Eles divulgaram o "17" durante a campanha eleitoral. Defendem com garra a gestão de Jair Bolsonaro nas redes sociais. E, nas tribunas do Congresso Nacional, se revezem na divulgação de ações do governo e nas brigas com os membros da esquerda. Porém, ao contrário de deputados como Eduardo Bolsonaro, Joice Hasselmann e Delegado Waldir, não pertencem ao PSL.
O grupo dos "bolsonaristas sem PSL" é expressivo no Congresso, em especial na Câmara. Reúne deputados como Sargento Fahur (PSD-PR), Marco Feliciano (Podemos-SP), Otoni de Paula (PSC-RJ), José Medeiros (Podemos-SP), Capitão Augusto (PL-SP), Éder Mauro (PSD-PA) e Pastor Eurico (Patriota-PE). Todos defendem bandeiras típicas do bolsonarismo como as políticas mais duras para a segurança e a pauta de costumes voltada ao tradicionalismo.
As motivações que levaram esses deputados a não fazerem parte do PSL, mesmo apoiando Bolsonaro desde o início do período eleitoral, variam de caso a caso. Questões regionais e apego aos partidos de origem figuram entre os motivos mais comuns.
Alguns relatam terem sido convidados a entrar no partido de Bolsonaro, mas atualmente descartam por completo a hipótese de irem ao PSL – e a atual confusão que marca o partido do presidente da República é fator determinante para isso, no contexto atual. Os "bolsonaristas sem PSL" conseguem, hoje, explorar o lado bom de estarem ao lado de um presidente que dispõe de uma boa dose de popularidade e, ao mesmo tempo, não serem atingidos pela crise.
Lógica eleitoral determinou filiações
O confuso sistema eleitoral brasileiro teve peso decisivo para que alguns dos bolsonaristas não ingressassem no PSL. Como a disputa de vagas na Câmara se dá por meio do sistema proporcional, em que as cadeiras no Parlamento são distribuídas inicialmente aos partidos, há o entendimento de que muitas candidaturas fortes em uma mesma sigla podem se prejudicar mutuamente.
Esse foi o caso do Sargento Fahur. À época das montagens das chapas para as eleições de 2018, ele, que já militava a favor de Bolsonaro, ponderou que não seria uma boa estratégia ingressar no PSL. O partido teria Felipe Francischini como candidato a deputado federal em seu estado, o Paraná, e havia o receio de que apenas um nome da sigla fosse eleito. Outro membro do PSD, Éder Mauro tem histórico semelhante: "Analisei os cenários na época da eleição e percebi que seria mais vantajoso permanecer no PSD".
Além da dinâmica eleitoral, há ainda as disputas regionais pelo controle partidário. No Distrito Federal, à época da eleição de 2018, o PSL ainda não estava totalmente integrado ao bolsonarismo. Foi por isso que a deputada Bia Kicis, hoje no PSL, não se candidatou pela sigla – ela concorreu pelo PRP, partido que deixou logo no início da legislatura.
Já José Medeiros, presidente do Podemos em Mato Grosso, conta que tem atuado na construção do seu partido no estado, e se beneficiado também do crescimento da legenda no âmbito nacional.
Bolsonaristas sem PSL estão satisfeitos onde estão
A atual legislatura da Câmara dos Deputados não registrou um fenômeno comum nos anos anteriores: a migração de parlamentares ao partido do presidente da República. O PSL elegeu 52 deputados e hoje tem 53. O partido chegou até a perder um membro: Alexandre Frota, que ingressou no PSDB depois de brigar com o bolsonarismo. No Senado também houve uma baixa, com a desfiliação de Selma Arruda (MT), hoje no Podemos.
Segundo Medeiros, o PSL não "avançou" sobre os deputados em busca de novas filiações. "Eles não mostraram tanto interesse em engordar as bancadas, e assim as coisas ficaram como já estavam", diz.
À falta de convite, soma-se a satisfação relatada pelos deputados em seus atuais partidos. Os parlamentares que conversaram com a Gazeta do Povo disseram não terem problemas em defenderem o governo mesmo integrando partidos que não são integralmente bolsonaristas.
"Eu defendo minhas posições e não preciso responder ao partido", declara Eurico. "Nunca fui questionado no PSD por conta de minhas bandeiras. Ao contrário, sou até enaltecido lá por ser o mais bolsonarista do partido", brincou Fahur. Éder Mauro reforçou os elogios ao partido: "O PSD é muito democrático. Não há problemas em defendermos nossos pontos de vista lá". Os dois integrantes do PSD também destacaram a qualidade do corpo técnico da legenda.
Fora do PSL, deputados bolsonaristas estão imunes à crise do partido
Fora do PSL, os deputados ficam imunes à crise que tem marcado o partido de Bolsonaro. "Podemos apenas olhar de fora, não temos nada a ver com aquilo tudo", disse Fahur.
Apesar do momento delicado, os bolsonaristas acreditam na pacificação do PSL. Tanto que a possibilidade de criação de um novo partido, capitaneado pela família Bolsonaro, não anima os parlamentares. "Acho que eles vão se acertar", diz Éder Mauro. "Estamos já no momento de assentamento das placas tectônicas", brinca Medeiros.
O deputado do Mato Grosso atribui parte da disputa no PSL à inexperiência de grande parte da bancada. "Esses parlamentares foram se conhecer no dia 1.º de fevereiro [data da posse dos deputados]. Além disso, muitos ali jamais haviam sequer participado de uma reunião política. Então, quando caem no Parlamento, ficam confusos, até porque a vida no Congresso é realmente difícil. Nisso, eles acabam fazendo muitas coisas com o fígado. E a inexperiência é o que faz as brigas do PSL terem mais repercussão. O PSDB tinha brigas imensas, mas nada se vazava à imprensa. Mesma coisa com o PT, o MDB. Então estamos esperando que alguém retire a pressão de toda essa coisa", destaca José Medeiros.
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