De volta ao Brasil após 89 dias de viagem aos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, na manhã desta quinta (30), que não há materialidade para que fique inelegível por conta dos processos de que é alvo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A declaração foi dada logo após uma reunião realizada com membros do Partido Liberal em Brasília, onde se reuniu pouco depois de chegar ao país. Segundo o ex-presidente, a ação mais forte contra ele é a reunião que realizou com embaixadores no ano passado. A Procuradoria-Geral da República (PGR) vem pedindo o arquivamento de outros processos em ele que é citado, como os relativos à CPI da Covid-19.
“A questão do TSE, o advogado do partido está tratando desse assunto. Não vejo materialidade em nada. A ação mais forte foi a reunião que fiz com embaixadores, em meados do ano passado. Não vejo porque. A política para tratar com embaixadores é privativa minha, não vejo motivo para querer me julgar inelegível”, disse em entrevista à Jovem Pan.
Ainda durante a entrevista, o ex-presidente classificou os acampamentos em frente aos quartéis logo após a eleição presidencial do ano passado como um “movimento espontâneo da população”, mas condenou a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.
Segundo Bolsonaro, a “CPMI vai botar em pratos limpos e mostrar quem estava errado ou não”, mencionando que o governo tinha as assinaturas necessárias para a abertura da comissão dias após os atos, mas que começou uma cruzada para tentar retira-las do requerimento.
“O que o governo tem a temer? Tem o documento ou não tem? O documento é da Abin [Agência Brasileira de Inteligência] ou é da Polícia Federal? A PRF acompanhou, no começo de janeiro, as movimentações pelo Brasil ou não”, questionou.
De acordo com ele, algo aconteceu para que a companhia de segurança que fica de prontidão 24 horas por dia no Palácio do Planalto não agisse no momento da invasão. “A porta da Presidência pela rampa, quantas vezes eu quis sair ali para cumprimentar o povo, e levava cinco, dez minutos para acharem a chave. Os caras não quebraram a porta”, disse.
Aos parlamentares presentes na sede do PL, Bolsonaro também questionou o projeto de lei que o governo quer propor ao Congresso para regular a atuação das plataformas de redes sociais, na esteira dos atos de 8 de janeiro. Crítico à medida, o ex-presidente disse que “a mídia social você controla dando mais liberdade, a liberdade não tem preço”.
“Agora vem o governo querer controlar as fakes news. O que é fake news? Quem é que vão ser as pessoas que vão dizer se isso é mentira ou não é”, questionou.
Oposição ao atual governo
Um pouco mais cedo, Bolsonaro disse a correligionários e aliados que vai receber no PL líderes, parlamentares e demais políticos com o objetivo, entre outros, de fazer o partido e aliados conquistarem mais da metade das prefeituras do país nas eleições municipais de 2024.
Ele afirma que seu trabalho no partido será de dar sugestões às lideranças “na condição de uma pessoa mais velha, experiente, que vai fazer expediente no partido, servir de consulta para quem assim o desejar” para o trabalho no Legislativo.
“Nós não somos oposição, somos pró-Brasil. Queremos que o Brasil realmente vá para frente. Não queremos que o Brasil afunde para aparecermos como salvadores da pátria. Há uma preocupação muito grande com o destino do nosso país, em especial às questões da economia”, completou.
Bolsonaro disparou que o atual governo não vai "fazer o que bem quer [com] o futuro da nossa nação. Nós somos praticamente 20% das bancadas, além de outros colegas nossos e de vários outros partidos, somos a maioria dentro do Congresso. Nós queremos o melhor para o nosso país. Tenho certeza que vocês conduzirão o Brasil para um porto seguro", disse emendando que está “empolgado com esse novo parlamento que surgiu aí, com esses interesses de desenvolver o nosso país, e não continuarmos sendo apenas fornecedores de matérias-primas para o mundo”.
Sucessão presidencial
Jair Bolsonaro também foi questionado se poderia concorrer de novo à Presidência da República ou quem indicaria para a sucessão presidencial. Ele mencionou ter “15 deputados” ao redor dele durante a entrevista à Jovem Pan, e foi ovacionado como o candidato à disputa.
