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2022 é logo ali

Na flexão e na sucessão presidencial, Bolsonaro já escolheu principal adversário

Bolsonaro e Doria (de camisa branca) fazem flexão de braços em evento em São Paulo. (Foto: Reprodução/Vídeo da assessoria de Doria)

O governo ainda não completou seis meses, mas o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já está pensando nas eleições presidenciais de 2022. Na última quinta-feira (20), durante sua participação na Marcha para Jesus em São Paulo, Bolsonaro deixou claro que vai disputar a reeleição. E parece já ter identificado o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), como seu principal adversário na disputa.

O governador de São Paulo também não esconde a intenção de disputar a Presidência da República. Apesar de ter entrado na política apenas em 2016, quando disputou e venceu a eleição para a prefeitura de São Paulo, Doria já gostaria de ter disputado o comando do Palácio do Planalto no ano passado. Mas quem ficou com a vaga do PSDB na disputa pelo Planalto em 2018 foi Geraldo Alckmin. A Doria, "sobrou" a disputa pelo governo de São Paulo.

À frente das câmeras, Bolsonaro e Doria se apresentam como "melhores amigos". Foi o que ocorreu no último dia 19, quando os dois "disputaram" uma competição de flexão de braços durante evento no no Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro, na Zona Sul de São Paulo (Doria está de camisa branca na imagem abaixo). Mas, ao menos no caso do presidente, ele já vem dando alfinetadas no tucano e agindo para desgastar Doria.

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Movimentação para neutralizar tucano inclui até a Fórmula 1

Para tentar reduzir a força de Doria em 2022, Bolsonaro já começou a se movimentar. O próprio presidente mantém o clima de campanha nas ruas, desde que venceu a  disputa no ano passado. Além disso, o presidente trabalha para desgastar o governador de São Paulo.

Na segunda-feira (24), por exemplo, Bolsonaro deu entrevista no Palácio do Planalto ao lado do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) e do CEO da Fórmula 1, Chase Carey, afirmando que há “99% de chance da Fórmula 1 sair de São Paulo e ir para o Rio de Janeiro a partir de 2021.

"Nós não perderemos a Fórmula 1. O contrato vence no ano que vem com São Paulo e eles resolveram retornar a Fórmula 1 para o Rio de Janeiro. Obviamente, ou seria isso [a prova no Rio] ou seria isso a saída do Brasil. [...] Noventa e nove por cento de chance, ou mais, de termos a Fórmula 1 a partir de 2021 no Rio de Janeiro", declarou o presidente.

Logo após a fala de Bolsonaro, porém, o executivo da Fórmula 1 disse que não há nada definido e que as negociações com São Paulo continuam. O Rio de Janeiro sediou 10 grandes prêmios de Fórmula 1, o último em 1989.

Quando questionado se Doria ficaria “chateado” com a transferência do local das provas para o Rio de Janeiro, Bolsonaro disparou: "Olha, o que a imprensa diz é que ele será candidato a presidente em 2022. Então, ele tem que pensar no Brasil e não no seu estado. Tá ok? Com toda certeza ele não vai se opor".

A perda da Fórmula 1 para o Rio seria uma derrota para Doria com implicações na economia da capital paulista. A prova de automobilismo é o segundo principal evento da cidade em movimentação de dinheiro – perde apenas para a Parada Gay.

Outra bola nas costas de Doria foi o aviso de Bolsonaro de que não vai atuar para que os estados sejam incluídos na reforma da Previdência que será votada no Congresso. O governador de São Paulo é um dos principais apoiadores da inclusão dos estados.

A lógica do tucano é simples: se os estados forem incluídos na reforma, todo o ônus político fica com o Bolsonaro porque as regras federais vão valer automaticamente para estados. Se não forem incluídos, cada governador terá de propor à Assembleia Legislativa um projeto para mudar o regime de aposentadoria de seus servidores, o que naturalmente provocará desgaste.

Bolsonaro e Doria: um tem pressa e outro pode dar tiro pela culatra

“O Doria em si demonstra uma certa pressa, como ele já demonstrou quando foi da prefeitura para a governadoria do estado. Ele acha que pode repetir a mágica [ao tentar a Presidência]”, diz o cientista político da PUC-PR, Masimo Della Justina.

“Hoje [Doria] é o adversário mais forte [de Bolsonaro]. Vem de um partido estruturado. Vem de uma carreira política que é recente, mas é vitoriosa. De alguma maneira tem conseguido, inclusive, entrar em segmentos que apoiaram o Bolsonaro”, avalia o cientista político da FGV Marco Antônio Carvalho Teixeira.

Masimo Della Justina afirma que a estratégia de Bolsonaro de tentar desgastar Doria pode acabar se voltando contra ele. “Enquanto Bolsonaro briga pela F1 no Rio de Janeiro, ele não está pensando como presidente. Está jogando pelo eleitorado do Rio de Janeiro. Ele se apequena”, avalia o cientista político. O episódio também pode fazer com que Bolsonaro perca eleitorado em São Paulo, que é o maior colégio eleitoral do país.

Além disso, segundo Justina, a discussão política como pano de fundo para a sede da Fórmula 1 pode acabar abrindo espaço para uma terceira via para a campanha de 2022. “Se surgir terceira candidatura – qualquer que seja ela –, pode pegar a decepção do eleitor que não quer saber de briga regional, bravatas ou coisas que são passageiras.”

Discussão sobre Bolsonaro e Doria ainda é precoce

Os dois cientistas políticos concordam, no entanto, que a discussão sobre reeleição ainda é muito precoce e tende a atrapalhar mais do que ajudar.

“Para quem ainda nem começou o governo, para quem ainda não tem nenhum plano de governo, e cuja estratégia tem sido só distrair,  é mais uma distração que ele [Bolsonaro] está criando. E isso pode depor contra ele”, diz Justina.

“O grande problema de quem se lança muito antes é que vira vitrine muito cedo, vira presa fácil para os adversários. Eles [Bolsonaro e Doria] dependem muito de resultado de governo – principalmente o presidente da República, que está em uma situação  mais difícil, porque tem que apresentar resultados nacionais”, concorda Teixeira.

Objetivo pode ser mais imediato: a campanha de 2020

Para Justina, a estratégia de Bolsonaro pode ser mais imediata, visando às eleições municipais de 2020. Ao manter o clima de campanha nas ruas, presidente pode conseguir emplacar aliados nas eleições municipais para prefeituras e Câmaras de Vereadores.

“Pode ser jogada política para eleições municipais do ano que vem. Tem essa estratégia de arregimentar forças na base da esfera municipal”, avalia Justina.

Com mais prefeitos e vereadores aliados eleitos nos municípios, o presidente consegue mais cabos eleitorais para disputar a reeleição em 2022, afirma o cientista político.


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