Presidente Jair Bolsonaro está em Nova York para discursar na abertura da da Assembleia Geral da ONU.| Foto: Alan Santos/PR
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O presidente Jair Bolsonaro defendeu a integridade do voto eletrônico após inclusão de Forças Armadas em uma comissão de transparência para as eleições de 2022, criada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em entrevista à revista Veja, publicada nesta sexta-feira (24), Bolsonaro disse que "com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico".

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"As Forças Armadas vão empenhar seu nome, não tem por que duvidar. Eu até elogio o [presidente do TSE, Luís Roberto] Barroso, no tocante a essa ideia — desde que as instituições participem de todas as fases do processo", afirmou, quando perguntado se aceitaria a rejeição do voto impresso pelo Congresso.

A Comissão de Transparência das Eleições, citada pelo presidente, foi anunciada por Barroso em 9 de setembro. Ela será composta por especialistas em tecnologia, órgãos de fiscalização e representantes de entidades civis, que poderão acompanhar procedimentos de preparação das urnas eletrônicas. Heber Garcia Portella, general do Exército e comandante de Defesa Cibernética das Forças Armadas, será o representante das Forças Armadas na comissão.

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Ainda assim, Bolsonaro voltou a apoiar o voto impresso e pedir por mais transparência nas eleições. "Por que os bancos investem dezenas de milhões para cada vez mais evitar que hackers entrem e façam um estrago em seu banco? A tecnologia muda. O que estou pedindo? Transparência". Depois, provocou: "Se o Lula está tão bem, como diz o Datafolha, por que não garantir a eleição dele com o voto impresso?".

Durante a entrevista, o presidente negou que haveria um golpe no país. "Daqui pra lá, a chance de um golpe é zero. De lá pra cá, a gente vê que sempre existe essa possibilidade", disse, referindo-se à pressão da oposição por seu impeachment que, em sua visão, foi enfraquecido por ele ter apoio popular.

Sobre a crise com o Judiciário, o chefe do Executivo reconheceu que, durante seu discurso na Avenida Paulista, em 7 de Setembro, "extrapolou em algumas coisas" e que "esperavam" que ele fosse "chutar o pau da barraca". "Queriam que eu fizesse algo fora das quatro linhas. E nós temos instrumentos dentro das quatro linhas para conduzir o Brasil".

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"Pesquisa é uma coisa, realidade é outra"

O presidente também falou sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera pesquisas de intenção de voto neste momento. "Pesquisa é uma coisa, realidade é outra", argumentou Bolsonaro, dizendo que, quando governava o país, o petista "gastava horrores" e "não tinha problemas com o Parlamento", porque "loteou tudo".

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"Hoje é completamente diferente, estou demorando um recorde de tempo para sabatinar o André Mendonça, coisa que não acontecia no passado. Era um relacionamento Executivo­Legislativo bem diferente do que é hoje. Aqui não tem loteamento".

Em outro momento da entrevista ele disse que duvida "que o PT se reelegeria com o orçamento" que seu governo tem. "Com toda a certeza eles iriam furar o teto de gastos".

Quando perguntado se Lula era o adversário preferencial para as eleições do ano que vem, Bolsonaro disse que "não dá bola para isso", mas emendou: "A única satisfação que eu tenho [como presidente], uma das poucas, é saber que não tem um comunista sentado naquela cadeira, só essa". Bolsonaro também reforçou que pretende concorrer à reeleição em 2022.

"Mourão seria um bom senador"

O chefe do Executivo falou que, se concorrer em 2022, a tendência é que busque outro parceiro de chapa, alguém que possa ajudá-lo a conquistar votos. "O Mourão não tem a vivência política. Praticamente zero. E depois de velho é mais difícil aprender as coisas. Mas no meu entender, seria um bom senador", disse, ponderando que a "porteira não está fechada ainda" para o atual vice.

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Sem partido definido

Quando perguntado se já tem um partido em vista para se filiar, Bolsonaro citou possibilidades de ingressar no PP, PL, Republicanos e PTB. "Não vou fugir de estar com esses partidos, conversando com eles".

"Não errei em nada" na pandemia

Bolsonaro defendeu suas ações durante o combate à pandemia no Brasil e afirmou que a inflação é uma das consequências das políticas de confinamento, implantadas por governadores e prefeitos, em diferentes graus, durante os momentos de aumento de casos de Covid-19.

"Hoje há estudos que mostram que quem mais caminha para o óbito por coronavírus é o obeso e quem está apavorado. Falei isso no início do ano passado. Todo mundo aumentou de peso ficando em casa", disse.

O presidente também voltou a dizer que apoia o tratamento precoce com a hidroxicloroquina e que criou-se um tabu acerca do tema. "Você nunca ouviu falar que na região Amazônica morre gente combatendo a malária por causa da hidroxicloroquina".

Sobre a CPI da Covid-19, Bolsonaro disse que a comissão de inquérito "não tem credibilidade nenhuma" e que "a história vai mostrar que as medidas que tomamos, concretas, econômicas, ajudando estados e municípios com recursos, salvaram as pessoas".

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Quando perguntado sobre a demora em comprar vacinas contra a Covid-19, ele citou um dispositivo no contrato proposto pela Pfizer, em que a farmacêutica não se responsabilizaria pelos efeitos colaterais de seu produto. "Se começar a ter efeito colateral adverso, de quem é a responsabilidade? Vocês iriam me perdoar? Não, né? Então tem que ter responsabilidade", justificou, acrescentando que a Coronavac "não tem credibilidade" e que tomar vacina é uma decisão pessoal. "Minha mulher, por exemplo, decidiu tomar nos Estados Unidos. Eu não tomei".

"Reconheço que o custo de vida cresceu bastante"

O chefe do executivo reconheceu que o custo de vida "cresceu bastante" no Brasil, "além do razoável", mas disse que vê "perspectivas de melhora para o futuro". Por outro lado, ele afirmou que não vai tabelar ou segurar preços, como o da gasolina.

Bolsonaro também comentou que não vai demitir o ministro da Economia, Paulo Guedes. "Vou colocar quem lá? Teria de colocar alguém da linha contrária à dele, porque senão seria trocar seis por meia dúzia. Ele iria começar a gastar, e a inflação já está na casa dos 9%, o dólar em R$ 5,30", disse, quando perguntado se Guedes continua indemissível.

"A inflação atingiu todo mundo, mas a melhor maneira de buscarmos a normalidade e baixar a inflação é o livre mercado", acrescentou, dizendo também que, se não fosse a pandemia, a economia brasileira estaria "voando".

"Você só pode ter a página da internet retirada depois do contraditório"

Perguntado sobre a Medida Provisória que alterava o Marco Civil da Internet, que foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e rejeitada pelo Senado, Bolsonaro disse que o tema precisa ser tratado com urgência, "dado o que está acontecendo no Brasil", como o inquérito das fake news.

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"Você só pode ter a página da internet retirada depois do contraditório e de uma ação judicial. Não se pode monocraticamente excluir ninguém com uma canetada", argumentou. "O objetivo das mídias sociais é liberdade. Você vai deixar de frequentar minha página no Facebook se eu escrever besteira, vai descurtir e tem que ser assim".

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