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A menção que o presidente Jair Bolsonaro fez aos atos a favor do seu governo agendados para 15 de março, próximo domingo, trouxe um ânimo adicional à militância que promove as manifestações. A mobilização nasceu como um apoio ao governo, ganhou conotação de guerra ao Congresso após a indicação de que parlamentares poderiam derrubar um veto presidencial na Lei do Orçamento e voltou a se centrar em torno de Bolsonaro com a decisão, por parte dos deputados e senadores, favorável ao Palácio do Planalto.
“Dia 15 agora tem um movimento de rua espontâneo. E político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político. Então participem. Não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil. É um movimento que quer mostrar para todos nós – presidente, Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário – que quem dá o norte para o Brasil é a população", falou Bolsonaro, durante discurso em Boa Vista, onde fez escala no sábado (7) antes de prosseguir viagem rumo aos EUA.
Nas redes sociais, espaço em que os bolsonaristas demonstram força ainda antes do período eleitoral de 2018, a chamada do presidente estimulou a produção de mais postagens referentes aos atos de 15 de março. O post de Bolsonaro no Twitter com o vídeo em Roraima contava, até a noite do domingo (8), com mais de 4.400 retuítes e 22 mil curtidas. O grupo NasRuas, que milita por Bolsonaro, compartilhou o vídeo do presidente com os dizeres “Agora é pra valer! Bolsonaro convoca o povo!".
Outro gancho do fim de semana foi a gafe da ex-presidente Dilma Rousseff que, em um pronunciamento na França, disse que Bolsonaro “tem por objetivo destruir a destruição da soberania do país". A Frente Cidadã, outro grupo de ação pró-Bolsonaro, postou uma imagem do presidente com a frase “Dia 15 eu vou destruir a destruição".
O Dia da Mulher, celebrado no domingo, também serviu como estímulo adicional para difusão do ato. Por duas circunstâncias: a primeira foi a realização, em todo o Brasil, de manifestações contrárias ao presidente, o que incentivou a necessidade, por parte dos governistas, de executar um ato maior em resposta. E a segunda circunstância foi a presença do apoio de mulheres simpatizantes ao presidente. A hashgtag #MulheresComBolsonaro circulou entre as militantes bolsonaristas, além de uma arte com o rosto do presidente em um fundo rosa e os dizeres “Mulheres com Bolsonaro".
Alvo dos atos de 15 de março não é o Congresso, mas o Centrão
As declarações de Bolsonaro de que “político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político” e que a mobilização “não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário” dizem respeito à tensão em torno dos eventos que se registrou nas últimas semanas.
Como algumas das imagens de convocação para os atos de 15 de março mencionam pedidos de fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), e da instalação de “um novo AI-5” (dispositivo da ditadura militar que cassou direitos políticos), opositores de Bolsonaro e mesmo integrantes de outros partidos que não colidem com o presidente disseram que havia um viés antidemocrático nas proposições.
Bolsonaro e parte de seus apoiadores se preocuparam em dizer que rejeitavam teores “golpistas” nas manifestações. Ainda assim, o alvo dos protestos tende a ser não o PT, partido visto historicamente como o principal adversário do bolsonarismo, mas o Centrão do Congresso Nacional – em especial os presidentes de Câmara e do Senado, respectivamente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Para segmentos defensores de Bolsonaro, os comandantes do Legislativo estariam “sabotando” a pauta do governo federal. As figuras de Maia e Alcolumbre estão entre as mais presentes nos memes governistas. Em um deles, até a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) é citada. A parlamentar foi próxima de Bolsonaro e esteve cotada para ser a vice do presidente nas eleições de 2018, mas tem feito críticas ao chefe do Executivo e a seus seguidores.
O Judiciário também aparece como alvo frequente das críticas, novamente na linha de ser uma instituição que estaria trabalhando para prejudicar o desempenho do governo.
O fato de o Centrão e o STF estarem na mira dos manifestantes fez com que membros do Legislativo e do Judiciário criticassem a convocação feita por Bolsonaro no sábado. Reportagem da Folha de S. Paulo indicou que Alcolumbre chegou a conversar sobre o assunto com o presidente do STF, Dias Toffoli, e um posicionamento conjunto dos dois poderes está em cogitação.
Viagem de Bolsonaro aos EUA movimentou redes
Um evento adicional que contribuiu para a movimentação das redes sociais no fim de semana – e, por consequência, para a divulgação dos atos do dia 15 – foi a ida de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos.
O presidente se encontrou com o chefe do Executivo americano, Donald Trump, que é celebrado pelas bases bolsonaristas. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, integrou a viagem.
Um dos compromissos de Bolsonaro na viagem foi o encontro com o ex-prefeito de Nova Iorque Rudolph Giuliani, que chamou o presidente brasileiro de “herói".