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O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta terça-feira (30) sua filiação ao Partido Liberal (PL), sigla pela qual irá concorrer à reeleição em 2022. Em discurso marcado por um tom conciliador com a política tradicional, Bolsonaro disse estar se sentindo "em casa" no PL e justificou a escolha do partido – uma das principais siglas do Centrão. O presidente também elogiou seu relacionamento com o Congresso.
Bolsonaro também reafirmou vários posicionamentos políticos que marcaram sua Presidência e que tendem a dar o tom de sua campanha de 2022: defendeu a liberdade (inclusive de imprensa e das redes sociais), destacou seus valores cristãos e patrióticos, afirmou que o Brasil resgatou seu patriotismo e disse que evitou que o socialismo fosse implantado no país. Foi um aceno à base mais ideológica do presidente – que, em 2018, era contrária a alianças com o que chamavam de "velha política".
Em seu discurso, o presidente afirmou que estava se sentindo em casa e alegou que a escolha do PL foi difícil. Bolsonaro lembrou que teve conversas com outras legendas, como o PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o Republicanos, do deputado Marcos Pereira (SP). Representantes desses outros partidos do Centrão estiveram presentes na filiação de Bolsonaro ao PL.
“Estou me sentindo em casa [no PL]. Estou me sentindo dentro do Congresso Nacional. Vocês me trazem lembranças agradáveis, de luta e de embate. Mas, acima de tudo, momentos que juntos fizemos muitos pelo Brasil. Eu vim do meio de vocês. Eu fiquei 28 anos como deputado. Existem muitas semelhanças entre nós. Confesso que a decisão [de filiação] não foi fácil. A filiação é um casamento; não seremos marido e mulher, serremos uma família”, disse Bolsonaro.
Sobre as eleições de 2022, Bolsonaro afirmou que pretende compor com todos que estejam dispostos a ajudar o Brasil. “Eu e o Valdemar [Costa Neto, presidente nacional do PL] não seremos as pessoas que vamos decidir tudo sozinhos. A nossa visão vai passar por vocês [os políticos de vários partidos, sobretudo do Centrão, que estavam na plateia]. Nós queremos compor e, com essa composição, fazer o melhor para o nosso Brasil. Pode ter certeza que nenhum partido será esquecido por nós. Queremos compor nos estados, compor para senador, governador”, disse.
O presidente afirmou ainda que todos que compõe o governo são importantes e que nesses quase quatro anos de gestão foi possível recuperar o patriotismo dos brasileiros e livrar o Brasil do socialismo. “Todos são importantes para nós. Somos privilegiados, pois somos pessoas que podemos decidir o futuro de Brasil. Quando se viaja por esse país fantástico. Nós tiramos o Brasil da esquerda. Recuperamos o sentimento de patriotismo nos brasileiros e hoje as bandeiras verde e amarela são maioria entre as bandeiras vermelhas”, completou o presidente. Também disse que foi seu grupo político que resgatou a valorização de três princípios morais da sociedade brasileira: "Deus, pátria e família".
Sem citar o Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro afirmou que na Praça dos Três Poderes “alguns extrapolam os poderes” e afirmou que é preciso “zelar pela liberdade”. “Temos um bem que está na nossa frente e não podemos desprezá-lo e não podemos achar que ele não vai acabar nunca. É um bem que devemos sempre zelar por ele que é a nossa liberdade. Alguns extrapolam aqui na região na Praça dos Três Poderes, mas a pessoa vai se enquadrando e vendo que a maioria somos nós”, disse.
Além disso, Bolsonaro fez um aceno para a imprensa, alegando que nunca irá propor qualquer tipo de regulamentação da mídia. Mas, além de citar a imprensa, também falou em lutar pela liberdade das redes sociais – algo que Bolsonaro costuma fazer. “Jamais da minha parte qualquer proposta para regular a mídia”, disse. A fala ocorre dias depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter afirmado que seria necessário regular as redes sociais e a mídia.
Presidente nacional do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, afirmou que o partido conquistou um lugar de destaque com a filiação de Bolsonaro. “Com muito trabalho, conquistamos uma posição de destaque entre os grandes partidos da política nacional. Sabemos que vivemos um dia depois do outro e desde sempre sabíamos que faltava um nome que representasse o nosso projeto para o Brasil. É nesse momento que o PL recebe uma grande liderança como o presidente Bolsonaro”, disse o presidente do PL.
Outra lideranças ligadas a Bolsonaro também se filiaram ao PL
O evento ocorreu em Brasília na data em que a capital celebra o Dia do Evangélico; e a cerimônia contou com a presença de diversas lideranças religiosas que apoiam o governo federal. Antes de Bolsonaro começar a falar, por sinal, o presidente pediu para o deputado Marcos Feliciano (PL-SP), que é pastor evangélico, para fazer uma oração.
Além de Bolsonaro, assinaram a filiação ao partido o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. A expectativa agora é de que parte dos 54 deputados que hoje estão no PSL também migrem para a legenda, no entanto, isso só deve ocorrer durante a janela partidária que será aberta em maio de 2022.
Parte dessa bancada esteve presente no evento de filiação, entre eles os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Major Vitor Hugo (PSL-GO), Bia Kicis (PSL-DF), entre outros. A cerimônia de filiação também teve a presença de integrantes do alto escalão do governo, como os ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Damares Alves (Mulher e Direitos Humanos), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Tereza Cristina (Agricultura).
