No dia seguinte à divulgação da informação de que uma aposta de funcionários do PT na Câmara dos Deputados ganhou sozinha na Mega-Sena, o assunto continuou em alta no Congresso Nacional. Mas ao contrário do que se poderia esperar, os gabinetes da liderança petista não amanheceram vazios. Os funcionários que jogaram no bolão do PT estão tentando manter a rotina de normalidade, apesar da pressão de jornalistas e outros curiosos à busca dos ganhadores. A Gazeta do Povo conseguiu falar com alguns dos sortudos, que só aceitaram conversar após terem a garantia de que suas identidades não seriam divulgadas.
O anonimato, porém, não é certo: um dos ganhadores contou que, poucas horas após a divulgação do resultado, já estava recebendo pedido de ajuda de diferentes frentes. “Ligaram de instituições de caridade, também pessoas pedindo que eu ajudasse a pagar um cursinho para preparação de concurso público e até mesmo gente da zona rural da minha cidade, pessoas com quem não falo há anos. E eu não sei como eles descobriram que eu ganhei”, disse.
É possível que os que pediram ajuda não tinham certeza de que o “alvo” tinha sido realmente um dos sortudos – e que tenham arriscado ao ver a notícia e lembrar que o “amigo” tinha alguma ligação com o PT no Congresso Nacional. Isso porque funcionários do PT no Senado e de outros gabinetes estão precisando, desde que a conquista foi divulgada, esclarecer que não estão entre os vencedores.
Quem também se habituou em dar explicações são os funcionários que dividem sala e rotina com alguns dos ganhadores, mas que não integraram o bolão vencedor. Uma integrante da Liderança do PT disse que apostava todas as vezes no bolão do partido, mas não estava na hora em que foi feito o jogo sorteado. “Saí da sala para fazer um trabalho em uma comissão, e por puro azar não fui incluída”, disse.
A aposta é feita pelos funcionários da Liderança do PT desde 2014. Eles não têm uma periodicidade fixa para os jogos – os bolões são realizados quando os prêmios da loteria ficam acumulados.
Cada um dos vencedores do bolão tem direito a um prêmio de aproximadamente R$ 2,5 milhões. Eles definiram que parte da verba será destinada a duas ações coletivas: a divisão de parte do prêmio às copeiras da Liderança e também o custeio de uma caravana de militantes que irá a Curitiba, ao acampamento montado ao lado da Polícia Federal, onde está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A descoberta da notícia e os diferentes impactos
O fato de o bolão ter contemplado 49 cotas gera histórias bem diferentes sobre o momento em que os vencedores descobriram a notícia. Isso porque entre os sortudos há funcionários de funções bem diferentes entre si, que cumprem jornadas de trabalho em horários distintos.
A notícia se tornou pública por volta das 22 horas de quarta-feira (18), hora em a Câmara discutia o projeto de lei que cria novas regras para partidos políticos e eleições. Os funcionários da Liderança do PT que estavam no Congresso na hora da divulgação fizeram uma grande celebração – “foi uma baita gritaria aqui no corredor”, disse um empregado de outro partido, cujo escritório é próximo do dos petistas. Na ocasião, houve entre os sortudos quem chegasse a passar mal, tamanha a euforia com a notícia, e precisasse ser atendido pelo corpo médico da Câmara.
O deputado Pedro Uczai (PT-SC) estava no plenário da Câmara quando o assunto se tornou público. “Recebemos a notícia e fomos até o pessoal para comemorar. Lá o ambiente estava muito bonito, com alguns chorando, outros sorrindo, todos se abraçando”, declarou.
Outros funcionários, que já haviam encerrado seus dias de trabalho, receberam a informação por telefone. “Eu trabalhei até as 19 horas, fui para casa e cochilei um pouco. Depois olhei o celular e vi um número impressionante de mensagens. Aí que pensei que algo de especial poderia estar acontecendo”, afirmou um deles.
Inveja generalizada do bolão do PT
“Se está tudo bem comigo? Mais ou menos, afinal eu não trabalho no PT”. A Gazeta do Povo ouviu essa frase (ou equivalente dela), em tom de brincadeira, de funcionários de três partidos diferentes nesta quinta-feira. Todos lamentaram o fato de não estarem no bolão do PT – ou de os bolões de seus partidos não terem tido a mesma sorte.
A realização de bolões para as loterias é algo comum entre os funcionários de gabinetes no Congresso. Em geral, há funcionários que se voluntariam para arrecadar os recursos e efetuar as apostas. Alguns bolões já chegaram a ter seus números sorteados – mas nenhum com a precisão e a alta premiação do mais recente.
Um desses casos de aposta de funcionários de partidos que foi premiada – mas com menos intensidade – aconteceu em 2012 com integrantes da Executiva Nacional do PSDB. Na ocasião, o jogo acertou a quina da Mega-Sena e os contemplados receberam cerca de R$ 500 por pessoa. A ex-deputada Moema São Thiago, que atualmente é funcionária da Liderança do PSDB na Câmara, foi uma das ganhadoras: “por pouco não ficamos ricos naquela ocasião. E seria antes do pessoal do PT”.