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Sem oposição sistemática

Aliados de Bolsonaro recorrem ao pragmatismo para lidar com governo Lula

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Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador eleito de SP, deve adotar uma postura pragmática em relação ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) (Foto: Douglas Gomes/Divulgação)

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Alguns governadores e parlamentares eleitos com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm adotado discursos independentes e com acenos ao diálogo com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Um dos principais exemplos é o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O ex-ministro da Infraestrutura escolheu o presidente do PSD, Gilberto Kassab, como homem forte da gestão, deixando aliados de Bolsonaro em cargos secundários da equipe de governo – com exceção da pasta de Segurança Pública, que ficará sob o comando do deputado Capitão Derrite (PL).

Entre as nomeações feitas estão os médicos Eleuses Paiva (PSD) para a Secretaria da Saúde) e Esper Kallás para chefiar o Instituto Butantan. Ambos fizeram críticas públicas às medidas adotadas por Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19, em especial pelo atraso no início da vacinação contra a Covid-19.

Em entrevista à CNN Brasil, Tarcísio chegou a mencionar que nunca foi um "bolsonarista raiz", mas que defende temas que também são caros ao presidente. "A valorização da livre iniciativa, os estímulos ao empreendedorismo, a busca do capital privado, a visão liberal. Sou cristão, contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra cultural", declarou. Uma das intenções do governador eleito no começo do mandato é tratar com Lula sobre o leilão do Porto de Santos, diante da sinalização do futuro ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), de que o maior complexo portuário da América Latina não será concedido à iniciativa privada.

Outro aliado importante de Bolsonaro nos últimos anos, o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também tem admitido uma relação "republicana" com Lula, desde que os interesses do estado sejam respeitados pelo petista.

“Se o presidente eleito propor uma boa reforma tributária, uma boa reforma administrativa, eu vou lá para Brasília apoiá-lo na mesma hora porque o que o Brasil precisa é de reformas", declarou Zema em entrevista ao Poder360.

Lula também conseguiu se aproximar de governadores aliados de Bolsonaro devido a questões ambientais envolvendo a Floresta Amazônica. Com o auxílio do governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB), alguns políticos da região conversaram com o petista durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2022 (COP 27). O principal foco das conversas foi fomentar investimentos em desenvolvimento sustentável nos estados com território amazônico.

Dialogaram e levaram propostas a Lula os governadores do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), do Acre, Gladson Cameli (PP), e do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil). "Eu não preciso de alinhamento político, mas preciso de diálogo com o governo federal. O Estado e o governo são estruturas que caminham automaticamente. As coisas não deixam de funcionar e isso é normal no processo democrático", pontuou Lima ao UOL.

Na região Sul, os governadores do Paraná e Santa Catarina, Ratinho Junior (PSD) e Jorginho Mello (PL), também já sinalizaram publicamente que irão manter diálogo com Lula. Ratinho inclusive apoiou, durante jantar do partido, a ideia de Kassab de integrar a equipe de governo do petista. O governador eleito do Sergipe, Fabio Mitidieri (PSD) também apoiou a decisão. O PSD deve integrar a base de Lula no Congresso e, a princípio, comandar dois ministério do novo governo. As indicações serão oficializadas nesta semana. Os cotados são os senadores Alexandre Silveira, para o ministério das Minas e Energia, e Carlos Fávaro, para a Agricultura.

PT contou com votos de aliados de Bolsonaro para aprovar PEC fura-teto

A PEC fura-teto foi aprovada no Congresso com ajuda de parlamentares que integram a base do atual governo, inclusive do partido de Bolsonaro, o PL, que prometeu fazer oposição a Lula. Dez deputados e três senadores votaram a favor da proposta, inclusive os deputados Flávia Arruda (DF) e Josimar Maranhãozinho (MA) e os senadores Eduardo Gomes (TO), Wellington Fagundes (MT) e Zequinha Marinho (PA). Outros aliados que votaram a favor da PEC foram o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e o ex-líder do governo Bolsonaro no Senado Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

A emenda garantiu a expansão do teto de gastos públicos em R$ 169 bilhões em 2023, viabilizando a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 com um complemento de R$ 150 para cada criança de até seis anos.

A votação na Câmara teve como principal articulador o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro no Nordeste durante a campanha eleitoral. Lula conversou pessoalmente com Lira nas semanas e dias que antecederam a votação na Câmara, negociando para que a PEC tivesse o número de votos necessário. A postura do deputado é pragmática, já que interessa a ele o apoio da bancada do PT para que seja reeleito presidente da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2023.

O PP, que formou a coligação de apoio a reeleição de Bolsonaro, ainda não informou qual posição adotará em relação ao governo Lula. A tendência é de que declare independência, liberando votos dos deputados e senadores do partido. O ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI) tem defendido que a legenda seja oposição, mas ao menos metade dos deputados eleitos para a próxima legislatura estão alinhados a Lula.

O Republicanos, outro partido que apoiou Bolsonaro nas eleições, também não será oposição e afirmou adotar uma postura independente em relação a Lula. O presidente da legenda, Marcos Pereira, disse que votará com governo petista caso sejam apresentadas propostas "de interesse popular e social", embora saliente que a legenda votará contra projetos que firam a liberdade econômica, religiosa e que sejam contrárias aos princípios do Republicanos.

Movimentos políticos repetem história

Esses movimentos feitos pelos governadores e parlamentares após uma derrota eleitoral não são inéditos.

"O sistema eleitoral proporcional de lista aberta para a eleição da maioria dos cargos legislativos produz uma grande fragmentação partidária. Nenhum presidente eleito após a redemocratização viu seu partido ter maioria no Congresso Nacional, muito longe disso. A construção de maiorias, de coalizões após as eleições é o efeito imediato, envolvendo, inclusive, partidos que durante o pleito estavam em campos opostos", pontua o cientista político Rodrigo Horochovski.

Enquanto o futuro político de Bolsonaro é incerto – embora ainda goze de amplo apoio popular – o cenário para Lula, na visão dele, tende a ser favorável em um primeiro momento, em especial pelo canal de diálogo aberto com os governadores.

"Dentro do presidencialismo de coalizão, os governadores têm papel de destaque. Nesse sentido, a aproximação desses nomes do centro e centro-direta favorece, sem dúvida, a governabilidade", menciona.

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