Pesquisas recentes sobre a avaliação do governo de Jair Bolsonaro mostram que o momento é favorável ao presidente. Parlamentares afirmam que o aumento da popularidade de Bolsonaro gera com o Congresso uma via de mão dupla. Por um lado, faz com que Bolsonaro se sinta fortalecido para colocar em pauta temas de seu interesse, como a agenda de costumes. Por outro, o Parlamento entende ser responsável por ações que beneficiaram o presidente, como o auxílio emergencial. Por isso, parlamentares afirmam que Bolsonaro não terá "carta branca" no Legislativo.
O deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) recorre ao futebol para explicar sua opinião em relação ao atual momento do governo Bolsonaro. "É como ver um bom futebol de um time que eu não goste. Não é porque não concordo com o governo Bolsonaro que eu vou deixar de reconhecer que ele acertou a casa. Isso é uma constatação. Ele fez populismo com eficiência", afirma o parlamentar, que integra a oposição na Câmara.
Delgado vê no pagamento bem-sucedido do auxílio emergencial a principal explicação da elevação de popularidade de Bolsonaro. Segundo ele, esse fator faz com que a popularidade do presidente seja "frágil". "Isso está baseado nos R$ 600 que nós [Congresso] demos. Quando passar para R$ 300, e se não se confirmar a criação de uma renda mínima, isso [a aprovação popular] tende a cair." O valor original do auxílio emergencial proposto pelo governo no início da pandemia foi de R$ 200 — os R$ 600 foram estabelecidos por deputados e senadores.
É por causa desse contexto que Delgado vê com ceticismo a possibilidade de Bolsonaro ter sucesso em avançar temas de interesse do seu governo no Congresso. "Acho que as coisas são independentes. Ele terá dificuldade para votar as reformas", afirma.
Nesta segunda-feira (21), o governo Bolsonaro inclusive sofreu derrotas no Senado. A Comissão de Relações Exteriores (CRE) aprovou uma nota de repúdio às declarações do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em visita ao Brasil, na sexta-feira (18). E o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi convidado a dar explicações aos senadores na próxima quinta (24).
Popularidade ajuda, mas não é decisiva
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) avalia que "um presidente popular sempre ajuda nas conversas com o Parlamento". Mas, segundo ele, não se trata de uma situação de causa e efeito permanentes: "Mesmo sem popularidade, o ex-presidente Michel Temer conseguiu aprovar a reforma trabalhista no Congresso. E, em ocasiões em que ainda tinha popularidade, Dilma Rousseff sofreu derrotas".
Hattem lembra que Bolsonaro conseguiu incrementar sua base no Congresso. "Mas não é uma base tão programática; é mais baseada na tática do fisiologismo", diz o parlamentar do Novo. "Felizmente, não houve a concessão de ministérios de 'porteira fechada' como se fez em outros governos, o que torna um apoio um pouco menos sólido."
No alvo, armas, homeschooling e mudanças no Código de Trânsito
Defensor do governo, o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) também avalia que há uma relação de mão dupla entre o aumento da popularidade de Bolsonaro e o crescimento do prestígio do presidente dentro do Congresso, em especial entre os parlamentares do chamado Centrão.
Mas, para ele, Bolsonaro conseguirá fazer a leitura adequada do cenário político para progredir com as pautas de seu interesse de modo a evitar derrotas dentro do Congresso. "O presidente é sagaz para saber se o momento é certo para determinados assuntos. Ele não abandonou as suas pautas que o levaram à vitória em 2018. Mas sabe que existe muita resistência para algumas delas. Então faz esses acenos ao Centrão, e aí começa a vislumbrar uma possibilidade maior de passar na íntegra alguns desses projetos", afirma Luiz Philippe.
O avanço na pauta de costumes que a base bolsonarista mais fiel quer ver implantada em curto prazo tem três principais focos: a ampliação ao acesso a armas, a regulamentação para o ensino domiciliar (o "homeschooling") e alterações no Código de Trânsito Brasileiro – a proposta sobre mudanças no trânsito inclusive está na fase final de tramitação no Congresso, podendo ser encerrada em votação nesta segunda (21) na Câmara.
Esses temas foram colocados como prioritários pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em entrevista à Folha de S. Paulo. Ele relatou ao jornal que tem empreendido conversas com as outras lideranças partidárias no Congresso para verificar a possibilidade de avanço das pautas.
Barros assumiu o posto de líder do governo em agosto, em substituição a Vitor Hugo (PSL-GO). A alteração, mais do que uma mudança de nomes, representou uma troca de perfis: Vitor Hugo está em seu primeiro mandato e é vinculado a uma linha mais ideológica, enquanto Barros é veterano de Congresso e um símbolo do Centrão, já tendo apoiado as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma e Temer.
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