O ex-presidente ainda descartou a possibilidade da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro concorrer ao Palácio do Planalto, dizendo que “alguém lançou o nome dela”, mas que ela não quer saber do cargo. “Ela é uma pessoa que não tem essa vivência política”.
“Eu tive dificuldade para ser presidente mesmo com 28 anos de deputado federal. Para o Executivo ela não deseja não. Eu não vou proibi-la [de se candidatar], mas ela já adiantou para mim [que não quer]”, afirmou.
O ex-presidente também descartou a possibilidade de indicar o filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para concorrer à prefeitura de São Paulo na próxima eleição municipal, afirmando que ele ainda não tem experiência em um cargo no Poder Executivo. Mas, sinalizou que poderia apoiar seu ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP) na corrida ao Edifício Matarazzo.
No começo da semana, o ideólogo Steve Bannon disse que vê potencial no filho 03 como um futuro presidente do Brasil. "Será o presidente", disse em uma entrevista em que acredita que o próprio Bolsonaro será "reeleito presidente" em 2026.
Inquérito sobre as joias
Outro tema abordado por Bolsonaro logo nas primeiras horas em solo brasileiro foi a questão das joias que teria recebido de presente do governo da Arábia Saudita, em que teve o depoimento marcado para a próxima quarta (5) à Polícia Federal.
Bolsonaro reiterou que não tem nada a esconder e que a reportagem do jornal O Estado de São Paulo só descobriu a existência delas porque foram devidamente “cadastradas e documentadas”.
“Se não tivessem documentadas, não teriam achado. É muito simples”, disparou.
De acordo com ele, o conjunto que seria entregue a Michelle, das joias avaliadas em R$ 16 milhões, foi “via ofício, não foi na mão grande”. O outro conjunto de joias masculinas, diz, foi entregue à Caixa Econômica Federal para a guarda na semana passada, além de um fuzil e uma pistola dados de presente também pelo governo saudita, encaminhado à Polícia Federal.
Já o terceiro conjunto de presentes revelado nesta semana também está pronto para ser entregue. “Não tem do que me acusar”, completou.
O ex-presidente ainda justificou os presentes dados pelos árabes afirmando que eles são “muito bem sucedidos” além de apenas petróleo, como comércio e tecnologia, e que eles “procuram agradar as pessoas”. Disse, ainda, que isso é graças ao bom relacionamento que tem com o governo saudita.
Bolsonaro diz que faltou segurança ao chegar no Brasil
Em uma reunião reservada com correligionários e aliados, Bolsonaro criticou a falta de um carro blindado na recepção no aeroporto, que teria sido retirado pela Casa Civil do governo. Ele disse, ainda, que, na eleição de 2018, tinha 40 agentes da Polícia Federal disponíveis, o que agora não ocorreu.
“A gente vê essa questão do PCC planejando [atos criminosos], a gente fica preocupado. Eu não tenho peito de aço. Eu vou tentar buscar um carro blindado pra mim. Agora, não é uma atitude racional por parte desse governo que tá aí. Eu nunca persegui ex-presidente nenhum comigo. Tudo o que foi pedido, nós concedemos. Agora, comigo, pela volta anunciam que não tem mais carro blindado. Tão dando recado, eu só posso entender isso aí”, disse.
A Polícia Federal disse, à Gazeta do Povo, que não se pronuncia sobre “declarações feitas por outras pessoas”.
Já a Casa Civil informou à reportagem que "nenhum ex-presidente tem direito a utilização de carro blindado", segundo estabelece a Lei no 7.474/1986 (veja na íntegra).
“Os ex-presidentes têm direito a dois veículos oficiais e os respectivos motoristas. Nenhum ex-presidente utiliza veículos blindados cedidos pela Presidência da República. Reforçamos que os dois veículos oficiais foram disponibilizados e estão sendo utilizados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro”, completou.
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