O escritor e ideólogo Olavo de Carvalho fez novas críticas aos militares do governo de Jair Bolsonaro em vídeo divulgado no último fim de semana. O conteúdo foi reproduzido no canal de Bolsonaro no YouTube no sábado (20), republicado pelo filho Carlos Bolsonaro no domingo e, horas depois, deletado por ambos.
Em seis minutos de gravação, Olavo diz que considera Bolsonaro "um mártir" e criticou o núcleo militar do governo. "Qual a última contribuição das escolas militares à alta cultura nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então, foi só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada. Esse pessoal subiu ao poder, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas, daí os comunistas tomaram o poder. E eles vêm dizer: 'Nós livramos o Brasil do comunismo'. Não. Nós entregamos o país ao comunismo. Se tivessem vergonha na cara, confessariam o seu erro. Mas é só vaidade", afirma.
Olavo de Carvalho afirmou, ainda, que os militares precisam corrigir os próprios erros para depois tentar arrumar o dos outros. Em outro trecho do vídeo, diz que o discurso de que as Forças Armadas livraram o Brasil do comunismo é "conversa mole".
Mourão retruca Olavo de Carvalho
O vice-presidente Hamilton Mourão ironizou nesta segunda-feira (22) as críticas a militares feitas por Olavo de Carvalho. Em resposta à divulgação do vídeo, Mourão afirmou que Carvalho deveria se concentrar no exercício da "função de astrólogo" por ser a que ele "desempenha bem".
Segundo Mourão, Bolsonaro teria dito que não viu o vídeo e que ele deve ter sido publicado por outra pessoa. "Em relação ao Olavo de Carvalho, mostra o total desconhecimento dele de como funciona o ensino militar. Acho até bom a gente convidar ele para ir nas nossas escolas e conhecer. E acho que ele, Olavo de Carvalho, deve se limitar à função que ele desempenha bem, que é de astrólogo. Pode continuar a prever as coisas que ele é bom nisso", afirmou Mourão.
Questionado sobre se a série de ataques feitas pelo escritor aos militares gera um desconforto no governo, Mourão afirmou que o desconforto é apenas pessoal. "Olavo de Carvalho perdeu o timing e não sabe o que está acontecendo no Brasil, até porque ele mora nos Estados Unidos. Ele não está apoiando o governo e não está sendo bom para o governo", disse.
De acordo com o vice-presidente, ele não conversou mais profundamente com Bolsonaro ainda sobre o tema. "Até porque acho que ele prefere não dar maior repercussão ao que Olavo de Carvalho vem dizendo", afirmou.
Relembre outras críticas ao vice
Em março deste ano, Olavo de Carvalho chamou o vice-presidente Hamilton Mourão de "um cara idiota". "O presidente viaja [ao exterior] e qual a primeira coisa que ele faz? Viaja a São Paulo para um encontro político com João Doria [governador de São Paulo]. Esse cara não tem ideia do que é vice-presidência. Durante a viagem [de Bolsonaro], ele tem que ficar em Brasília", afirmou Olavo. Ele disse que Mourão, desde a posse, mudou de lado e é "pró-aborto, pró-desarmamento e pró-Nicolás Maduro".
Além das críticas de Olavo de Carvalho, Mourão também foi alvo de um pedido de impeachment formulado pelo vice-líder do governo no Congresso, o deputado federal Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP) – que dias antes havia visitado Olavo de Carvalho.
Santos Cruz
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, também foi alvo de Olavo. Em abril, o escritor afirmou que Santos Cruz nunca fez nada contra a "hegemonia comunopetista". "Nada, nada. Nunca. Ele ganhou seu emprego por meio de uma luta à qual não deu a menor contribuição. Esse homem não sabe de onde veio nem para onde vai", afirmou. .
Abandono
No início de março, Olavo de Carvalho fez uma publicação pedindo que seus alunos abandonassem o governo e teceu novas críticas aos militares. "O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles. Não quero ver meus alunos tendo suas vidas destruídas no esforço vão de ajudar militares acovardados cujo maior sonho é 'tucanizar' o governo para agradar à mídia."