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Guerra das vacinas

O que Bolsonaro pretende com aceno a governadores e compra da Coronavac de Doria

Presidente Jair Bolsonaro disse aos governadores e ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello que nenhuma vacina será preterida no plano nacional de vacinação contra a Covid-19.
Presidente Jair Bolsonaro disse aos governadores e ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello que nenhuma vacina será preterida no plano nacional de vacinação contra a Covid-19. (Foto: Evaristo Sá/AFP)

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Ao fazer acenos aos governadores na apresentação do plano nacional de imunização contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro tentou arrefecer a pressão do Supremo Tribunal Federal (STF) e escantear o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na disputa pelos louros da imunização coletiva contra o coronavírus.

Desde outubro, Bolsonaro e Doria travam uma espécie de “guerra da vacina”. O governador pressionava o governo federal a incluir a vacina Coronavac (elaborada em parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório Sinovac) no programa nacional de vacinação. O Ministério da Saúde resistiu à ideia o quanto pode, mas no plano apresentado nesta quarta-feira (16) disse ter firmado memorando de entendimento para aquisição do imunizante chinês. O acordo prevê o fornecimento de 45 milhões de doses, segundo o jornal O Globo.

De acordo com assessores palacianos, a inclusão da Coronavac no plano não significa necessariamente uma vitória de Doria. No planejamento da União, o governo federal deixou claro que buscará várias alternativas de imunizantes para vacinar a população. Por essa razão, o governo federal está negociando a compra de aproximadamente 350 milhões de doses de vacinas para 2021.

A prioridade é pela aquisição das vacinas de Oxford/AstraZeneca (210 milhões de doses), Covax Facility (42,5 milhões) e Pfizer (70 milhões). Dessa forma, nos planos do governo, a Coronavac deverá ser adquirida em um segundo momento, caso as demais não estejam liberadas antes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Além destes quatro laboratórios, o governo federal também tem protocolos de entendimento com a farmacêutica Janssen e negocia vacinas com os laboratórios Bharat Biotech (Índia), Moderna (EUA) e Gamaleya (Rússia).

Segundo assessores palacianos e integrantes de governos estaduais, Doria tentava a todo o custo fazer da Coronavac a principal vacina no programa nacional de imunização. Com isso, o governador paulistano buscava levar o crédito por um programa federal.

Agora, a União tenta tomar as rédeas da imunização coletiva e deixa claro que vai centralizar a distribuição das vacinas. Porém, contará com o apoio na distribuição das doses. "Se algum de nós extrapolou, ou exagerou, foi no afã de buscar solução [contra o coronavírus]", disse Bolsonaro na solenidade, em recado aos governadores e em uma clara referência a Doria.

Em outubro, o governador de São Paulo tinha apoio de outros chefes de Poder Executivo local. Nas últimas semanas, porém, vários gestores passaram a trabalhar diretamente com a União para obter outras opções de imunizantes. Por isso, o próprio Doria já enfrenta resistência entre outros chefes de Executivo, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).

Também tem pesado na conta dos governadores eventuais dificuldades que o Instituto Butantan terá em entregar a Coronavac em larga escala. Há receio entre os secretários de Saúde de que o governo federal possa dificultar o acesso às vacinas para os estados que priorizarem a compra da vacina chinesa.

Até mesmo governadores de oposição a Bolsonaro, como o do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), baixaram o tom em relação ao presidente. "Agora não é hora de disputa política. É hora de se buscar a melhor opção para imunizar a população", admitiu, em caráter reservado, um secretário de Saúde que está acompanhando as negociações para compra de vacinas em larga escala.

Ala militar aconselhou Bolsonaro a baixar o tom com governadores

Durante essa semana, integrantes da ala militar do governo aconselharam o presidente a baixar o tom com os governadores, justamente com o objetivo de angariar o apoio dos Executivos locais.

Bolsonaro, no discurso de lançamento do plano de imunização, buscou adotar uma postura mais conciliatória que a habitual. Nesta quarta, ele recebeu vários governadores para tratar do assunto. Inclusive os ligados ao PT. “A grande força que todos nós demonstramos agora é a união para buscar a solução de algo que nos aflige há meses”, declarou o presidente.

De acordo com o governo federal, a expectativa é que a vacinação comece em fevereiro e, de acordo com o plano, durante o primeiro semestre serão imunizadas as pessoas mais vulneráveis à Covid-19. "No Brasil, nós praticamente ainda não temos vacina em quantidade considerável que a gente possa falar em distribuição e iniciar qualquer plano. Precisamos produzir mais e precisamos ter a capacidade de controlar a angústia para passarmos esses 45, 60 dias a partir de agora, que serão fundamentais para que se concluam os processos, sejam feitos os registros, sejam produzidas as vacinas, para que nós iniciemos a grande campanha de vacinação", afirmou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Apesar do arrefecimento de ânimos, aliados do presidente ainda tentam convencer Bolsonaro a desistir de incluir na medida provisória que prevê a compra de vacina da Covax Faciliy a obrigação de o cidadão assinar um termo de compromisso para ser imunizado.

A assinatura do termo de compromisso foi um pedido de integrantes da ala ideológica do governo contra uma eventual obrigatoriedade da aplicação da vacina por parte de governadores ou prefeitos. Na Câmara, que deve votar a MP nesta quinta-feira (17), a expectativa é que o assunto seja rejeitado sumariamente, caso seja apresentado no parecer do relator ou em forma de emenda.

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