também vão crescer nessa área.

Esses dias foi revogado o embargo de compra da carne suína na Rússia. É um fator muito positivo do ponto de vista dos empresários brasileiros, para continuar vendendo a carne suína. Acredito que, em pouco tempo, dando um passo após o outro, vamos aumentar consideravelmente as nossas compras e vendas.

Os russos querem ter toda a certeza de que os produtos brasileiros, fornecidos pelo Brasil, têm a mesma qualidade e são tão seguros quanto os produtos da própria Rússia. Apenas um exemplo: praticamente 100% da nossa produção agrícola usa os fertilizantes russos, dos quais um terço é produzido pela nossa empresa [PhosAgro, de que Guryev é CEO]. São os fertilizantes mais ecologicamente limpos e seguros do mundo inteiro. Nossos fertilizantes não contêm, praticamente, metais pesados, tipo cádmio, arsênico e outros elementos nocivos que, através do solo, através dos grãos, dos alimentos prontos, podem penetrar no organismo humano.

Sabemos que o mesmo tipo de matéria-prima existe no Brasil, mas precisamos saber que também é coisa limpa. Precisamos diminuir o teor de cádmio a até 20 mg. Sabemos que, cumprindo essa meta, nossos países podem ter uma grande vantagem em matéria de concorrência com outros países.

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Produtos fabricados de acordo com esses princípios terão portas abertas na Rússia. Quando se fala em desenvolvimento sustentável, não se trata apenas de fornecer comida para o mundo, mas também de que seja uma comida acessível e ecologicamente responsável."

O caminho para o crescimento do comércio entre Brasil e Rússia

"Hoje em dia [em 2018], temos US$ 5 bilhões em vendas e compras entre nossos países. Com o crescimento dos investimentos, poderíamos multiplicar essa cifra para US$ 50 bilhões.

Em relação à minha empresa, não vamos ficar parados, vamos aumentar a venda dos nossos adubos minerais e dos nossos fertilizantes. Acredito que, pouco a pouco, aumentaremos a exportação para o Brasil, mais ainda com a tendência de crescimento do consumo.

Quanto às outras empresas russas, elas precisam conhecer o Brasil, precisam ouvir a voz do Brasil e tomar uma decisão. Precisam saber se vão ter apoio, se vão ter segurança no Brasil, se vão poder trabalhar com condições confortáveis no mercado brasileiro.

Quem deveria dar a garantia disso seria o governo. Eu sei que os presidentes dos nossos países vão se encontrar pessoalmente na quinta-feira. Acredito que muitas questões serão abordadas no encontro entre os presidentes. E com certeza não vai ser o último encontro dos nossos presidentes.

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Eu, como chefe do conselho empresarial Brasil-Rússia, tenho bastante tempo para trabalhar com esse programa das nossas atividades e para desenvolvê-lo. Esse programa com certeza vai ser oficializado por meio de memorandos, decisões conjuntas e acordos bilaterais.

Somos duas das maiores economias do mundo, e US$ 5 bilhões são praticamente nada, coisa insignificante, em matéria de compras e vendas entre dois países como os nossos. Eu acho que esses US$ 5 bilhões de hoje são insuficientes. Houve algum acidente de percurso que precisa ser sanado.

Precisamos tomar esse patamar muito baixo como base para fazer nosso salto. Se todos nós trabalharmos juntos, acreditando um no outro, tudo vai dar certo. Quero enfatizar mais uma vez que, para nós, a coisa mais importante é ter as mesmas condições que todos os outros investidores, como dos Estados Unidos e da China. Ter condições iguais."