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Operação da PF

Em entrevista à Record, Bolsonaro nega tentativa de golpe e fala em perseguição

Jair Bolsonaro (PL) concedeu entrevista à Record nesta sexta-feira (9). (Foto: Reprodução/Youtube Jornal da Record)

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Alvo da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal, o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), se defendeu das acusações em uma entrevista exclusiva concedida à Rede Record, na sexta-feira (9).

Durante a conversa, que durou cerca de 20 minutos, Bolsonaro falou sobre diferentes pontos da investigação e reclamou do que classifica como perseguição a ele e à direita. Veja abaixo um resumo das falas do ex-presidente:

Minutas de golpe

Bolsonaro negou que a suposta minuta que previa a decretação de um estado de sítio, encontrada pela PF no escritório dele na sede do PL em Brasília, fosse exatamente um rascunho de decreto. Segundo ele, tratava-se de alguns documentos que já faziam parte da investigação.

“Conversei com os advogados e buscamos saber como aqueles papéis estavam lá. No final da tarde, foi descoberto, comprovadamente: aqueles papéis eram peças de um processo que o advogado tinha conseguido junto ao ministro Alexandre de Moraes, que é o relator daquele inquérito. Então era peça de processo. Nada de novidade ali”, alegou o ex-presidente.

Sobre outro documento, aquela minuta de decreto que, segundo a PF, previa até a prisão de autoridades da República, como o ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro também negou ter tido conhecimento do texto.

“Ninguém botou na minha frente nenhum documento, pra decretar estado de sítio, de defesa, ou coisa qualquer”, afirmou.

Prisão de Valdemar Costa Neto

O ex-presidente Jair Bolsonaro comentou a detenção do presidente do partido dele, Valdemar Costa Neto. O líder do Partido Liberal não era alvo inicial de mandado de prisão, mas acabou sendo detido por estar com uma arma com problemas no registro (que pertenceria ao filho dele) e uma pepita de ouro em casa.

Bolsonaro reclamou do fato de não poder se comunicar com o presidente do próprio partido, segundo a decisão judicial. “Ele está preso. Mas, se não estivesse, eu não poderia falar com ele. É um absurdo essa aí. Eu, por exemplo, como uma pessoa que tem a sua importância dentro do partido, não poder conversar com o presidente”, declarou.

O ex-presidente ainda denunciou o que considera ser uma perseguição à direita no Brasil. Segundo ele, isso impactou as eleições de 2022.

“O que eu vejo: só páginas da direita serem derrubadas. Só gente da direita ser presa. Só gente da direita ser perseguida. Nunca ninguém da esquerda. Então há uma clara intenção por parte de certas autoridades de Brasília de perseguir a direita. Não há nenhuma dúvida no tocante a isso”.

Reunião de julho de 2022 e general Heleno

Bolsonaro disse que a reunião de julho de 2022, cujo vídeo foi tornado público por decisão do STF na sexta-feira (9), nem era para ter sido gravada. Ressaltou, no entanto, que não vê problemas na divulgação. “Se alguém tivesse pedido pra gravar eu autorizaria”, disse.

Em um dos trechos que chamaram a atenção no vídeo, o então ministro-chefe do GSI, general Augusto Heleno, fala sobre um trabalho da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de supostamente “montar um esquema para acompanhar o que os dois lados” da campanha eleitoral iriam fazer.

“Eu já conversei ontem com o Victor, novo diretor da Abin, nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer", declara Heleno, que ainda ressalta a importância de a informação “não vazar”.

Logo depois da fala de Heleno, durante a reunião, Bolsonaro pede para que o general interrompa o assunto e pede que os dois conversem particularmente sobre o tema. "General, eu peço que o senhor não fale por favor. Peço que o senhor não prossiga mais na sua observação, não prossiga na sua observação. Se a gente começar a falar “não vazar”, esquece. Pode vazar. Então a gente conversa particular na nossa sala sobre esse assunto", diz Bolsonaro no vídeo.

Sobre esse tema, Bolsonaro disse à Record: “É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma. Eu raramente usava as inteligências que nós temos, das Forças Armadas, a própria Abin, a Polícia Federal. Não vejo nada demais naquilo. E o Heleno queria se estender sobre o assunto e eu falei que não era o caso de ficar entrando em detalhes. Vai fazer uma operação, faça”, afirmou.

Golpe de estado e abolição do estado de direito

Bolsonaro rechaçou as citações do inquérito que o colocam como parte interessada em supostos crimes de golpe de estado e abolição violenta do estado democrático de direito.

Ao ser perguntado sobre o tema, o ex-presidente iniciou a resposta falando sobre o 8 de janeiro de 2023. Disse que não houve tentativa de golpe e sim uma “baderna”. Ele ainda repetiu a tese, sobre a qual já havia falado, de que os envolvidos caíram em uma “armadilha da esquerda”.

“Os movimentos que a direita fez, ao longo do meu mandato, era uma coisa fantástica, você não via uma lata de lixo quebrada, uma vidraça quebrada, um papel no chão. Pessoas extremamente educadas”, defendeu.

Bolsonaro ainda negou que tenha havido tentativa de golpe gestada durante a administração dele. “Nunca existiu uma tentativa de golpe no Brasil durante o meu governo. Eu discutia tudo com os meus ministros, sobre tudo o que acontecia. Exatamente para você se precaver.”

O ex-presidente ainda disse não acreditar que integrantes do governo dele tenham articulado para que tenha havido um golpe de estado. “Eu não acredito nisso. Vontade de fazer as coisas, indignação, sempre acontece. Agora você pode ver: até nessa reunião de ministros eu falei “vamos esperar, para ver o que acontece”. Eu até falo que ninguém vai querer botar tropa na rua, atirar, fazer nada de violento no tocante a isso”.

Reclamações contra o TSE

Em parte da entrevista, Bolsonaro voltou a reclamar de decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) desde a campanha eleitoral de 2022. Ele citou, por exemplo, a restrição ao uso de imagens de manifestações do 7 de setembro, a vedação das lives no Palácio da Alvorada e a proibição das imagens que mostravam o então candidato Lula (PT) ao lado de ditadores como Nicolás Maduro, da Venezuela, e Daniel Ortega, da Nicarágua.

Bolsonaro reclamou de uma campanha feita naquele ano pelo Tribunal para estimular os jovens de 16 anos a tirarem o título eleitoral. “Nós sabemos que os jovens de 16, 17 anos, uns 70% ou 80% votam na esquerda. E, nessa campanha, 4 milhões e pouco de jovens tiraram título de eleitor. Houve interferência ou não houve? Ou você não pode tocar nesse assunto, que é crime e, após a sua matéria ir ao ar, eu posso receber a visita da PF aqui?”, disse ao repórter.

Operações da PF e medo de prisão

Ao final da entrevista, Bolsonaro falou sobre como tem sido os dias na casa dele na Vila de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ), onde ele tem permanecido, e as operações da PF que o colocam no alvo.

“Você tem que ter uma estabilidade, não pode se apavorar. Eu sabia que ia ser perseguido. Não tanto, dessa forma”, disse ele.

Perguntado sobre o temor de ser preso, Bolsonaro respondeu ao repórter: “Até você pode ser preso hoje em dia. Não tem mais estado democrático de direito no Brasil. Não existe isso aí. Não existe”.

O ex-presidente disse ainda que a prisão de auxiliares dele por suposta tentativa de golpe de estado “não se sustenta” e fazem parte do que ele classificou como um caso de pesca probatória. “Toda hora chega, pega telefone de todo mundo (...) Então esses absurdos vêm acontecendo”, afirmou.

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