Também prestigiaram a filiação lideranças de outros partidos, especialmente do PP: o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PR); e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). O PP tende a indicar o vice na chapa de reeleição de Bolsonaro.
O deputado Ricardo Barros afirmou que a composição de reeleição do presidente Bolsonaro será formada pelo trio de partidos: PL, Progressistas (PP) e o Republicanos. As siglas compõem o núcleo duro do Centrão, base de sustentação do Palácio do Planalto no Congresso.
“O presidente escolhe o Partido Liberal e nós temos um tripé de apoio: de republicanos, progressistas e liberais, além de outros partidos que vão estar com o presidente Bolsonaro. A partir de hoje começamos a costura de alianças regionais, uma vez que está decidida a filiação do presidente Bolsonaro. Vai ser um esforço de conciliação para fortalecer os palanques regionais e para que o presidente Bolsonaro possa ter uma reeleição tranquila”, disse Barros.
De acordo com o deputado, existe um acordo para que a filiação dos demais aliados do Planalto sejam distribuídas entre os três partidos do Centrão. “As negociações em cada estado vão evoluir agora a partir desta decisão do presidente e da filiação das pessoas próximas ao presidente, que escolherão entre o Partido Liberal, o Progressistas e o Republicanos. Teremos ministros em todos esses partidos para mostrar a força dessa aliança de três partidos e mais outros que virão”, disse Barros.
Também presente no evento, o líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que agora o presidente tem um problema a menos. “Agora temos um número né?”, disse o emedebista ao chegar no evento, referindo ao número do PL (22), que é o que terá de ser digitado na urna eletrônica para escolher o atual presidente em 2022. O partido de Eduardo Gomes vai oficializar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) no próximo dia 8 de dezembro. O MDB, no entanto, não conta com unanimidade sobre o nome dela; e parte do partido tende a apoiar outros nomes – como Bolsonaro e Lula.
Indiretas para Sergio Moro
O evento de filiação de Bolsonaro contou com a presença de cerca de 300 pessoas e ocorreu em um centro de eventos menor que o de outros possíveis adversários como o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo aliados do Planalto, a ideia era se contrastar com a “cerimônia de luxo de Moro”.
Durante o evento, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que, por ele e por Valdemar Costa Neto (presidente do PL), o evento “seria no Maracanã”. Mas a escolha pelo local foi do próprio presidente Bolsonaro. Sem citar nominalmente o ex-ministro Sergio Moro, o senador afirmou que “a política pode até perdoar a traição, mas não se perdoa o traidor”.
Aliados do governo classificam o episódio da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça como uma traição. O agora pré-candidato à Presidência pelo Podemos deixou a pasta acusando o presidente Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.
“Traidor é aquele que expõe publicamente uma pessoa pensando no poder porque o convidou para ser o seu padrinho de casamento”, disse.
De acordo com o senador, existia uma orientação (supostamente de Moro) para dificultar a aquisição de armas de fogo pela população, sendo que essa era uma das bandeiras do presidente Bolsonaro. "Num governo conservador, havia uma orientação superior para que dificultasse a aquisição de armas de fogo para que as pessoas exercessem o direito à legítima defesa, no governo de um presidente que foi eleito com essa bandeira. Traidor é aquele que não tomou as providências para descobrir quem mandou matar Bolsonaro", completou Flávio Bolsonaro.
Filiação de Bolsonaro ao PL abre caminho para a construção de candidaturas
Além da articulação da candidatura à reeleição de Bolsonaro, a filiação do presidente ao PL vai pavimentar a candidatura de aliados aos governos estaduais e ao Senado. Uma das exigências de Bolsonaro é indicar os nomes de candidatos ao Senado em todos os estados na disputa do ano que vem.
Até então o presidente vinha sendo pressionado por aliados para que a escolha de seu partido fosse feita ainda em 2021, para que eles tivessem tempo de construírem suas alianças e palanques regionais. Além do PL, Bolsonaro deve contar com o apoio do PP, presidido pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do Republicanos, ligado à igreja Universal do Reino de Deus. O trio compõe o núcleo duro do Centrão, base de sustentação do governo no Congresso.
A expectativa é de que as filiações de aliados bolsonaristas sejam divididas entre os três partidos. A ideia, segundo aliados do Planalto, é que a construção dos palanques e as candidaturas a deputados federais e estaduais passem necessariamente pelas negociações conjuntas dos três principais partidos. A deputada Alê Silva (PSL-MG), por exemplo, deve ir para o Republicanos, enquanto a ministra Tereza Cristina tende a se filiar no PP.
Na Bahia, por exemplo, o ministro da Cidadania, João Roma, pretende disputar o governo pelo Republicanos com apoio do Palácio do Planalto. Na Paraíba, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pretende disputar uma cadeira do Senado, mas ainda não houve acordo para onde irá sua filiação.
No Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, pretende disputar o governo estadual e já encaminha sua filiação ao PL. A candidatura, no entanto, depende de uma composição com o senador Luiz Carlos Heinze, que é pré-candidato pelo PP. Lideranças dos dois partidos admitem que um acordo terá que ser construído nos próximos meses para que não haja uma divisão do grupo no estado.