O presidente Jair Bolsonaro| Foto: Alan Santos/PR
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Durante seu discurso de posse, em janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro prometeu unir o povo, valorizar a família, as tradições e revigorar a democracia, acabando com o chamado "toma lá dá cá". Bolsonaro disse que iria “restaurar e reerguer nossa pátria, libertando-a definitivamente da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”.

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A citação mostrava que a chamada “ala ideológica” ou “olavista” (dos seguidores do escritor Olavo de Carvalho) daria a tônica no governo. No início, aconselhado por Olavo de Carvalho, Bolsonaro até implementou uma divisão de ministérios com base em nomes técnicos, o chamado “ministério dos notáveis” como ele apregoou durante a campanha, incentivado pela onda da “nova política”.

Porém, integrantes do governo admitem que os conflitos gerados com os políticos tradicionais e a ameaça de incipientes movimentos de impeachment obrigaram Bolsonaro a mudar de rota. A partir de abril de 2020, o presidente aproximou-se da política tradicional e fortaleceu a ala militar. A chamada ala ideológica perdeu força e hoje não tem a mesma proeminência que tinha no primeiro ano de governo

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Em relação ao início do mandato, os militares avançaram sobre os ministérios da Saúde, Educação, Secretaria-Geral e Casa Civil. Os olavistas perderam o Ministério da Educação e tem sido escanteados do Palácio do Planalto. Já a ala política tem no ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, o seu maior representante. A ponto de Marinho ter uma avaliação interna melhor que a do ministro da Economia, Paulo Guedes.

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MEC: a maior perda para a ala ideológica

O maior exemplo da perda de influência da chamada “ala ideológica” do governo está no Ministério da Educação (MEC). Desde o início do mandato de Bolsonaro, o MEC era visto como um oásis dos olavistas. Primeiro com o ministro Ricardo Vélez Rodríguez; depois com Abraham Weintraub. Este último, inclusive, foi apontado por militares como o responsável por várias crises desnecessárias dentro do governo.

Depois da pressão do Centrão e até mesmo de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro "rifou" Weintraub e pôs Milton Ribeiro no MEC. Pastor evangélico e conservador, Ribeiro foi indicado dentro da cota dos militares.

Com a saída de Weintraub, a ala olavista também perdeu a Secretaria de Educação Básica (SEB), então comandada por Ilona Becskehazy, também tida como uma pessoa com o mesmo perfil de Weintraub. Além disso, Ribeiro também exonerou, assim que chegou, os assessores especiais Auro Hadana Tanaka, Eduardo André de Brito Celino, Sérgio Santana e Victor Sarfatis Metta – todos alinhados à ala ideológica do governo.

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Além disso, o governo federal destinou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a parlamentares do Centrão, como Valdemar Costa Neto (PL) e o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira. O presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, é ex-chefe de gabinete de Nogueira. O órgão hoje tem orçamento de R$ 55 bilhões anuais.

Até mesmo no Ministério das Relações Exteriores (MRE), comandado por Ernesto Araújo, houve um enfraquecimento da chamada ala ideológica do governo. Apesar de sua proximidade com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, a situação de Ernesto é vista como delicada dentro do governo. Os recentes embates com a China, criticados internamente por ministros como a da Agricultura, Tereza Cristina, enfraqueceram Araújo e hoje seu cargo é cobiçado por partidos do Centrão.

A expectativa é que durante a reforma ministerial, o Centrão avance também sobre o Ministério do Turismo e Ministério da Cidadania, duas pastas hoje da cota pessoal de Bolsonaro; além disso, o Centrão também cobiça a criação do Ministério do Esporte.

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Com lealdade e resultados, militares ganham espaço no governo Bolsonaro

Um dos principais fatores que fizeram Bolsonaro enfraquecer a ala ideológica diz respeito à falta de resultados. O presidente entendeu que o excesso de conflitos de seus auxiliares olavistas mantinha sua militância ativa. Porém, auxiliares palacianos alegam que essa postura trouxe estragos na relação de Bolsonaro com os demais poderes, principalmente com o STF.

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Desde o início do governo, os integrantes da chamada ala militar vem atuando como bombeiros em meio à sucessão de crises. Justamente por essa razão, aliado à forma leal com a qual tratam o presidente, os militares vêm ganhando cada vez mais espaço dentro da Esplanada dos Ministérios.

Hoje, dados do Tribunal de Contas da União (TCU) mostram que 6,1 mil militares da ativa ocupam cargos civis dentro do governo Bolsonaro. O número é mais que o dobro da quantidade de militares em cargos civis durante o governo Michel Temer. Até 2018, Temer tinha 2,7 mil militares sob sua alçada.

De acordo com os dados do TCU, 2,6 mil militares (43% do total) hoje ocupam cargos comissionados. Hoje, dos 26 ministros, 11 são militares ou tiveram origem militar. Ou seja, em torno de 40% dos ministérios são comandados pela chamada “ala militar” do governo.

Na lista dos ministérios comandados por militares estão a Casa Civil, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Secretaria de Governo, a Secretaria-Geral, a Defesa, a Ciência e Tecnologia, Minas e Energia, Saúde, Controladoria-Geral da União (CGU), Infraestrutura e até a Educação (Milton Ribeiro atuou como 2.º tenente do Exército).

Entre os militares do governo, o ministro da Secretaria-Geral de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, é tido como responsável por esse ponto de inflexão do presidente, a partir de maio. Criticado pela ala olavista, mas aclamado pela ala política, Ramos conseguiu “domar o presidente”, nas palavras de um importante assessor palaciano, e garantiu a Bolsonaro uma governabilidade até então inédita na atual gestão.

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Inflexão com o Centrão trouxe uma base, mas também desgastes com eleitores

Por meio de Luiz Eduardo Ramos, Bolsonaro já consegue contar com os votos de partidos como o PP, PTB, PSD, PL, Solidariedade, Pros, PSL e Avante. Na Câmara, esse bloco parlamentar garante o presidente aproximadamente 200 votos. Somados a outros deputados pulverizados em outros partidos como DEM, MDB, Republicanos e Patriota, o presidente tem em torno de 230 votos na Câmara – margem mais do que suficiente para se livrar de qualquer processo de impeachment. Além disso, essa é uma base parlamentar importante para fazer avançar propostas de caráter legislativo apresentadas ao Palácio do Planalto.

A mudança começou a ser articulada em abril e teve seu desfecho em maio, quando Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão e hoje candidato do governo à presidência da Câmara, aproximou-se do presidente da República.

Essa aproximação com o Centrão, por sua vez, fez com que Bolsonaro passasse a ser criticado por seus eleitores por se entregar ao chamado “toma lá dá cá”.

O presidente e seus aliados, porém, se defendem. “Não acho que Bolsonaro mudou de postura. Ele tem construído uma base e uma base consistente”, diz o deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS). “Eu tenho que conversar com o Parlamento. E nunca estivemos tão bem com a Câmara e com o Senado. Somos independentes. Agora estamos cada vez mais harmônicos. E isso incomoda as pessoas”, defendeu-se o presidente no início de dezembro.